:::::::::::::::::::::LUÍS COSTA::::::::::::
ÉDIPO

Quando os ramos secos como rabos-de-gato
Se contorcem sob as trovoadas do Verão
Sob os eclipses das estacas
Quando os cereais se querem empinar
Relinchando, reclinando-se
Sob o dilúvio dos ventos do Saara
Sob os seus dentes sanguinários,
Os teus braços feridos de ânsias buscam o azul
Do cosmos, aquela auréola de infinito
Que arde dentro de ti.

Queres acreditar, mas o teu fardo, másculo de
Máscaras, não te deixa acreditar...
A pureza inicial deixou de existir. Os templos foram
Conspurcados. Os anjos, que tão bem conhecias,
Desapareceram nos limbos dos teus buracos
Negros.
Onde irás parar?
Porque rastejas, manhoso, como a solidão?
Que é feito da tua juba?
Que é feito da velha aliança?

Descobriste que a vida é tempo, não é verdade?
E agora sabes que ela te foge
, Avara,
Areia por entre os dedos,
Pó no vento,
Sabes
Que por mais que mordas os lábios,
Que por mais que cerres os dentes
Não a consegues agarrar,
Possui-la como,
Por vezes,
Se possui o corpo do amor,
O seu relâmpago de carne,
O seu sangue,
Plasma no qual o passado, o futuro e o presente
Deixam de existir.

 

Esquecer... Esquecer o que és, essa, acreditas tu, é a tua mais

Alta virtude.

 

Agarrado ao leme dos teus botões,

Montas as tuas tendas

E povoas o espaço em honra do TER.

E sonhas - ó grande sonhador! –

Sonhas-te rei, sonhas-te imperador,

Crês na infalibilidade da técnica das tuas mãos,

Feridas já,

Cheias de chagas já,

Mas fortes ainda,

Furiosas de poder...

Mas lá no fundo, melancólicas,

Ávidas de infinito.

 

Ah! Soubesses tu cantar como aquele melro, ali, em

Cima daquela chaminé, ou saltar como um felino,

Cortando as searas do ocaso!

Então sim, então sim, meu amigo, farias parte do infinito.