:::::::::::::::::::::LUÍS COSTA::::::::::::
A QUEDA DE ALBERTO CAEIRO

Tarde serena numa manhã de V’rão.

Macias, as águas correm.

Pios de graciosidade no interior da floresta.

 

Sentado junto a este ribeiro, relembro

As horas antigas. Ah doces tempos

Em que os deuses ainda andavam pela terra!

Como tudo era plácido!

 

Passava os dias guardando rebanhos.

O meu olhar lembrava o cristal.

- uma flor era só uma flor, um seixo era

só um seixo, nada mais.

 

No entanto,

Os anos passaram e as cãs embranqueceram.

O cajado caiu-me das mãos, trementes.

Os rebanhos, esses tresmalharam-se.

Os meus olhos azuis como o azul do arco-celeste

Perderam a lucidez – comecei a ver tudo

Com a alma.

 

Agora,

que perdi os meus rebanhos

que manchei a pureza das coisas

que me traí a mim mesmo,

Pergunto-me: Valeu a pena?

 

O meu velho amigo Fernando , esse diria

Que sim, que “ tudo vale a pena se a alma não for pequena “

Mas será assim?