CARLOS MACHADO ACABADO

QUEM ÉS TU?
Um filme de João Botelho
baseado no “Frei Luís de Sousa” de Almeida Garrett

auditório municipal almeida faria

INDEX

Introdução

O “Frei Luís de Sousa” de Garrett: proposta de “leituração” pessoal 

“Quem És Tu?”—o filme

Sugestões adicionais de (meta?) leitura do texto de Garrett

Introdução

As palavras de Garrett na célebre “Memória” lida em conferência no Conservatório Real de Lisboa em 6 de Maio de 1843 e que começámos por citar em epígrafe poderiam mutatis mutandis {“o cinema é a imagem, etc. etc.” e de modo muito particular na parte em que se fala de “influir sobre uma sociedade [sob incontáveis aspectos, hoje como ontem, confrangedoramente abúlica, amorfa e] indefinida”}; ter sido proferidas por João Botelho, o realizador desta (vá-se já adiantando: cuidada, originalíssima—e porque não?— em diversos momentos, verdadeiramente empolgante) re/visão do “Frei Luís de Sousa” de Garrett que é “Quem És Tu?.

É preciso talvez dizer, para começar, que ela, a versão em causa da tragédia garrettiana, opera, com efeito, entre diversas outras coisas, claramente, como a expressiva corroboração de um princípio genérico de natureza (chamemos-lhe: teórica) que consideramos essencial, do ponto de vista das tais relações ideais entre o individuo e a cultura ou entre o individuo e a sociedade que Garrett aborda na epígrafe, princípio que, pela relevância de que julgamos revestir-se, aqui temos convictamente vindo a defender, sessão após sessão, do nosso “Cine-clube na Biblioteca”; princípio esse a que chamámos da “educada transgressão” ou (aliterando um pouco) da “disciplinada, dialéctica, desejável desobediência segundo o qual, obra cuja sucessiva apropriação ouleituração pelos diversos públicos que com ela se forem cruzando ao longo do tempo e mesmo do espaço em que a sua vigência durar que não se saiba prestar utilmente a sucessivas (e, lá está: “educadas”, consequentes, articuladas) des-construções e contínuas re-construções; obra que, numa palavra, não se disponha, mais ou menos, livre e naturalmente, a dialogar de modo activo e sempre consciente com todos os tempos através do diálogo vivo com o seu próprio tempo carece, no fundo, inevitavelmente sempre de algum sentido cultural e está condenada a ficar, de um modo ou de outro, sempre fatalmente refém de um único tempo—senão (o que ainda é pior!) de uma única visão do mundo ou de um único pensar.         
Carlos Machado Acabado (n. 1945), lic. em Filologia Germânica. Professor efectivo do ensino secundário (apos.). Ensaísta ("Seara Nova", "O Professor", "Jornal da Educação", etc.), artista plástico (presente em diversas exposições: Bienal de Artes Plásticas da Festa do "Avante", exposições individuais, colectivas, etc.). Tradutor.