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FLORIANO MARTINS
Por onde cai a linguagem
Por donde cae el lenguaje
Traducción de Marta Spagnuolo

[ SEGUNDA QUEDA ] - [SEGUNDA CAÍDA]

Difícil recuperar o morto

após uma noite de ausência

do enunciado do crime.

 

Melhor não deixá-lo a sós,

a ruminar seus motivos,

quem sabe ocultando pistas.

 

Há mortos que não se querem

lembrados ou explicados.

Corpos cúmplices da morte,

 

aos poucos se acumulam

como um legado da dúvida,

o que leva o ser a deixar-se.

 

E mortos assim escondem

detalhes preciosos da vida.

Chegam a se passar por outros.

 

A quem deles cuida cabe

não tirar o olho um momento,

pois se disfarçam em tudo.

 

Já vi mortos se unindo

em uma sucessão de crimes

quando não passava de um só.

 

Difícil recuperar el muerto

después de ausentarse una noche

del escenario del crimen.

 

Mejor no dejarlo a solas,

rumiando sus motivos,

quizá hasta ocultando pistas.

 

Hay muertos que no se quieren

recordados o explicados.

Cuerpos cómplices de la muerte,

 

poco a poco se acumulan

como un legado de la duda,

que empuja al ser a dejarse.

 

Y muertos así esconden

detalles preciosos de la vida.

Llegan a hacerse pasar por otros.

 

A quien los cuida conviene

no quitarles el ojo un momento,

pues se disfrazan de todo.

 

Ya vi muertos uniéndose

en una sucesión de crímenes,

cuando sólo había uno.

 

[SEGUNDA CAÍDA]