NATURAL?! O QUE É ISSO?
ABERTO O COLÓQUIO
De 2.11.2003 a 21.05 2004
INICIATIVA DO PROJECTO LUSO-ESPANHOL
"NATURALISMO E CONHECIMENTO
DA HERPETOLOGIA INSULAR"
Subsidiado pelo CSIC (Madrid) e ICCTI (Lisboa)


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Sobre espécies endémicas
e outras introduzidas nos Açores (5)
LUÍS M. ARRUDA
Jardins e introdução de espécies botânicas

No seguimento do interesse pelos estudos botânicos, no século XIX foram instalados, nos Açores, alguns jardins graças ao empenhamento de individualidades que também pretendiam dotar as suas casas de um aspecto grandioso e até cosmopolita.

Na cidade da Horta, na residência Bagatelle, encontra-se o que sobra do jardim e da quinta que John Dabney construiu entre 1811 e 1814. Nesta propriedade foram ensaiadas e cultivadas espécies agrícolas, hortícolas, frutícolas e ornamentais, podendo esta actividade ser encarada como uma das primeiras manifestações, nos Açores, do interesse pela introdução, pela permuta e pelo negócio das plantas. A actividade comercial dos Dabney estendeu-se à rua que hoje tem o seu nome e na propriedade denominada Fredonia e naquela outra The Cedars, foram introduzidos exemplares botânicos ornamentais, muitos deles ainda existentes. A introdução de espécies botânicas nessa área geográfica continuou com a instalação das companhias concessionárias da exploração dos cabos submarinos, particularmente de bairros residenciais, que ainda hoje marcam a paisagem na cidade da Horta.

Assim, considerando a existência de um jardim e de uma quinta na Bagatelle, o ensaio e a cultura de espécies botânicas podem ser encarados como uma das primeiras manifestações, nos Açores, do interesse pela introdução, pela permuta e pelo negócio das plantas.

Posteriormente, em São Miguel também foram ensaiadas culturas, criados jardins particulares e florestadas enormes áreas de terreno graças ao gosto pelas plantas e ao conhecimento botânico a que estavam ligados alguns proprietários fundiários (Albergaria, 1993). A comunidade científica internacional conhecia esses jardins e elogiava-os. Barrois (1896), Godman (1870) e Thomson (1877) referem-se, isoladamente ou em conjunto, aos de José do Canto (1820-1898), de José Jácome Correia (1816-1886) e de António Borges (A. B. da Câmara Medeiros) (1812-1879), como sendo locais onde se encontravam das plantas mais belas e das mais raras dos cinco continentes. Segundo Albergaria (1993), o primeiro era considerado como jardim botânico a denotar um espírito científico, o segundo como um jardim inglês e o terceiro como um jardim pitoresco.

Na sequência do Jardim de Aclimatação de Puerto Cruz (1788-1808), nas ilhas Canárias, os Açores foram olhados como tendo possibilidade de abrigar jardins botânicos experimentais. E embora a criação de um jardim de aclimatação, com características científicas, nunca tivesse sido levada a cabo nos Açores, a verdade é que a paixão pelas plantas exóticas, com preferência pelas espécies tropicais e intertropicais, evidência-se desde muito cedo no jardinamento das quintas de laranja e não mais seria abandonada pelos novos encomendadores dos jardins da Regeneração (Albergaria, 1996).

Mais, o protagonismo açoriano envolveu também a propagação das espécies, um indiciador de conhecimentos botânicos apropriados. Durante as últimas décadas de oitocentos, os proprietários dos jardins de S. Miguel participaram nos circuitos internacionais de permuta de plantas, enviando espécies endémicas, para enriquecimento de colecções botânicas, e exemplares de flora exótica, entretanto aclimatados a latitudes temperadas, e recebendo inúmeros exemplares de outras exóticas.

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