O CARBONARISMO
ITALIANO
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PIERRE-JOSEPH BRIOT

Este advogado do Franco-Condado, nascido em 1771, foi um personagem político importante. Foi Maçom nas Lojas de Besançon, mas também Bom Primo Carbonário do rito de Alexandre do Segredo, muito difundido no leste da França, do Jura até a Floresta Negra. Impregnado dos valores da Revolução Francesa, começou a sua carreira de voluntário em 1792. Tornou-se em seguida membro do Conselho de Quinhentos em 1798, quando era já conhecido por suas tomadas de posição em favor de uma República na Itália.

Profundamente golpeado pelo golpe de estado do 18 Brumario (9 de Novembro de 1799), entrou nas fileiras da oposição republicana, que visava frear a formação de um poder pessoal fundado sobre Napoleão Bonaparte. De 1800 até 1801, aproveitando certas altas proteções, foi nomeado secretário geral da prefeitura de Doubs em Besançon, sua cidade natal, na qual seu ativismo político se ampliou. Tornou-se enfastiado, foi "diplomaticamente exilado" conferindo-lhe a nomeação para o cargo de "comissário geral do governo" na ilha de Elba entre 1802 e 1803. Em Portoferraio fundou a Loja dos "Amigos da Honra Francesa". De 1804 até 1806 se perdem seus rastros, de tal maneira que diversos autores sugerem que o próprio Briot nesse período tenha começado certas atividades clandestinas. Outros avançam a hipótese, em verdade muito fundamentada, de ele ter tido então contatos estreitos com Filippo Buonarroti, então exilado em Sospello, no norte de Nizza, que preparava muito discretamente a formação de uma sociedade secreta italiana com finalidades revolucionárias. Este último disse também:

 

"Apesar de vigiado pela polícia, não perdi nunca de vista o objetivo sagrado em que eu me havia colocado abandonando Florença. Aproveitando então a vizinhança com o Piemonte, trabalhava mais ainda para estabelecer comunicações seguras e ativas entre os republicanos das diferentes provincias da França e daquelas da Itália. Os meus esforços foram coroados de sucesso; nossa sociedade secreta se extendeu, propagou-se em todas as classes da nação e até mesmo no Exército, onde contávamos ainda com um grande número de partidários da Constituição de ´93, desiludidos pela usurpação de Bonaparte". (A.Andriane, Souvenirs de Genève, vol.II, p.206).

O projeto do Carbonarismo parece mesmo ter sido colocado de pé naqueles momentos, e é provável que uma sinergia "Buonarroti - Briot" foi um dos fatores determinantes entre 1804 e 1806: com Buonarroti teórico no exílio, que o adaptava às especificidades do problema italiano, e com Briot operador no campo graças às amplas proteções de que gozava. Em 1806 Briot aparece de novo na Itália, e precisamente em Chieti, na qualidade de intendente da província dos Abruzzi, sob a breve autoridade de Giuseppe Bonaparte. Um Carbonarismo revolucionário e a priori republicano se desenvolveu de maneira a tal ponto fulminante que Briot perdeu seu controle, malgrado a simpatia que sua pessoa suscitava entre as populações rurais, das quais se ocupava com bondade e competência. Em 1807 é destinado à cidade de Cosenza, na região da Calabria, e imediatamente um novo foco Carbonário se forma, com o mesmo sucesso. A coincidência entre os movimentos de Briot e os focos Carbonários na Itália do Sul parece poder demonstrar a sua incondicional participação na difusão internacional de um Carbonarismo republicano. Em 1809, é nomeado Conselheiro de Estado de Gioacchino Murat em Nápoles.

Esta aliança "Briot-Murat" traz um problema. Com efeito, Murat, verdadeiramente informado sobre Briot, não podia ignorar as tendências republicanas pouco favoráveis a Bonaparte. Mas conhecia também o seu papel de fundador da Carbonária italiana, que o rei teria perseguido severamente? Por outro lado Briot, aquele bom Carbonário oculto que era, aceitou este encargo que lhe permitia o acesso a numerosas informações sensíveis, e parece ter exercido um papel importante na difusão do Carbonarismo entre os exércitos napolitanos em 1812, durante a ausência de Murat empenhado na campanha da Russia. De qualquer forma Briot, quando o rei voltou para Nápoles em 1813, lhe apresentou suas demissões, por motivo da política oportunista de Murat, que deixava insatisfeitas as legítimas aspirações populares. Briot então destruiu os fundamentos do Carbonarismo italiano, e foi ajudado pelo fato de que este tipo de Maçonaria não caia sob os golpes precisos das excomunhões romanas de 1738 e 1751, as quais não se referiam aos "conventículos" urbanos.

Este movimento tomou imediatamente uma coloração política muito nítida, batendo-se abertamente contra toda e qualquer tentativa de restauração dos Bourbons em Nápoles, e exprimindo uma oposição clara ao expansionismo austríaco. Mas era também impregnada profundamente de republicanismo anti bonapartista. Tudo aquilo que impedia a unidade nacional dos Estados italianos era combatido pelos Carbonários, que conjugavam alegremente as posições políticas mais disparatadas, todas subordinadas a um desejo incoercível de botar para fora da Itália as potências estrangeiras.

Murat preferiu implantar em Nápoles a Maçonaria do tipo do Grande Oriente da França, em detrimento das Vendas Carbonárias que vetou e perseguiu, como se tivesse medo do nacionalismo local. O ressentimento "anti-francês" entre os Carbonários Napolitanos foi, portanto, legítimo. Entretanto, Briot tinha aderido em 1810 à Maçonaria Egipcia de Misraïm, onde permaneceu fiel até o fim de sua vida. Ele se torna rapidamente "Grão Mestre ad vitam 90°".

Na época do declínio do Império napoleônico (1813 - 1814), e da perda do trono de Nápoles da parte de Gioacchino Murat (1815), Briot retornou à França, à cidade de Besançon, onde fundou a Loja misraimítica dos "Seguidores da Verdade". Em 1820 se tornou diretor da companhia de seguros "A Fenix", cujos empregados eram praticamente todos partidários fiéis do imperador Napoleão, ou então republicanos ocultos. Em 1817 se tornou conselheiro secreto do ministro da Polícia, o duque Decazes, ele também membro de Misraïm, e manteve o encargo até 1822, quando foi indiretamente envolvido no processo para atividades carbonárias dos "quatro sargentos" de Rochelle. Um relatório confidencial de 1825 atesta a situação:

 

"O senhor Briot é um homem perigosíssimo, pelo extremismo de suas opiniões e pela influência que sua posição o permite exercitar. Há muito tempo não cessa de dedicar-se a maquinar intrigas revolucionárias, e em 1822 tinha feito dos principais difusores de "A Fenix" outros tantos agentes da insurreição. Cada inspetor desta companhia era encarregado de difundir nos diversos departamentos que lhes eram designados as doutrinas liberais, e de organizar-lhes Vendas de Carbonários".

Malgrado essa vigilância da policia, Briot foi capaz de não apresentar o flanco a ataques diretos, e morreu sem ter nunca sofrido grandes problemas, em 18 de Março de 1827 em Auteuil.

Briot teve um sucessor, Carlo Antonio Testa (1782-1848).

Livreiro em Paris entre 1824 e 1830, animou o "salão" revolucionário "A pequena jacobina". O seu objetivo era o de caçar os Bourbons, Carlo X, e de substitui-los pelos Orléans. Foi implicado na revolução de 1830. Tendo nesse meio tempo fundado a associação revolucionária "Ajuda-te, que o Céu te Ajudará", criou em 1833 a "Carbonária Democrática Universal", através de uma fusão tardia com os revolucionários de Buonarroti. Este movimento sem um projeto político sério logo murchou, não sem criar as bases do contingente republicano que se deslanchou a partir de 1848, após ter deixado o hábito Carbonário para a história.

>>>>>>>>>>>>>>>>>>>As causas do crescimento do carbonarismo italiano
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