EM VIAGEM PELA "LITERATURA DE VIAGENS"
Annabela Rita
19-02-2004

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E outro arquipélago ainda
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Podemos ainda considerar uma numerosa produção literária que toma a viagem como tema, quer no sentido estrito do termo, quer no sentido figurado/simbólico, ou que a assume como modelo de aquisição/transmissão de conhecimento, ou de leitura.

O segundo caso é o de narrativas que evocam clara ou subtilmente essas suas congéneres, acabando por esbater as fronteiras do território daquelas. Viagens na Minha Terra (1846), de Almeida Garrett (1799-1854), constituem um bom exemplo da primeira hipótese, anunciando-se como relato de tudo o que teria sido visto e ouvido, pensado e sentido por alguém ao longo de uma viagem pelo seu país, texto que desenvolve, digressiva e alternadamente com a história da viagem e uma história amorosa, um autêntico curso de cultura geral para o leitor comum (1). Os Fidalgos da Casa Mourisca (1871), de Júlio Dinis (1839-1871) parecem-me um exemplo possível e mais subtil da segunda, porquanto o seu início se desenvolve em jeito de viagem que progride em direcção à história ficcional.

Ponderemos, de seguida, essas narrativas oitocentistas, confrontando-as esclarecedoramente com outras já mencionadas, protagonistas das viagens, embora sem esquecermos a numerosíssima produção de “viagens imaginárias”, desde as que assumem o seu estatuto ficcional, fantasista, alegórico ou satírico, até às que se pretendem fazer aceitar como depoimentos de uma experiência autêntica (2) e às que se propõem como espaços a serem percorridos em viagem de leitura.

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Notas

(1) Cf. Annabela Rita. “As Viagens: entre o enigmatismo e a curiosidade”, Revista da Faculdade de Letras (5ª série, nº 9, Lisboa, Faculdade de Letras de Lisboa, 1988, pp. 53/57.

(2) Cf. Jean-Michel Racault. Op. cit., pp. 82/109.

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