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Claudio Willer

Maçons, conspirações, Illuminati
In: http://claudiowiller.wordpress.com/

Volto a insistir:

  1. Desde sua organização como ordem esotérica em meados do século 17, por iniciativa, principalmente, de Elias Ashmole (bela figura, um sábio, representativo do período), maçons tiveram atuação progressista. Contra o absolutismo monárquico e o poder temporal da igreja, foram republicanos.
  2. Encontro de Benjamin Franklin e Voltaire em loja maçônica, para conversar sobre independência dos Estados Unidos, é bom exemplo daquele ambiente político, da convergência de iluministas e iluminados: partilhavam a valorização do conhecimento.
  3. Carbonários de Mazzini, republicanos, precursores da unificação italiana, influentes nas insurreições européias de 1848, pertenceram a um ramo da maçonaria, a do carvão – daí, até hoje “carbonário” ser sinônimo de agitador.
  4. Por isso, maçons foram e são execrados por toda espécie de reacionários: fascistas e nazistas; integristas católicos na linha da TFP e Opus Dei. Regimes de Salazar e Franco davam o mesmo tratamento aos maçons que aos comunistas: cadeia (ao final, links remetendo a textos de Maria Estela Guedes a respeito).
  5. Conspiração de Illuminati da Baviera liderados por Weisshaupt, no final do século 18, foi, ao que tudo indica, armação policial. Não tem ordem alguma de Illuminati exercendo influência. Por que sei? Porque li textos denunciando essa influência dos Illuminati, uma sucessão de absurdos, com erros históricos grosseiros. E porque se assemelham a outras armações, comprovadas, para incriminar maçons.
  6. Mark Zuckerberg aparecer em público com jaqueta ostentando símbolos dos Illuminati não significa nada. Aliás, esoterista de verdade não faz isso, usar símbolos como enfeite ou estampa.
  7. Também houve – e há – seitas do outro lado. Teosofia de Blavastski abre para o antissemitismo, ao ver a história da humanidade como sucessão de raças. Nazistas como Himmler foram adeptos das ordens do Vril e de Thule, crentes em mundos subterrâneos. Mas não foram Vril e Thule que fizeram o nazismo, porém a opinião pública, reflexo das condições em que se encontrava a Alemanha.
  8. Maçonaria se fez presente, politicamente, por ser enorme – e vice-versa, idéias progressistas e projeto humanitário atraíram adesões. A outros grupos e sociedades secretas carecem dimensão e programa.
  9. Vários magos e adeptos, por serem tradicionalistas, também foram reacionários. Julius Evola, estudioso de magia sexual e tantrismo, aderiu ao Duce – e decepcionou-se. Mas homens de negócios seguem a lógica do capitalismo, tal como exposta por aqueles dois estudiosos alemães e outros especialistas em dialética, e não os desígnios de alguma sociedade secreta.
  10. Teorias conspiratórias foram exemplarmente examinadas por Umberto Eco em O cemitério de Praga. É conclusivo: uma passagem de Balsamo de Alexandre Dumas, biografia romanceada de Cagliostro (farsante, porém mártir, morreu em uma masmorra da Inquisição), relatando suposto programa de conspiradores, foi copiada e apresentada como prova de conspiração maçônica, inicialmente; ocasionalmente de jesuítas (seguidores dessa versão devem estar inquietos); e, finalmente, judaica, resultando em Os protocolos dos sábios do Sião. O protagonista de O cemitério de Praga, romance histórico, é fictício – mas os demais personagens e fatos, todo o desfile de loucuras do século 19 e belle époque, os Coronel Pike, Abade Boullan etc, são reais. O livro de Eco ter estado em listas de mais vendidos depõe a favor da espécie humana, assim como a circulação de O inferno de Dan Brown depõe contra (outra hora, comentarei).

Enfim, teorias conspiratórias são patologia política. Desviam do que interessa: a realidade, o que se passa, a infra-estrutura.

LEITURAS: Além da já citada narrativa de Eco e também de Seis passeios pelos bosques da leitura, principalmente:

Yates, Frances A., El Iluminismo Rosacruz, Fondo de Cultura Económica, México, 2001; (por que não fazem edição brasileira? outros livros dessa extraordinária historiadora já foram editados aqui)

Também:

Béresniak, Daniel, Franc-Maçonnerie et Romantisme, Éditions Chiron, Paris, 1987 (tem na biblioteca da USP);

McCalman, Iain, O último Alquimista – Conde de Cagliostro, mestre da magia na Era da Razão, Rocco, Rio de Janeiro, 2004;

Os perfis de Cagliostro e Saint-Germain, seu oponente, em O oculto de Colin Wilson. História da filosofia oculta de Alexandrian.

De Maria Estela Guedes, entre outros:
http://novaserie.revista.triplov.com/numero_33/maria_estela_guedes/index.html e http://www.incomunidade.com/v3/art.php?art=8 .

Minhas páginas a respeito, relacionando ao gnosticismo, em Um obscuro encanto e
http://claudiowiller.wordpress.com/2013/08/24/illuminati-adam-weishaupt-macons-conspiracoes/

 

 

Claudio Willer (São Paulo, 1940)
Claudio Willer é poeta, ensaísta e tradutor. Nasceu em São Paulo, onde reside, em 1940. Seus vínculos são, principalmente, com a criação literária mais rebelde e transgressiva, como aquela representada pelo surrealismo e geração beat.

Publicações mais recentes, disponíveis em livrarias, 'Geração Beat', ensaio (L&PM Pocket, coleção Encyclopaedia, 2008); 'Estranhas Experiências', poesia (Lamparina, 2004); 'Volta', narrativa em prosa (Iluminuras, 1966, terceira edição em 2004); 'Lautréamont - Os Cantos de Maldoror, Poesias e Cartas - Obra Completa' (Iluminuras, 1997, novas edições em 2005 e 2008) e 'Uivo, Kaddish e outros poemas' de Allen Ginsberg (L&PM, 1984 e reedições, nova edição de bolso de 2005). Também teve lançados 'Poemas para leer en voz alta', editorial Andrómeda, San Jose, Costa Rica, 2007 (tradução de Eva Schnell, posfácio de Floriano Martins) e uma série de ensaios sobre poesia surrealista na coletânea 'Surrealismo' (Perspectiva, coleção Signos, 2008). Autor de outros livros de poesia - 'Anotações para um Apocalipse', de 1964; 'Dias Circulares', de 1976; 'Jardins da Provocação', de 1981, publicados por Massao Ohno - e da coletânea 'Escritos de Antonin Artaud', todos esgotados. Aguarda publicação de 'Um obscuro encanto: gnose, gnosticismo e a poesia', adaptado de sua tese de doutorado, prevista para 2009, pela editora Civilização Brasileira. Prepara 'O Surrealismo' para a coleção Encyclopaedia da L&PM Pocket.

Poemas e ensaios publicados em antologias, coletâneas e periódicos literários, no Brasil e na Alemanha, Argentina, Colômbia, Costa Rica, Itália, México, Portugal, Venezuela. Como crítico e ensaísta, colaborou em suplementos e publicações culturais: Jornal da Tarde, Jornal do Brasil, revista Isto É, jornal Leia, Folha de São Paulo, revista Cult, Correio Braziliense, etc, e imprensa alternativa: Versus, Singular e Plural e outros. Citado ou examinado em revistas literárias, resenhas e reportagens, teses e dissertações, e em obras de consulta e de história da literatura brasileira, como as de Alfredo Bosi, José Paulo Paes, Luciana Stegagno-Picchio. Filmografia e videografia, com destaque para 'Uma outra cidade', documentário de Ugo Giorgetti, 'Antes que eu me esqueça', de Jairo Ferreira, e 'Inventário da Rapina', de Aloysio Raulino - todos disponíveis em DVD. Foi presidente da UBE, União Brasileira de Escritores por vários mandatos (1988-1992 e 2000-2004). Trabalhou em administração cultural: entre outros lugares, na Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, onde foi Coordenador da Formação Cultural, 1994-2001. Coordena oficinas literárias; ministra cursos e palestras sobre poesia e criação literária. Doutor em Letras pela USP, tese de doutorado defendida e aprovada em 2008: 'Um Obscuro Encanto: Gnose, Gnosticismo e a Poesia Moderna'. Faz pós-doutorado em Letras na USP a partir de 2008, também na USP, com o tema 'Religiões Estranhas, Misticismo e Poesia'. Graduado em Sociologia (Escola de Sociologia e Política, 1963) e Psicologia (USP, 1966). Co-edita, com Floriano Martins, a revista digital agulha, www.revista.agulha.nom.br. Mais em www.secrel.com.br/jpoesia/cw.html (incluindo seleção de poemas e alguma bibliografia crítica) e www.triplov.com/willer/index.html (coletânea de ensaios), além de extensa entrevista e outros dados em www.tvcronopios.com.br/bitniks04/ e do currículo Lattes do CNPq, disponível em http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4774475U2.
 


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