A MENINA DO MAR (1)
Elvira Maria Moreira

Metade da minha alma é feita de maresia
Sophia de Mello Breyner Andreson

A Autora
“ Sophia” significa sabedoria mais funda que o simples “saber”, conhecimento íntimo e luminoso do essencial, comunhão silenciosa com o mundo e a vida.

Sophia de Mello Breyner Andreson, grande vulto da literatura portuguesa contemporânea, nasceu de uma família aristocrática de ascendência dinamarquesa, no Porto, em 6 de Novembro de 1919. Mesmo antes de aprender a ler, o avô ensinou-a a recitar Camões e Antero de Quental. Foi no Porto e na praia da Granja que passou a sua infância e juventude. Motivos concretos e símbolos excepcionais para cantar o amor e o trágico da vida, foi-os buscar ao mar e aos pinhais que contemplou na Praia da Granja.

Começa a escrever os seus primeiros poemas com 12 anos, no Colégio do Sagrado Coração de Maria, no Porto, que frequenta até aos 17 anos. Em 1937 estuda Filologia Clássica na Faculdade de Letras de Lisboa, mas não acaba a licenciatura. Três anos depois regressa ao Porto onde casa com o jornalista Francisco Sousa Tavares. Muda-se definitivamente para Lisboa, onde foi mãe de cinco filhos que a motivaram a escrever contos infantis.

A sua primeira publicação, “Poesias”, edição de autor, paga pelo pai, sai em 1944. É o início de um fulgurante percurso poético , mas não só. Ao longo da sua vida vai publicar ainda ficção, ensaio e literatura para crianças. A sua produção poética é imensa, salientando-se : Poesia (1944), Dia do Mar (1947), Coral (1950), No Tempo Dividido (1954), Mar Novo (1958), Livro Sexto (1962), Geografia (1967), Dual (1972), Nome das Coisas (1977), Musa (1994), entre outras obras.

Para crianças publica: “ O Rapaz de Bronze” (1956), “A Menina do Mar” e “A Fada Oriana” (1958), “Noite de Natal”(1960), “O Cavaleiro da Dinamarca”(1964), “A Floresta”(1968) e “Árvore”(1985).

Numa homenagem a Sophia feita no Ciclo “ Vozes e Olhares no Feminino”, da Porto 2001, Maria Alzira Seixo, ensaísta e professora de Literatura Comparada da Universidade de Lisboa defende que: “ A Menina do Mar é um dos 4 maiores livros de literatura infantil do século XX, a par de A Maravilhosa Viagem de Nils Holgerson de Selma Lagerloff, de Emílio e os Detectives de Erich Kastner e de O Principezinho de Saint Exupéry.” Ainda a propósito da sua obra para crianças, Sidónio Pais, num depoimento sobre Sophia , diz: “ A Menina do Mar, A Fada Oriana, A Noite de Natal, Contos Exemplares deram-nos e aos pequenos, em várias idades, mais gosto e saber do que muitas lições em família e na escola.”

Foi distinguida com vários prémios, entre os quais, em 1994, o Prémio Vida Literária, atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores e no ano de 1999 o Prémio Camões, considerado hoje o reconhecimento maior e mais nobre que um escritor de língua portuguesa pode receber na sua área linguística.

Recentemente, foi lançada em França uma antologia poética de Sophia de Mello Breyner, à qual foi atribuído o Prémio Max Jacob. Este prémio foi considerado uma justa distinção para quem é “não só uma das figuras maiores da poesia do século XX português e mesmo de qualquer tempo, como uma voz rara, de uma inultrapassável dignidade e qualidade poética da lírica universal contemporânea.” (Vasconcelos).

O Pavilhão do Instituto Camões no Salão do Livro de Paris, que terminou em 21 de Março de 2001, foi dedicado a Sophia de Mello Breyner sob o Signo do Mar e, foi publicada, mais tarde, uma antologia de poemas seus intitulada Mar.

A sua obra tem vindo a ser marcada por uma certa comunhão com a Natureza e, em particular, a natureza marítima. É, aliás, esta natureza marítima que está presente no conto “A Menina do Mar” em que toda a história decorre num cenário fantástico, povoado por mil e uma espécies que compõem a fauna real ou imaginada pela autora.

A civilização grega é também um modelo para Sophia, na qual procura um conjunto de valores perdidos: a inteireza, a harmonia e a justiça. A arte grega celebrizava o entendimento de uma aliança do homem com o mundo natural. O fascínio pelo mundo e mitologia gregos, originado talvez na sua formação em Filologia Clássica, manifesta-se em muitos dos seus escritos, especialmente em “ O Nome das Coisas” e no ensaio” O nu na Antiguidade Clássica”.

Nos seus temas literários nota-se uma paixão especial pelo mar, pela terra, pela casa familiar (de infância) e pela denúncia de uma realidade social adversa. Ainda no antigo regime, foi sócia fundadora da “Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos” e chegou a fazer vendas de obras de arte em sua casa que revertiam a favor deles. Pela sua constante atenção aos problemas do homem e do mundo, criou uma literatura de empenhamento social e político, de compromisso com o seu tempo e de denúncia da injustiça e opressão.

A escrita de Sophia aparece associada às mudanças poéticas que aconteceram em Portugal nos anos 50; a soberania da palavra poética, a exigência de uma palavra pura e justa, vinculação da justeza do poema à justiça na cidade e retorno de uma infinita exigência de sacralidade. Passou ao lado de várias escolas literárias mas seguiu um caminho muito seu: é ela própria com um estilo muito próprio. Emprega no seu discurso um conjunto de símbolos e alegorias e que fazem lembrar Fernando Pessoa, poeta que para ela foi uma referência.

Nos seus textos há um apelo às sensações visuais, tácteis e auditivas, através das quais se estabelece relação com a realidade criada pelas palavras. Utiliza, com frequência, termos cheios de um valor mágico que configuram cenários típicos relativos ao mar, à praia, à noite, aos valores que se lhes associam - mistério, sonho, justiça – ou desenham as suas figuras mais recorrentes – fadas, deuses, animais.

Percorrendo a sua obra, quer poética quer ficcional, encontramos sempre presentes os quatro elementos primordiais do Universo: a Terra (jardim, flor e árvore), a Água (rio, fonte, mar), o Ar (vento e brisa). Estes três elementos dos estados sólido, líquido e gasoso são transformados uns nos outros através da acção do Fogo (luz e sol) que é a energia que proporciona esta transformação.

O mar, a amplidão do mar, o “mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim” assume uma presença genesíaca e purificadora na poesia e, de um modo geral, em toda a obra de Sophia. Além do mar há a praia, a casa e os jardins que suportam e fazem a estrutura da sua procura de perfeição, pureza e harmonia.

O conto infantil
Os meus contos infantis surgiram quando os meus filhos tiveram sarampo e tinham que estar quietos. Eu tinha que lhes contar histórias e comecei a ficar muito irritada com as histórias que lia. Primeiro com a linguagem sentimental, com a linguagem « ta-te-bi-ta-te», etc. Então comecei a contar histórias a partir de factos e lugares da minha infância ( sobretudo lugares). Por isso a primeira que apareceu se chama A Menina do Mar. Era uma história que a minha mãe me tinha contado quando eu era pequena mas que era uma história incompleta – ela tinha-me dito só que havia uma menina muito pequenina que vivia nas rochas e como a coisa que eu mais adorava na vida era tomar banho de mar, essa menina tornou-se para mim o símbolo da felicidade máxima, porque vivia no mar, com as algas, com os peixes... Então eu comecei a contar a história a partir disso. Depois os meus filhos ajudavam; primeiro porque não me deixavam parar e segundo porque perguntavam: « E o peixe o que é que fazia? E o caranguejo?» Essa história foi contada oralmente numa tarde. Quando a escrevi, tentei escrevê-la como a tinha contado sem cair em nenhuma espécie de literatura nem de «peso».... As outras histórias , algumas foram meias contadas, meias escritas... Eles influenciavam a lógica da própria história. E depois, como eu estava com crianças, eu própria era influenciada, por exemplo nisto: nunca usar palavras abstractas nem construções complicadas. A atenção dos outros guia-nos sempre. (...) Gosto de começar os livros para crianças todos da mesma maneira: Era uma vez... e de regressar a um certo número de marcos, de sítios. (...) as palavras têm que ser exactamente as palavras que conquistámos, quer dizer, não são só as palavras que sabemos: são as palavras que viveram e viverão connosco. (...) eu sou muito repetitiva por natureza. Sophia de Mello Breyner Andresen

Tal como acabámos de ler na entrevista concedida a Eduardo Prado Coelho para a Revista nº 6 do ICALP (Instituto de Cultura e Língua Portuguesa), 1986, é a própria autora a declarar que A Menina do Mar é literatura infantil, intencionalmente escrita para os seus filhos pequenos.

A MENINA DO MAR
Como qualquer conto, esta narrativa é curta. Porém, ao longo dela, não há uma intriga nem acção no sentido ortodoxo, sim um devir narrativo gerado pelo movimento das próprias palavras. É mais poesia aplicada à narração. Embora se possa considerar existir na história uma sequência de quadros e acções encadeadas que poderemos identificar como princípio e meio, o mesmo não poderemos dizer do fim da história. Sendo nesta diluição das categorias narrativas uma obra moderna, há nela no entanto bastante acção e aventura, o que leva o leitor a querer lê-lo até ao fim sem parar.

Dentro da sequência linear da narrativa, existe somente um encaixe, quando a menina, ao contar a sua vida presente ao rapaz, faz uma breve referência à sua origem: “hamo-me Menina do Mar e não tenho outro nome. Não sei onde nasci. Um dia uma gaivota trouxe-me no bico para esta praia. Pôs-me numa rocha na maré vaza e o polvo, o caranguejo e o peixe tomaram conta de mim.”

A personagem principal é a Menina do Mar , que a autora escolheu para dar o nome ao conto. É uma história ( começa por “Era uma vez...), e a narração faz-se na terceira pessoa. Não há sinais sintácticos da primeira, excepto quando cada personagem assume a narração em discurso directo. Neste caso, como noutros contos infantis, Sophia de Mello Breyner opta pelo narrador omnisciente, o que lhe permite liberdade absoluta para manipular as personagens.

Sabemos que este conto nasceu, segundo as próprias palavras da autora, da necessidade e desejo de contar histórias aos seus filhos quando eram pequenos. Aproveitou a ideia principal da história de uma menina do mar, que lhe tinha sido contada por sua mãe, e foi-lhe acrescentando os pormenores e o enredo conforme as perguntas dos filhos a iam levando a criar e lhe provocavam o prazer do discurso.

Portanto, para além dos leitores visados mais tarde com a publicação do conto, os primeiros ouvintes foram os filhos, que participaram activamente na construção da história. Foi, portanto, originalmente, um conto oral, “ a mais universal de todas as formas narrativas”.***

Contrariamente ao que é habitual nos contos de fadas ou contos tradicionais para crianças, que se caracterizam por começar imediatamente pela acção, sem introduções longas nem descrições , “A Menina do Mar” começa por uma longa descrição dos espaços onde toda a história se vai desenrolar: a casa nas dunas à beira-mar, a praia, o mar e as condições climatéricas na descrição da tempestade. Mas, como os contos de fadas, começa com a fórmula “Era uma vez...” que ajuda o conto fantástico a atingir credibilidade, removendo-o de épocas e lugares familiares para o mundo do imaginário, alimentando os sonhos dos ouvintes ou leitores e distraindo-os ao ponto de se esquecerem da sua realidade quotidiana (no caso, estarem fechados em casa, com sarampo).

ACÇÃO
Quanto a mim, neste conto, que é uma narrativa moderna, há um eixo central para o qual convergem todas as acções que se desenrolam ao longo da história - é a amizade que se cria entre o rapaz e a Menina, personagens principais do conto. Há uma troca de experiências e nasce em cada um deles a ânsia de atingirem a liberdade plena, pois qualquer um deles tem barreiras físicas que os impedem de ser completamente livres. A Menina é detentora de dois dons: pode respirar fora de água como os homens e dentro de água como os peixes. Sempre viveu no mar e quer conhecer a Terra mas não pode afastar-se muito da água porque fica desidratada. Além disso tem a sua liberdade condicionada porque é a bailarina da “Grande Raia”, senhora daqueles mares, que a traz constantemente vigiada pelos búzios.

O rapaz não tem nada que o prenda, mas não pode conhecer nem viver no fundo do mar porque está fisicamente impedido de o fazer. Ele é humano e só respira por pulmões. É um apaixonado pelo mar e, depois da descrição que a Menina lhe faz da sua vida nas profundezas, fica seduzido e desejoso de experimentar todas aquelas maravilhas, enquanto que a Menina , por sua vez, deseja conhecer os mistérios da Terra.

Uma grande parte do texto é composto pelo relato das aventuras vividas pelos amigos, na tentativa de conseguirem alcançar e realizar o seu sonho.

Embora neste conto não haja propriamente uma intriga, poderemos constatar que existe um encadeamento lógico de acções, cenas ou quadros com características objectivas e cinematográficas, com muito cenário devido à descrição de espaços. A acção só se inicia com o aparecimento da Menina do Mar e dos seus amigos na página 11, depois de longas descrições da casa das dunas, da tempestade e de uma manhã de gozo e prazer passada na praia pelo rapaz. O encadeamento da narrativa é tão claro que nos permite fazer o seu resumo:

Era uma vez uma casa branca nas dunas, junto a uma praia grande e deserta onde morava um rapazinho. Nesta praia havia rochedos maravilhosos que o rapaz adorava e passava a sua vida a brincar aqui, principalmente quando a maré estava vazia. Numa noite de Setembro houve uma tempestade tremenda, mas, de manhã, a calmaria voltara e o sol brilhava. Como a maré estava vazia o rapaz foi para a praia onde passou toda a manhã a brincar nas rochas e a nadar. Estava deitado sobre as algas, a secar-se para regressar a casa quando sentiu sons estranhos: eram gargalhadas que ele nunca tinha ouvido. Cuidadosamente espreitou por entre as pedras e viu uma cena extraordinária: numa poça de água límpida, riam, brincavam e nadavam a Menina do Mar, uma menina com um palmo de altura, um polvo, um caranguejo e um peixe. O rapaz numa atitude expectante de surpresa e observação assistiu a um espectáculo musical. A pedido da menina os animais transformaram - se numa orquestra; o peixe batia palmas na água com as barbatanas, o caranguejo tocava castanholas, o polvo com um dos seus oito braços tocava guitarra nos outros sete e cantava e a menina principiou a dançar em cima de uma rocha. Quando a dança acabou, estava a maré a subir e caminharam todos em direcção a uma gruta para onde entraram.

O rapaz foi atrás deles e tentou entrar, mas a entrada da gruta era pequena, a maré estava a subir e ele teve que voltar para casa. Nesse dia e durante a noite o rapaz não pensou noutra coisa que não fosse a cena fantástica que tinha visto. Logo na manhã seguinte foi para a praia, voltou a esconder-se e observou os amigos a brincar. Desta vez não conseguiu ficar quieto, deu um salto e agarrou a menina. Esta gritou pelos amigos que, depois de se terem escondido com medo, vieram socorrê-la e atacaram o rapaz como podiam. O rapaz era mais forte e fugiu com a Menina para longe. Depois de a acalmar e de lhe dizer que não ia fritá-la, isso eram os pescadores que faziam e ele não era pescador nem ela era peixe, sentaram-se numa rocha e começaram a conversar.

A menina contou-lhe que tinha sido trazida no bico de uma gaivota para aquela praia e que desde então o polvo, o caranguejo e o peixe tinham tomado conta dela e viviam juntos numa gruta. Tinha uma vida maravilhosa com os seus amigos que lhe faziam tudo, desde a comida à roupa e colares, até à limpeza da gruta. Com o peixe brincava e passeava pelo fundo do mar porque tinha o dom de poder respirar como os peixes. Além disso era a bailarina da Grande Raia, a senhora daqueles mares e, por isso, ninguém lhe fazia mal.

O rapaz levou-a de volta para os seus companheiros que o atacaram enquanto não perceberam que a Menina e o rapaz tinham ficado amigos. Então combinaram encontrar-se no dia seguinte porque a Menina tinha curiosidade da Terra e o rapaz iria trazer-lhe alguma coisa para ela conhecer. Quando ele apareceu com uma rosa encarnada colhida no seu jardim, a menina ficou maravilhada porque as coisas do mar não têm perfume, mas ao mesmo tempo, ficou triste. O rapaz disse-lhe que era a saudade e explicou-lhe o que queria dizer.

No dia seguinte, trouxe-lhe uma caixa de fósforos e acendeu um deles. A Menina ficou alegre e queria tocar no fogo mas o rapaz explicou-lhe que o fogo era alegre mas queimava. Explicou-lhe ainda como o fogo, quando era pequeno, podia ser o maior amigo do homem porque aquece, cozinha e alumia e como pode destruir tudo quando é grande e não se pode controlar. Contou-lhe ainda como eram as casas, os jardins, as cidades , os campos, as florestas e as estradas. A menina ficou cheia de curiosidade mas, quando o rapaz a convidou a ir com ele à terra, ela disse-lhe que não podia porque longe da água ficava seca como um jornal velho. E, através das conversas crescia dentro de cada um deles a vontade de experimentarem a vida do outro.

Noutro dia o rapaz trouxe vinho para a Menina provar e contou-lhe a sua história, desde a videira até ao lagar. Quando a Menina provou disse que era bom e alegre, que já conhecia o sabor dos frutos e queria ir ver a terra porque o mar era uma prisão transparente e gelada.

Então ficou combinado que o rapaz traria um balde que encheria de água do mar e onde levaria a Menina na sua visita à terra. Mas, quando chegou, encontrou-a muito triste junto dos seus amigos. Entre lágrimas contou-lhe que já não podia ir à terra porque os búzios tinham ouvido as suas conversas e tinham contado os projectos da Menina à Grande Raia. A Raia ficara furiosa e ordenara aos polvos que a não deixassem passar. Nessa noite seria levada pelos polvos para uma praia distante e desconhecida e nunca mais se poderiam encontrar.

O rapaz, inconformado, meteu a menina no balde e começou a correr, mas imediatamente se viu rodeado de polvos que o atacaram. Como ele se debatia, apertaram-lhe, com os seus tentáculos, as pernas, a cintura, o peito e, por fim, o pescoço até que o rapaz desmaiou. Quando acordou, com a água a bater-lhe na cara, estava todo dolorido e já não viu a Menina nem os amigos.

Voltou muitas vezes à praia, mas não voltou a vê-la e assim se passou muito tempo. Até que, numa manhã nevoenta de Inverno, estava na praia, a pensar na Menina do Mar, quando viu aproximar-se uma gaivota com alguma coisa brilhante no bico. Deixou cair na areia, junto dele, o objecto que o rapaz apanhou e reparou que era um frasco cheio de um líquido luminoso. A gaivota disse-lhe que vinha enviada pela Menina do Mar, que sentia saudades dele e lhe perguntava se queria ir ter com ela ao fundo do mar. O rapaz respondeu logo que sim mas não podia ir porque se afogava. A gaivota explicou-lhe que o líquido do frasco era um filtro feito de suco de anémonas e plantas mágicas e que se o rapaz o bebesse poderia viver dentro de água como os peixes e fora dela como os homens.

O rapaz bebeu logo o filtro e sentiu que se transformava, que os seus movimentos tinham ficado mais leves. No mar estava um golfinho que o esperava para lhe ensinar o caminho. Sem hesitar, correu para as ondas e agarrou-se à cauda do golfinho com o qual fez uma longa viagem através dos oceanos. Depois de muito tempo a nadarem, chegaram a uma ilha rodeada de corais que circundaram. Finalmente pararam e o golfinho disse ao rapaz qual era a gruta da Menina do Mar.

Quando o rapaz entrou, encontrou a menina e os seus amigos que ficaram contentíssimos por se encontrarem depois de tanto tempo. A menina contou então ao rapaz que, com as saudades, tinha ficado tão triste que já nem sabia dançar. Num banquete oferecido pelo Rei do Mar ela tinha dançado tão mal que ele estranhara e quisera saber a razão daquela tristeza. Tinha sido ele a chamar a gaivota e a dar-lhe o filtro.

Depois de terem passeado pelos areais, florestas e grutas subterrâneas, foram à festa no palácio do Rei. A Menina estava tão feliz que dançou tão bem como nunca tinha dançado antes.



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PORTUGAL-SETEMBRO DE 2002