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JOÃO RASTEIRO
ENCONTROS
Herança
Ao Manuel Rasteiro

Junto às margens impassíveis dos rios da Babilónia

os salgueiros têm folhas e espinhos hábeis de silêncios,

 

o silêncio obriga-me a ouvi-lo e agride sem compaixão

a memória absoluta na chama que se desfibra metálica

entre as cordas da última jangada nas veias das águas,

 

o meu amor é uma navalha na garganta cúmplice

reinventando hoje o retorno da tua voz hálito genuíno

iluminando-te lentamente na cozedura plena das palavras,

 

agora tu és uno como o tempo despido dos dias robustos

na tua morte floresce a arquitectura nua da minha morte

aves em vigília serena sobre os rebentos dos salgueiros,

 

quero apreender a semente nas águas puras da Babilónia

a acústica sagrada do búzio que cadencia a tua imagem

o espelho hibernal que subsistia entre ti e a boca da morte,

 

emudecido sei que onde as feridas se alojam indolentes

a cria dobra-se do regaço incorruptível e agora sou adulto.

 

In , O Arquipélago do espanto(inédito)

Posto em linha a 20.11.2006