JOÃO GARÇÃO: OLHARES E VISÕES
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18-02-2008

Ab-initio As-tentacoes Autor-e-Ribeirinho Como-era-belo-o-meu-pombal
Duas-colagens Ite-missa-est Joao-Garcao Numa-terra-onde-a-cultura
O-autor-e-o-director-do-IPP Parede-da-entrada Parede-sul Postal-de-aniversario

“OLHARES E VISÕES”

Exposição de 33 guaches, desenhos e colagens de João Garção,
no Instituto Politécnico de Portalegre

"O olhar exerce-se nesse intervalo que vai da coisa à sua representação, no interstício imaginário que julgamos conhecer só porque temos os olhos que deus nos deu e os utilizamos para distinguir entre as coisas na sombra ou na claridade e a sua permanência na memória, no que todavia continua velado, obscuro, indistinguível. Ou pode continuar, caso não haja reconhecimento, no que é contínuo e diferente a cada minuto.”, assim se diz a dado passo num texto lido durante a inauguração da mostra. Ou, como refere Floriano Martins ao mesmo propósito, “(...)O simulacro está ligado aos vestígios fechados, não revelados, da existência. Isto nos leva ao palco, ao tablado agónico das simulações, aos enredos míticos e místicos que se esmeram em conferir realidade, à fábula. Lugar sagrado onde(...)a criação artística como um todo busca algo mais substancioso do que simplesmente derrotar o intelecto. Mete-se com o “finíssimo vazio” onde vai explorar suas  possibilidades de ser. Absorve todos os engates e desgastes”.

JG sabe que se a pintura é comunicação, especial ou especializada, é também uma proposta de substituir o que se pensa haver pela matéria que se tem, ainda que de forma peculiar. Nada é igual a nada, que o mesmo é dizer: tudo é igual a tudo – mas num outro plano onde já se transfiguraram emoções, raciocínios e pensamentos mediante os sinais, as linhas e as representações plasmadas numa tela ou numa folha de papel. “Pintar é viajar” dizia apropriadamente Picasso. E em seguida: “Eu não procuro, encontro!”. Embora, é claro, esse encontro seja propiciado pelos minutos, dispersos pelos meses e pelos anos, que a vida contém. Daí que “Foi quase sem sentir, ao longo do tempo, que  pintei estes trabalhos, em parte já esquecidos. Muitos deles fi-los e deixei-os na casa que então habitava. Reencontrei-os há um par de dias, já emoldurados. Uns lembrei-os logo, outros eram como filhos que tivesse perdido num lugar inabordável. E durante esse par de dias que mediou entre a minha chegada à casa da infância e adolescência e o acto de os montar nesta sala, olhei-os intensamente para que certas memórias revivessem”.

Olhares e visões... Como se as cores, os ritmos e os sinais cobrassem uma vida específica, reentrassem na memória, nesse espaço que já não é apenas lembrança mas a recomposição de algo que se reconquistou na sua materialidade eminentemente espiritual, como diziam alguns desses que o autor pôde um dia contemplar anos e anos atrás...

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