RENATO SUTTANA
Frutos

V - Dorme – rugoso e espesso – o coração

 

Dorme – rugoso e espesso – o coração
do pêssego, em silêncio, dentro dele:
e o seu bater e a sua pulsação
não se adivinha sob a cor da pele,

que é rósea e aveludada. E, quando a mão –
toda pressa que apanha ou que repele –
tenta um esforço de decifração,
o que ele diz ao tato não é ele:

é preciso prová-lo, lentamente,
numa tarde de outubro em que ter fome
tem o sabor da fome que se sente;

ou, como uma asa prova o ar que a sustenta,
partilhar do que é túmido e sem nome.
na calma completude em que se inventa.

 

FRUTOS

I - Estes frutos que o dia me oferece
II - Maçãs: não vos cantei como devia
III - Laranjas, de áurea cor que o olho medita
IV - Carne suave da pêra, que eu desvendo
V - Dorme – rugoso e espesso – o coração
VI - Apresento-vos, pois: eis a banana
VII - Uma festa de mangas em dezembro
VIII - Teus segredos não foram revelados
IX - O dia em vós se anima, em vossa chama
X - Abacate: entre tons de verde e escuro

 
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