REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


ns | número 63 | março-abril 2017

 








Pedro Silva Sena (Lisboa, 1975). Investigador em ciências sociais, tradutor. Fundou e dirige a revista-blogue de poesia
Inefável e as Edições Bicho de Sete Cabeças. Publicações: Cancioneiro do Absurdo (1999); Poemas de Cal (2004); Monumentos (2016) e Joel (ficção, 2015). Colaboração literária dispersa por revistas e antologias. 

PEDRO SILVA SENA

Composição sem Paragem

 

Pedro Silva Sena

Lisboa | 2016

 

Ópera de Benavente


Hoje até um cão me ladrou
quando cheguei à estação
o comboio tinha partido
perdi o barco
falhei o voo
o sol brilhou assim-assim
e agora vejo chover sem fim.

As moscas bailam no ar
na sala do terminal rodoviário de Benavente
uma cachopita a saltar sorridente
no colo da avó
negra de luto
negra de dó
pelo marido que era só
bruto.

 

Colagem ou um poema de raiva

Afinal não valias nada,
eras de papel de jornal
plástico, elástico
cordel, atacador de sapatilhas
e as maravilhas que prometias
vinham numa lata de ervilhas
barata, estupor.

 

Um Corte à Medida

 

 

Sorriso
de gola e banda

olhar
de viés

gestos
de pesponto

pose debruada

e pronto:
um retrato da cabeça aos pés.

 

       Ao Alberto Augusto Miranda

 

Relicários de beijinhos trocados.
Bestiários de burrinhos de gesso.
Breviários de anjinhos lacados.
Diários de bichinhos em congresso.
Aviários de piu-pius amarelos
cócórócócós e farelos
em excesso.

 

Balada de Portugalete

Um estalo como lembrete
Um condutor sem livrete
Uma moeda com verdete
Uma nódoa na carpete
Um suspiro em vinagrete
Uma mentira é um barrete
Seis mais um são sete.

 

Exercícios de Rima

 

 

A cegonha não sonha

E a gaivota não vota.

 

Os pardais não lêem jornais

Nem a foca faz tropa.

 

A cobra não cobra

Nenhuma avestruz deduz.

 

Mas o elefante terá o desplante

Se a obreira fizer carreira.

 

 

Trega-Lenga

                                               À Patrícia Alves de Matos


Ali onde todos os dias
passo,
ali onde o passo é o mesmo
todos os dias

passo mas não sei se o dou
dou-o mas não sei se é passo,
ou se alguma perna minha
se enganou
e
se adiantou
a um qualquer encalço.

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
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