Revista TriploV
ns . nº62. janeiro-fevereiro 2017 . ÍNDICE

 
 

Ko Un, 1933, é um poeta sul-coreano, já várias vezes mencionado como favorito ao Prémio Nobel.

Os poemas aqui publicados foram extraídos do livro What, 108 Zen poems, com traduções para inglês de Young-Moo Kim & Brother Anthony of Taizé.

 

KO UN

 «Eco» e outros poemas

Trad. de Francisco Craveiro de Carvalho
 

Eco

 

Às montanhas ao crepúsculo:

Que sois vós?

 

Que sois vós sois vós...

 
 

Bebé

 

Antes de nasceres

antes de o teu pai

antes de a  tua mãe

 

o teu balbuciar

estava lá.

 
 

Um amigo

 

Ei! Com o barro que cavaste

Modelei um buda.

Choveu.

O buda voltou a ser barro.

 

Tão sem sentido como os céus limpos após a chuva.

 
 

Colheita

 

Os ditos de um patriarca são apenas

espigas num campo

e este ano de colheita fraca

com elas...

 
 

Lua

 

O arco tenso.

Tuang!

A seta acerta

                              no teu olho.

 

A lua nasceu junto à dor da tua escuridão.

 
 

Um sorriso

 

Shakyamuni segurou um lótus

para que Kashyapa sorrisse.

De maneira nenhuma.

O lótus sorriu

e Kashyapa sorriu.

 

Shakyamuni não estava em lugar algum.

 

 

O vento

 

Nunca implorem misericórdia ao vento.

Lírios altos selvagens lírios brancos perfumados

lírios de um só dia e outras flores parecidas

quebrados os vossos caules

dai novos botões. Não é tarde de mais.

 

Estrela cadente

 

Uau! Tu reconheces-me.

 
 

Verão

 

O girassol cego segue o sol.

A dama-da-noite cega floresce ao luar.

                         Tolice.

É tudo o que sabem.

As libelinhas voam de dia

                                  os besouros de noite.

 
 

Uma noite sem lua

 

 A lua não nasceu

contudo as duzentas milhas

entre nós

brilham toda a noite.

Aquele cão que morrerá amanhã

                          não sabe que vai morrer.

Está a ladrar ferozmente.

 
 

Mosquito

 

Fui mordido por um mosquito.

Mil obrigados.

Porquê, estou mesmo vivo.

                Coçar coçar.

 
 

Descendo uma montanha

 

Olhando para trás

           Ei!

Não há vestígio da montanha que acabo de descer.

Onde estou eu?

A brisa de outono agita-se e fica sem vida

           como a pele largada por uma serpente.

 
 
 
 
 
 
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