ISSN 2182-147X  . EDITOR | TRIPLOV . Contacto: revista@triplov.com . Dir. Maria Estela Guedes . PORTUGAL .
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Revista TriploV de Artes, RELIGIÕES & Ciências . Ns . Nº 58. maio-junho 2016 . Índice
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Pedro Sevylla de Juana nasceu em plena agricultura, lá onde se juntam La Tierra de Campos e El Cerrato, Valdepero, província de Palencia, em Espanha; e a economia dos recursos à espera de tempos piores ajustou o seu comportamento. Com a intenção de entender os mistérios da existência, aprendeu a ler aos três anos. Aos nove iniciou seus estudos no internado do Colégio La Salle de Palencia; seguindo os superiores em Madri. Para explicar as suas razões, aos doze se iniciou na escrita. Cumpriu já os sessenta e nove, e transita a etapa de maior liberdade e ousadia; obrigam-lhe muito poucas responsabilidades e sujeita temores e esperanças. Viveu em Palencia, Valladolid, Barcelona e Madrid; passando temporadas em Genebra, Estoril, Tânger, Paris, Amsterdã, Villeneuve sur Lot e Vitória ES.
PEDRO SEVYLLA DE JUANA

Brasil - Sístoles e diástoles

Editorial Verbum Colección Poesía

Dirigida por Pedro Shimose

La colección Verbum Poesía ha mantenido desde sus inicios la vocación de dar a conocer voces poéticas de sostenido prestigio en sus países de origen, pero poco o nada conocidas en España (Gastón Baquero, Hugo Gutiérrez Vega, Santiago Sylvester, Mario Merlino, Leopoldo Castilla, etc., de Hispanoamérica; So Chongju, Chunsu Kim, Yun Tong-ju, Chon Sangbyon, Yi Sang, etc., de Corea; Tawara Machi, de Japón; Tugrul Tanyol, de Turquía; E. E. Cummings, Steven White y Louis Bourne, de Estados Unidos; Veronique Tadjo, Babacar Sall, Jean-Luc Raharimanana, etc., de África); así como de autores españoles (Carlos de la Rica, Luis Antonio de Villena, Jesús Hilario Tundidor, Antonio Gamoneda, Pablo Guerrero, Ana María Facundo, Antonio Colinas y Vicente Cervera, entre otros).

 

PEDRO SEVYLLA DE JUANA

 

BRASIL - Sístoles e diástoles

“Isto que vejo, tão complexo, tão exuberante, tão diverso, tão pobre, tão rico, tão escuro, tão colorido, tão árido, tão fértil, tão débil, tão forte, tão violento, tão terno; isto e mais: um conjunto de energias que somam e restam, um enigma intrigante que devo interpretar por mim mesmo; todo isso e bem mais, que não vou compreender nunca, é BRASIL”.

 

Matéria e energia, em sua cópula engendraram,

sístoles e diástoles:

o primeiro hálito de vida.

PSdeJ

 

Dedicado a Ester Abreu, extraordinária pessoa;

e aos amigos de língua portuguesa.

 

Anotação do autor:

A minha poesia nasceu do impulso do leitor e escritor que ia sendo. No princípio foi o verso; e em contato com a realidade, o verso se fez prosa. A prosa primeira foi prosa poética; e o passo do tempo, com sua insistente roça, fez dela contos, ensaios e novelas. Mas na profundidade da mente, o verso dormitava. Cheguei a Brasil, a sua literatura originaria e modernista, regressou o verso, e três anos depois se corporizou este livro. O portugés que utilizo na tradução, é solto, ágil e tão livre como Brasil o aceita, como Brasil o quer.

Conheci a Francisco Aurelio Ribeiro na sede do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, em Vitória ES. Pronunciava ele uma palestra, onde fazia uma análise crítica da obra dum prestigioso poeta. Ali percebi sua capacidade de síntese e análise, sua olhada certeira e a expressão ajustada à realidade contida nos poemas. Encontrei-o de novo na Academia Espirito-santense de Letras, onde presidia uma sessão de trabalho com vários académicos. Trabalhador consciencioso, intelectual sólido, pessoa singela, culta e cabal em todos os aspectos. Li, depois, o seu ensaio sobre uma novela publicada com sucesso. Nesse trabalho estuda a obra em seu contexto de género literário, e no espaço e tempo abarcados pelo argumento, estilo e pensamento. Compreendi então, que Francisco Aurelio devia escrever o prólogo do livro que estava terminando. Pedi-lhe o favor, aceitou, e aqui está o resultado:

Prólogo

Por Francisco Aurelio Ribeiro

Pedro Sevylla de Juana, escritor espanhol nascido em Valdepero, província de Palência, na Espanha, me pede para fazer o Prefácio para seu mais recente livro, esta obra magistral “Sístoles e Diástoles”, que tendes em mãos.

   “Sístoles e Diástoles” é uma obra híbrida em todos os sentidos, pois mescla espanhol e português, poema e prosa, filosofia e literatura, realidade e imaginação, subjetividade e objetividade, individualismo e socialismo. Pós-moderna em sua essência, apresenta a inquietação própria de nossa época, o deslocamento clássico de estilo, “em que o individual e o coletivo, o expressivo e o linguístico, o mimético e o abstrato conheciam um relativo equilíbrio“ (cf. SUBIRATS), no ecletismo linguístico e temático em que se estrutura.

   Na primeira parte, “Sístoles”, constituída de 16 poemas em tamanhos diversos e um texto em prosa poética (“A visita do Deus”), o poeta busca recriar o que chama de “movimentos sistólicos (que) concentram o universo, desde um instante anterior ao ponto de não volta na expansão, até conseguir que toda a matéria e a energia toda ocupem um espaço mínimo”. Assim, os poemas iniciais têm uma marca filosófica do princípio gerador do universo e seus títulos dialogam com o conteúdo ontogênico dos seres: “O homem essencial”, “O primeiro princípio”, “A humanidade e as suas coisas”, “O mito da amada”, “O triunfo da primavera”, “O jogo da vida”, dentre outros.

   O que caracteriza a poesia essencialmente como gênero literário é a sua natureza mimética (Platão e Aristóteles), ética (Horácio) e estética (de Vico aos nossos dias). Como “Vida é obra, e obra é vida”, a poética de Pedro Sevylla de Juana aglutina todos esses elementos. No primeiro poema, por exemplo, há a temática da criação do homem, o que remete ao mito bíblico, sob uma perspectiva socializante: o homem é fruto do trabalho de Deus, pão cuja única diferença é a cor/crosta, cuja substância não varia. Esse homem criado por Deus luta com a natureza e cria os rituais de celebração, as leis e os ofícios, “a organização social, a administração da justiça, a liberdade de eleição e a igualdade na linha de partida” (“O primeiro princípio”). E assim surgem a família, os clãs, as castas, a humanidade, a hierarquia, o comércio e o preço das coisas. O poeta/profeta, no entanto, alerta em dicção profética: “Mas se queremos que a gente modifique sua maneira de ver as coisas e avalie atributos primordiais como a beleza das linhas, a utilidade prática, o som do vento ao abraçar sua superfície, a suavidade do tato, a natureza da substância originária, devemos tirar o preço que um dia se pôs às coisas” (“A humanidade e as suas coisas”).

    Pedro Sevylla de Juana vai elaborando sua poética e reconstruindo em cada poema elementos dos textos bíblicos, do Gênesis ao Apocalipse, revelando-nos que não são as coisas, por si mesmas, que provocam o ser humano, mas os aspectos transitivos das coisas, através dos quais elas se materializam e se manifestam, provocando nossos sentidos, nossa sensibilidade ou nossa consciência. Em alguns poemas, há o predomínio do eu, da subjetividade, “O rebanho ao que pertenço”, “O economicismo e eu”, em outros, é explícita a preocupação com o outro, o olhar sobre o mundo: “Fome”, “As mães famintas”. A primeira parte encerra-se com um texto em prosa poética, “A visita do Deus”, que trata da criação do elemento divino e de suas repercussões entre os homens. Texto mitológico, onírico, apocalíptico, estranho como o próprio homem, o único animal realmente fantástico segundo Sartre, pelo uso da imaginação.

   A segunda parte, “Diástoles”, que, segundo o autor, é “tendência centrífuga cujo ponto extremo resulta impossível de manter no tempo sem escapar à lei da Gravitação Universal, momento no que se iniciam os movimentos sistólicos de concentração. E assim uma e outra vez”, o poema inicial é “Vida é obra, obra é vida”, que tem como tema a professora e escritora brasileira Ester Abreu Vieira de Oliveira. Não por acaso, o poema está no centro da obra e inicia o segundo movimento da obra de Pedro Sevylla de Juana em que português e espanhol se amalgamam como no princípio dos tempos em que era uma e mesclada. Os outros poemas “A vitória do desejo”, “O sonho do escravo”, “A eterna fugacidade”, “Transparente confusão” e outros tematizam figuras, imagens, recorrências de dois mundos, Europa e América, de dois tempos, passado e presente, de dois enfoques, o eu e o outro, não fosse toda a obra de Pedro Sevylla um duplo, sístole e diástole de dois mundos, o real e o imaginário.

   Belo exercício de metalinguagem pode ser lido no texto poético, reflexivo e filosófico sobre os “Trabalhos do Tradutor”, uma verdadeira aula de como se fazer um poema sobre as dificuldades de se traduzir um poema de outra língua, tema pouco usual na poesia. Também em “O meu sonho sertanejo”, uma excelente contribuição à leitura da obra de Manuel Bandeira, um dos maiores poetas do Modernismo brasileiro. Em “O último clochard sobre a terra”, Pedro Sevylla homenageia o homem simples, filosófico, desapegado de bens materiais, que escolheu uma esquina de Villeneuve sur Lot, na França para viver seus dias, enquanto em “Solta de pombas”, os homenageados são os poetas líricos de lá e de cá: Joaquim Machado, Cecília Meireles, Castro Alves. Em “O rosto desvelado”, o poeta encontra no amor “O rosto do universo” e em “Morri”, que pretende ser seu último poema, póstumo, faz a síntese entre as imagens de Brasil e Espanha, de sítios históricos e imaginários, de pessoas, sentimentos e coisas de ambos os mundos, uma suprarrealidade só possível pela imaginação e pela paixão. Nele o autor se permite sonhar uma saída para o Brasil, a mesma cruz delineada por Gilberto Freyre:  “equilíbrio harmônico, conjunção ajustada de elementos múltiplos. E o equilíbrio instável e ativo, recomposto depois de cada dispersão”.

   Após mais dois poemas antológicos, repletos de referências intertextuais, “Um passeio pelo campo-santo” e “A lei da Gravitação Universal”, chega-se, com pena, ao texto final “O elevado voo do veleiro” e como um novo Rimbaud somos levados pelas velas da imaginação do poeta e nauta Pedro Sevylla de Juana a singrar os mares da pura poesia. “O papel do poeta é inventar a poesia”, disse Suhamy, e assim o faz Pedro neste seu último poema, segundo ele, gestado por seu iberismo cultural, seu universalismo, que o levou a buscar as fontes de sua poesia em terras de Espanha, Portugal, França e Bahia. No entanto, foi o Espírito Santo, a terceira pessoa da Santíssima Trindade, que nomeia nosso estado,nas montanhas capixabas, que lhe veio o sopro inspirador para criar o barco da “Nova Era”.

   Pedro, espero que os leitores de seu magistral livro gostem tanto dele quanto eu, e que saibam ver e sentir nele muito mais do que consegui expressar nestas linhas introdutórias. Um forte abraço do

 

Francisco Aurelio Ribeiro

(Professor e Doutor em Letras.Presidente da Academia Espírito-santense de Letras)

Vitória do Espírito Santo, fevereiro de 2016.

Pedro Sevylla de Juana

EN EL CORAZÓN DE BRASIL

Epílogo de Renata Bomfim

Como has podido ver, lector, “BRASIL, Sístoles e diástoles” es un libro singular, decisivo, concluyente. Originalidad al servicio de una prosa y una poesía hermanadas: relatos autónomos cerrando cada apartado, y un poema con introducción y conclusión explicativas. Destacan en el libro, aspectos como el engarce de los elementos constituyentes, la cimentación de una cosmogonía que convierte al yo lírico en poeta/profeta, poniendo la mirada y la intención en cuestiones sociales como la pobreza y el hambre, de modo que enfrenta a los lectores con sus propios conceptos y sentimientos humanos. El ejercicio convivencial se instaura en la interrelación y en las palabras que la propician, empujando a los humanos -viajeros estelares- por caminos inusitados.

Un texto debe ocultar a la primera mirada, al primer encuentro, “la ley de su composición y las reglas del juego”, como destaca Jaques Derridá en “La Farmacia de Platón”. Así nos encontramos con un Pedro Sevylla muy diferente al de sus obras poéticas anteriores: artífice múltiple, objeto de interpretaciones diversas y complementarias. La especial característica de esta obra me inclinó a optar por una lectura crítica, que no pretende desnudar sus significados más íntimos, ni dominar su entramado; antes bien fluir con el lirismo fluente, degustando el sabor agridulce de la escritura.

El escritor español, al referirse al Brasil, muestra sus vivencias, fruto de la captación de los ritmos, sabores y colores de un País, el mío, que no permite una fácil definición. Para ese cometido, fue preciso que Pedro Sevylla explorase el devenir brasileño, caminando por campos y ciudades, entrando en el pensar de las gentes, lo que permite a las palabras expresar la agitación del corazón. Estoy segura, lector, que como yo, usted sintió la energía que une amorosamente, los campos de trigo de Valdepero, en España; con la Mata Atlántica, en Brasil.

Me siento feliz por haber recorrido la senda creativa del autor en la composición de esta obra. La curiosidad por la cultura, permitió escrutar, como buscador de oro, plata o diamantes, las riquezas de cada región brasileña, hasta llegar a Vitória, ES, atraído por la Ley de la Gravitación Universal; desde cuya Bahía ascendió el “Nova Era”, su velero cósmico.

Estamos ante el creador de un hombre análogo y diverso: pan hecho de las harinas de todos los cereales –igual composición distinta estampa- cuando aún no existía la especie humana. Conformado el hombre, viene la necesidad de crear a Dios. En el poema “El primer principio”, la mente descansada crea un Ser “único y primigenio”, y a partir de ese acto fundacional, puede poner en marcha, con todas las prevenciones posibles, la “Sociedad Global”.

En las “noches mágicas y míticas”, la mujer amada surge en los sueños imprecisos y repetidos del yo lírico. Soñando con el eterno femenino el milagro sucede: “El triunfo de la primavera”. Música, color y bienestar, pasan a formar parte de ese Universo que, antes solo conocía los “hielos invernales”. Al fin, el paraíso está completo y Pedro Sevylla nos facilita la introducción a un nuevo “Génesis”, basado en “parábolas ya olvidadas y viejos símbolos actualizados”.

La “Utopía llega a ser alimento y esperanza de criaturas quebradizas” que, sedientas de amor y justicia distributiva, ansiosas de sembrar ”la paz, el perdón, la valentía, la libertad”, inician un camino en busca de sí mismos. El “economicismo” hace que el corazón del yo poético “se agite de agonías”, la economía de mercado empuja la deriva de los continentes y “acelera el paso del Universo”. El “hambre” dos sílabas tan solo, se vuelve palabra de orden en un “recuento incesante de la realidad trágica”.

Ante ese escenario el yo lírico se posiciona. El poema “Vengo a decir” apunta al origen del problema: “las carencias de los necesitados parten de la mala distribución de la abundancia”, el yo poético exige leyes que acaben con la acumulación y el despilfarro. Es el “grito” del hombre decidido, el que da voz a las criaturas humanas y no humanas. La humanidad necesita avances, ese es el movimiento de Diástoles, expansión que convierte la vida en arte y el arte en vida. La proximidad ansiada acerca al poeta al “Solar da Ester”, Ester Abreu, anfitriona solícita; y al espacio acogedor de los amigos brasileños. Emergen como espacios privilegiados de la inspiración de Pedro Sevylla, Os Sertões, São Paulo, Rio, Bahia, Pernambuco, Espírito Santo y, especialmente, la Isla de Vitória. Es ahí, donde conoce a personas admirables, cargadas de ilusión, visitando las turbadoras Comunidades Verticais; y a esforzados intelectuales de la investigación, la creación y la docencia.

El poema “La Victória del deseo” revela el ambiente plural y misterioso, en el que Leda ama a los Cisnes Blanco y Negro. Quizá el bien y el mal, buscando sintonía, se equiparen en una poética que pide equilibrio y armonía. “La eterna fugacidad” del encuentro y del amor se explicita y, así como la brisa, el objeto amado se va, dejando en el aire solo un rastro perfumado. El yo lírico explaya sus sueños y dialoga con Manuel Bandeira, Carlos Drummond, Cecilia Meireles, Hilda Hilst, Castro Alves, Gilberto Freyre, Euclides da Cunha, Guimarães Rosa; a quienes ha leído y traducido al castellano como testimonio de admiración y aprecio literario.

Conferenciante, también, sobre su propia obra en la Universidade Federal de Espírito Santo; el conocimiento de sí mismo acerca al poeta a la revelación: momento epifánico en el que vislumbra “El rostro del Universo”: carne, sangre, espíritu; belleza que es el canto del alma innombrada. Pero, esa no es aún la visión concluyente del misterio universal, pues, acercándose a la faz de la belleza, el poema se acerca a la hondura de un beso de eternidad, donde vislumbra también, el imposible fin de ciclo. El poema Morí lidia irónicamente con la Gran Dama de dedos de terciopelo: no hay miedo ni arrepentimiento ante la muerte.

Transmutado por las experiencias vividas a intervalos desiguales: amor, dolor, desilusión y esperanza; siguiendo impulsos razonados y emocionales, el yo lírico cumple su destino. Todo fin presupone un nuevo comienzo. Así, el poeta intensifica “la búsqueda de la cruz de la armonía/ vacilante/ equilibrada/ activa”, lanzando la rúbrica de su firma como una flecha. Da soporte a todo gesto, el propio principio activo: “Lucha hasta el equilibrio es mi divisa”.

“El vuelo del velero Nueva Era”, largo poema épico, da fin a la parte poética del libro. Entre vibrantes ejecuciones musicales, describe la desesperada huída y el esperanzado retorno a este planeta nuestro, herido de muerte por la acción destructiva del hombre. Un hombre que es culpable y víctima inexorable. Un planeta sumido en la angustia de la mayoría, empobrecida por la acumulación extrema de las riquezas. El vuelo del velero recorre el espacio existente entre la escapada del desastre y el regreso a un planeta reverdecido, casi intacto.

Renata Bomfim

Es Mestre e Doutora em Letras pela Universidade Federal do Espírito Santo/UFES. Escritora, ensaísta, poeta e acadêmica da Academia Femenina Espirito-santense de Letras, cadeira 16. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo e da Academia Mateense de Letras. Educadora socioambiental e editora da Revista literária Letraefel.

Palavras finais

Cerebro y corazón a partes desiguales, los poemas de Pedro Sevylla de Juana en este su vigésimo cuarto libro, son flexibles. Sístoles y diástoles en la forma, se van conformando a borbotones ordenados. Expansión y contracción del tiempo y del espacio, el poeta persigue un imposible punto de fusión definitivo. Trata de ser su poesía imagen y expresión del Universo íntegro; y el yo poético, sincero como premisa única, persigue expandirse en plena libertad. Sinceridad y Libertad le traen donde está. Y asegura que entre sus convencimientos y él, elije a sus convencimientos. “Conquistó mi reverdecido interés el Universo inconcluso. Trazando van las estrellas su vía esplendorosa hacia la nada inagotable, estadio final que no es más que el principio de una evolución sin término -sístoles y diástoles, rotación y translación- eternizada por la sublime entrega del general convenio, a la euritmia que origina las conocidas músicas estelares, luz de luces titilando.

 

A grande hispanista brasileira, Ester Abreu, escreveu: “Pedro Seylla de Juana: tem uma linguagem poética autêntica; é move as palavras com a propriedade de um regente de orquestra, para produzir harmonia; é lançar silêncios em palavras, e palavras que subam, que voem até as nuvens e aos espaços siderais, e desçam ao interior da terra, aos pântanos, aos mais infernais caminhos dantescos; é assim representar e imaginar no “irreal’ e projetar-se na verdade de uma maneira peculiar. Elas vêm à luz na recriação do mundo por um ato livre e voluntário que se liberta do inconsciente nas palavras para serem absorvidas pela ação do leitor, como nos mostra o conceito de poemas de Pedro Sevylla:Los poemas son jaulas que el lector abre, para que el águila o el colibrí escapen.”

 

 


Brasil - Sístoles e diástoles
Seleção

 

O primeiro princípio

 

Assim que a indómita Natureza

facilitou ao homem abatido e exausto

um momento de trégua,

as inteligências reflexivas dedicaram suo denodado esforço

a escrutar enigmas de enganosa aparênçia: 

o sopro vital de mente e corpo, 

os pontos de saída e confluência 

e o sentido último do Universo. 

 

Desse processo intelectual

surgiu um Ser único e primeiro,

arranque e fim de tudo o existente e existido

por desejá-lo eterno; 

                                   e por considerá-lo infinito:

um Ser enorme que contém em seu seio o Firmamento

 

O homem identificou ao Ser com o bem soberano,

tão generoso que permite a existência do mau,

tão forte que o vence a cada dia.

 

Em lugares elevados

ou em cruzamentos de caminhos,

erigiu altares bem dispostos

para oferece-lhe dons e sacrifícios

 

Fundou ordens de ungidos sacerdotes, 

de sacerdotisas intactas e obedientes; 

encarregados de pronunciar -os menos lerdos- a última palavra

sobre o bom, o mau e o indiferente;

e de arrecadar -os mais fornidos- primícias e dízimos 

com os que levar o credo a todas as gentes. 

 

O homem comprovou com satisfação velada

que a existência do Ser dava resposta a qualquer pergunta,

a qualquer inquietude humana: 

a organização social, a administração de justiça, 

a liberdade de eleição e a igualdade na linha de partida.

 

O homem se dedica desde então por inteiro,

a pôr em marcha a sociedade global, 

a da tribo única e o regrado pensamento,

sete mil e quinhentos milhões 

de ativos consumidores e votantes satisfeitos. 

 

A união e a força

 

Chuvasco, aguaceiro, chuvarada:

se ouve o murmúrio da chuva nos cristais,

dilatadas pupilas da casa;

rítmico repenique, monótono, insistente

furioso em algumas ocasiões

sossegado às vezes.

 

Como se foram essas aves viageiras,

que empreendem o périplo migratório

prelúdios de inverno ou primavera;

como estorninhos dispostos a iniciar seus vôos acrobáticos,

as diminutas gotas esperam atadas umas a outras,

unidas às telhas do telhado,

ao vidro agarradas, submissas às esplendorosas folhas

dos choupos erguidos no plano.

 

A lei reprova sua conduta, ´

restringe valiosas liberdades,

e as gotas reclamam o direito de fusão

para formar gotas mais grandes.

 

Quando seu número basta

e chega ao peso crítico o volume congregado,

se deslizam rápidas

janela abaixo, parede ou tronco abaixo,

para a horizontal impávida,

tons cinzentos ou pardos.

 

Refresca o bochorno dominante

o ar aligeira sua presença

e no precipitado ataque,

receosas se estrelam

-terra, pedra ou folhagem-

contra um solo que opõe minguante resistência.

 

Cessa o repiquete

o sussuro compassado declina,

e as gotas grossas

-soma da soma das mais exíguas-

extenuadas, abatidas, doentes,

reúnem em charcos dispersos suas forças rendidas.

 

Chegam daqui e dali, de todas partes;

se juntam, formam balsas e lagos,

se multiplicam, transbordam, invadem

e no rego gestante de hostilidade e fúria,

incorporam o coragem a uma marcha imparável.

 

Vão rua abaixo, empurrando obstáculos

rompendo presas, abrindo caminhos,

içando cajados,

foices, forcas, lanças, gadanhos;

com o bronco canto dos rebeldes

que lavram profundo

seu

próprio

sulco.

 

Transparente confusão

 

Vislumbre sou eu no espelho de tuas dúvidas,

obelisco de névoa na interceção de caminhos;

quebrantadas promessas

e desvinculados compromissos.

 

Só, sem ti,

na obscuridade de tua ausência prolongada,

vazio desse brio promissor do efeitos positivos,

sou incapaz de ser

quem em realidade

sou.

 

Sem ti sou

quem não quero ser

e, às vezes,

nem sequer isso.

 

Somente em ti:

espaço, tempo, ideias, propósitos,

vontade e atrevimiento;

ser humano, fêmea de lábios nutrícios,

peito generoso

e cabelos em cascata sobre os ombros

nus;

só em ti sou eu,

o eu herdado de meus antecessores sucessivos,

sentimentos tão puros

como a aurora do dia inaugural.

 

Cresce em ti minha consciência de existir,

de ser,

de ir desde oriente para esse ocidente que orienta.

Tua complexa simplicidade,

tua diversidade ingénua

definem em mim essência e existência,

as individualizam

livrando-as de escarpas

alcantilados

e rupturas.

 

Voo na tua esperança,

vou a ti, incólume,

vencendo a lei da gravitação universal

que nos atrai e nos separa

na infinita eternidade.

 

Unicamente sou eu

em esse amoroso sorriso teu

comprensivo

das minhas insuficiências e excessos,

desequilíbrio

que somente tu estabilizas.

 

No teu interior, na fundura,

na profundidade de teus convencimentos

encontro fundamento firme

e sou

quem eu quero ser

depois do esforço

que me leva acima.

 

O meu sonho sertanejo

 

Estrela da manhã e Libertinagem manuscritos,

viagem de circum-navegação elíptica:

além do Recife, Rio, Santos, São Paulo e Rio;

até chegar a Totônio Rodrigues e a rua da União.

¿Que fazia aquela noite

-poesia e música da mão, pintura e poesia

caminhando juntas-

Bandeira, no Sertão, diálogo afetivo

com um escritor espanhol e uma 

pesquisadora capixaba?

 

Pergunto,

que fazia aquela noite,

farto do lirismo comedido

farto do lirismo bem comportado,

do lirismo funcionário público,

desejando ser um poeta crítico e selvagem

peixe emergente das águas abisais

fera nas interioridades selváticas?;

que fazia essa noite no Sertão,

-sorriso insatisfeito, mitológica olhada,

autocrítica memoria-

em aparente atitude latifundista?

 

Sonhava eu o sonho de sempre:

a humanidade satisfeita de suas coisas

e os açambarcadores devolvendo o comum;

o sonho era meu

e Bandeira o habitava:

Abaixo os puristas!

Abaixo o lirismo namorador!

Abaixo o lirismo que capitula!

 

Sinto ainda o eco de suas palavras

no pavilhão de meu ouvido

esquerdo

-o direito

                  ouve distorcido-

e faço meu o seu protesto, praça acima,

cenáculo literário abaixo:

-Não quero mais saber do lirismo

que não é libertação.

 

Um sonho de liberdade e de justiça

distributiva,

o sonho dos representantes

servidores dos representados,

era meu sonho aquela noite no Sertão.

 

Discutíamos Ester Abreu e eu

sobre alguns aspectos confusos

de Dom Juan, baixando

aos infernos para surgir de novo:

andrógino,

triunfante,

celestial.

 

Se desenvolvia o sonho,

intemporal ou com os tempos misturados,

num Sertão imaginário

que era a soma

dos Sertões de Euclides da Cunha,

Guimarães Rosa, Graciliano Ramos e Jô Drumond:

aridezes existenciais, aleph, vidas secas,

horizonte além do horizonte,

utopia.

 

E se sucedesse: pensei um instante: que Pasárgada

ocupasse um extremo imaginário do Sertão?,

o correspondente à Utopia, exempli gratia;

ou ao exoplaneta Gliese 581 g

onde a felicidade pende dos galhos nos árvores,

sendo o ar maná alimenticio;

e Manuel chegasse alí

num momento de fundo desânimo,

desde a casa da Rua do Curvelo

no interior da ânfora de sua tristeza mais triste:

Não sei dançar,

meu verso é sangue,

cai, gota a gota do coração...

 

Grita, ri, vive!: exclamei: Manuel Bandeira;

alegra-me que coincidamos na função liberadora,

detersoria,

da poesia.

Fica a vontade no meu sonho sertanejo:

convidei:

não a Veneza americana

não o Recife dos Mascates,

neste Sertão de Sertões gris e gélido,

vozes simbolistas, parnasianistas, modernistas

sequedade na garganta,

imaginando com Ester e comigo

o triunfo último de don Juan

convertido

em fêmea

feminista.

 

Vou-me

embora para Pasárgada: disse,

mãos nos bolsos vazios,

olhada displicente:

poesia ao serviço da imaginação.

 

E vi-lhe marchar ao longe, sonho adiante,

convidado por Baudelaire,

quando o sonho acordava em mim

e os livros se fechavam:

correção do professor Veríssimo:

Capibaribe!, Capiberibe!

A lei da Gravitação Universal

 

Quando a minha desbordante imaginação

creu escutar o primeiro dos três avisos

-sinos celestiais repicando e dobrando,

apocalípticas trombetas e tambores

capazes de encher com seu grito bronco os enormes

ocos do silêncio cósmico;

e nel Planeta Terra

os recursos humanos em poder duns poucos

indivíduos desumanos-

advertências anunciadoras do fim do Universo;

minha desbordante imaginação sentiu a necessidade

de dispor dum Ser sábio, justo e forte

que impedisse a continuidade do processo destruidor.

 

Entendi a explicação, ao que parece, científica,

que a imaginação teve a bem confiar sobre

a origem do fim universal, e aqui a exponho:

Tendo chegado a seu termo a expansão

dos quase infinitos corpos celestes,

atingidas umas distâncias, entre si, descomedidas,

a Lei da Gravitación Universal,

-inevitável até então-

ficava sem efeito e, desorientados estrelas e planetas

começaram a chocar uns com outros

a velocidade exorbitada.

 

Só podia interromper a gigantesca colisão

um Ser tão forte ou mais que o Demiurgo Criador,

quem deixando comandar às indecisas Leis Naturais

dorme o sonho iniciado ao final

das esgotadoras tarefas de arquiteto.

 

Pareceu-me laudável sua intenção, mas adverti

que, um Ser assim, tinha sido imaginado milhares de vezes,

quiçá milhões, coletivo ou individualizado;

dispondo ao redor dele

uma parafernália envolvente com jeito

de caparazão de tartaruga.

 

Se faz necessária, nesse caso, respondeu,

uma posta em ordem, uma actualização,

que valorice os conhecimentos conseguidos

pela perseverança posta na investigação

da parte inconformista da humanidade.

 

Luz será, expôs, já postas as mãos à obra,

todo Ele luz: um resplendor de intensidade máxima,

que elimine os ângulos escuros na debandada

planetaria, ou em seu regresso ao ponto inicial.

 

De areia será o Ser imaginado:

de areia recolhida grão a grão duma praia de Vitória:

a ampla Camburi: ferro e carvão diluidos;

e nos areeiros ásperos que, em Valdepero,

se encontram trás o Campo-santo e a Ermida.

Areia todo Ele, gotejando pelo orifício

central, união separadora de dois cones opostos

em posição mudável: aurícula e ventrículo,

continuidade, Ele, do tempo intermitente

medido e contado em gigantesco relógio de areia.

 

Deste jeito

continuava o projecto minha imaginação,

desbocado já seu impulso criativo:

Um poço de sabedoria será; de onde o homem extraia

inumeráveis caldeiros.

Um livro grosso onde se possa consultar

qualquer assunto,

qualquer data, qualquer significado

que qualquer pessoa, animal, planta ou pedra;

necessitem conhecer para um fim preciso

ou impreciso, próximo ou afastado.

 

Um recipiente capaz, uma profundesa, também;

para que o homem arroje todos seus desafetos;

sumidouro

de substâncias

residuais.

 

Espelho espacial no céu nítido, charcos de chuva

ou lâminas de obsidiana em cada cotovelo, será;

para que as criaturas animadas e inanimadas

se possam ver como o Ser as vê no momento;

para que a cada um saiba o que pode esperar

do Ser e corrigir sua própia andadura

se fosse necessário e assim o desejasse.

 

Já que não pode existir democracia representativa

na eleição do Ser, por sua unicidad irrepetível;

Ele mesmo, elegerá conselheiros humanos, que acrescentem

a sensatez da Humanidade nas questões

que à Humanidade afetem:disse,

me assombrando uma vez mais e mais que nunca.

 

Cinco únicas palavras,

unidas numa frase engenhosa

que seja resposta válida para todas as perguntas

formuladas pelo Ser a cada um,

utilizarão os interessados em exercer o posto

com a sozinha possibilidade de mudá-las de lugar.

Serão nomeados conselheiros

quantos engenhosos tenham sucesso na prova.

 

E assim sucessivamente, milénio tras milénio,

os Conselheiros se sucederão no Conselho;

pelo que a realidade lesiva do Ser único e primeiro

criador da Natureza, mas desentendido de suos desajustes,

ficará corrigida com a penetrante perspectiva humana.

 

O fenômeno teve lugar múltiplas vezes:

tudo o existente, em aparência

estouvado, tras suas constantes aproximações

coincidirá num ponto, matéria convertida em energia

constituindo uma esfera ingente e mínima,

à espera duma nova Grande Explosão,

governada, uma vez mais, pela imprescindível

Lei da Gravitação Universal

 

No concernente à atual Humanidade do Planeta Terra,

pode ficar numa inquietante tranquilidade:

se recebeu só o primeiro aviso

e faltam séculos

para que se produza o segundo.

 

O que não pode esperar nem uma hora mais

é o começo da distribuição dos recursos humanos

propriedade injusta, inexplicavelmente tolerada,

duma minoria ínfima de indivíduos desumanos.

 

PSdeJ

 

PEDRO SEVYLLA DE JUANA  

BRASIL

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