Revista TriploV de Artes, Religiões & Ciências . ns . #57. março-abril 2016 . índice



Autorretrato
Julião Bernardes (Portugal, 1944). Publicou 12 livros de poesia e dois de prosa (um deles em colaboração com Rui Cacho). Está representado em diversas colectâneas. Militar, fez parte do Movimento dos Capitães.
 
 

JULIÃO BERNARDES

Porque não creio nesta "democracia"


 
 

 

Há já muitos anos, talvez desde que li os livros de prosa de Fernando Pessoa dedicadas ao social e ao político e A Arte de ser Português, de Teixeira de Pascoaes (numa edição de 1978, de Edições Roger Delraux, reprodução da 2ª. edição, de 1920, mas com anotações e correcções inéditas  do próprio autor, sendo a de 1920 uma cópia integral da 1ª. edição, de 1915), há muitos anos, dizia, que penso que uma “democracia” de fanatismo partidário não vai a lado nenhum – é o que se tem visto. Por mais voltas que se lhe dê, o funcionamento da nossa “democracia” tem sido uma embrulhada palavrosa que nos vai embalando, entre ser e não-ser, sem chegar ao destino da perfeição onde a esperança ainda se alimenta. Nem vale a pena bater argumentos contra tal sistema. Vou apenas basear o raciocínio nos seguintes pontos fulcrais:

 

1º. – o Mundo está em mudança, em variados aspectos que influenciam a governação de qualquer sociedade e não se vê que  os governantes dêem por isso; quase apenas vão gerindo o dia-a-dia, arrastando decisões de fundo, necessárias e urgentes, esquecendo que também na Política tudo tem que, e vai, mudar, queiram eles ou não queiram; há quantos anos ouvimos falar na reforma da Administração Pública, na reforma da Justiça, na reforma de…? Tudo palavras de nos embalar, com que nos mantém adormecidos. Espe- ramos nem sabemos o quê.

 

2º. – “esquerda” e “direita”, seja lá o que isso for hoje em dia – e temos visto como pairam, se desvanecem e diluem… até uma na outra –, têm, impreterivelmente, que conciliar esforços, em benefício do colectivo e, evidentemente, harmonizando os interesses dos patrões e dos trabalhadores, uma vez que não existem uns sem os outros, desaparecido que foi, há muito tempo, o conceito de escravidão laboral tornado necessidade (necessidade declarada mas nunca provada, a não ser pela ganância de maiores lucros); tudo isto me parece lógico, necessário e urgente; não o ver é chover no molhado, é prometerem-nos mais do mesmo;

 

3º. – temos duas pernas e dois braços (“esquerda” e “direita”): tentem andar só numa perna; claro que conseguem, mas todo o dia, todos os dias? E os braços não têm que actuar em conjunto para efectuarem quase todas as tarefas?

 

4º. – as ideologias estão ultrapassadas  – deram o que tinham a dar, mas foram experiências falhadas, por todo o lado; em alguns países disfarçam bem a sua fraqueza… através da força.

***

 

Triste espectáculo a que assistimos quase diariamente, a ver governantes e oposição em permanente troca de atribuição de responsabilidades, por vezes insultando-se, nos jornais, na TV e na Assembleia da República!

Se não se respeitam, como querem que os respeitemos?

Com essa atitude só desvalorizam o que, mal ou bem, vão fazendo. Além do mais, dá ideia de que perdem mais tempo nessas questiúnculas, típicas de meninos mal comportados, que não levam a nada construtivo, do que a planear o futuro e a resolver os problemas que diariamente enfrentamos. Parece terem prazer em complicar tudo. Para se eternizarem no poder?

Por favor! Aprendam a tornar simples o que parece complexo; não compliquem o que de si é simples!

 

Gastam em demasia do que é de todos (devia ser), consigo e com os amigos partidários (até com os opositores políticos, do género coça-me as costas que depois coço-te as tuas); gastam o que temos e o que não temos (por isso os empréstimos) e deixámo-nos chegar a esta situação presente, mais uma vez. O modo como iremos sair deste imbróglio irá determinar o que quisemos ser (por acções concretas ou por inércia).

Sim, ou não, queremos ser um Povo a levar uma vida decente, sem sobres- saltos?

 

 

***

É tempo de mudança!

 

Somos forçados a descobrir uma forma de nos governarmos sem partidos (ou com todos eles dando o que têm de melhor em material humano), criando instituições de controlo e de coordenação realmente eficazes.

 

Portugal não terá uma palavra a dizer? Um Povo imaginativo e aventureiro como nenhum outro, não terá que dar, também neste aspecto, um exemplo de ir na vanguarda das realizações?

 

Espero que o faça.

 

O Povo, em Portugal, em Espanha e na Irlanda, por exemplo, deu recentemente mostras de ter pressentido essa necessidade (a da conjugação de esforços) e, na prática, pelo menos em Portugal e Espanha, obrigou os partidos a encaminharem-se nesse sentido, por mais distantes que pudessem parecer uns dos outros.

 

O Futuro aguarda-nos.

 

Monte Abraão, 12 de Março de 2016

Julião Bernardes

 
 
 
 


 
 
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