Revista TriploV de Artes, Religiões & Ciências . ns . nº 56. janeiro-fevereiro 2016



NOTAS DE LEITURA
FERNANDA FRAZÃO & GABRIELA MORAIS
Viagem da serpente por Portugal. A persistência de um culto?
Por Maria Estela Guedes

 

 

 

 

FERNANDA FRAZÃO & GABRIELA MORAIS
Viagem da serpente por Portugal. A persistência de um culto?
Lisboa, Apenas Livros, 2015

 

Não é a serpente que viaja, possa embora movimentar-se enquanto ser vivo; quem viajou, durante anos, por Portugal e outras terras, foram Fernanda Frazão e Gabriela Morais, autoras de mais um fascinante trabalho sobre a nossa remota História: Viagem da serpente por Portugal.  O subtítulo denuncia o propósito de dar alicerces a uma boa hipótese: A persistência de um culto?

Para provarem a existência de culto ofiolátrico na pré-história da região mais ocidental da Península Ibérica, cujo nome Ofiúsa (Terra das Serpentes) já apela para a investigação, as autoras meteram pés e acelerador aos caminhos, em busca de documentos, traduzidos na maior parte em iconografia. E não há que duvidar: desde antiquíssimos a recentíssimos, são abundantes os objetos em que a serpente se exibe, como tema dominante ou pormenor. Em monumentos megalíticos, na decoração de palácios e catedrais, na heráldica dos municípios, das casas reias e da nobreza, na das artes e ofícios, a serpente aparece regularmente, quer na versão ofidiana, quer nas variantes de dragão e sereia. Passa depois para as lendas, onde é personagem de eleição, com frequência duplicada em ilustração. Nas festas tradicionais, como a do Corpo de Deus, em Penafiel, ainda sai à rua, nos desfiles, enorme dragão que faz corar de inveja os primos chineses.

Servido por abundantes imagens, o livro, além da temática fabulosa para quem se interessa ou precisa mesmo de conhecer a simbologia (fertilidade, regeneração e sabedoria são os três principais conteúdos simbólicos da serpente), tem a aliciante de apresentar resultados de morosa pesquisa numa obra apetecível a todos, especialistas e simples curiosos, neste caso de uma figura dotada de variada carga simbólica, mutável aspeto físico e diversa conotação moral, quando entramos no Cristianismo e os padres demonizam o símbolo, colocando a Senhora da Sabedoria debaixo dos pés de Nossa Senhora, e ao mesmo tempo parecem arrependidos, penitenciando-se, ao exibirem crocodilos e restos de pele de crocodilo no interior de santuários como o da Lapa e de Santa Maria de Cárquere.

 
 
 
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