Revista TriploV de Artes, Religiões & Ciências .
ns . nº 55 . dezembro 2015 . índice







Manuel Cadafaz de Matos
Doutor em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Nova de Lisboa (Jul. 1998). É membro da Academia Portuguesa da História e Academia de Marinha, ex-docente universitário em Lisboa na Universidade Católica Portuguesa (Out. 1989) e na E.S.D. (Prof. Associado); e Prof. catedrático convidado na Universidade de Barcelona (Jan. 2004). Dirige os projectos editoriais das obras latinas de Damião de Góis e André de Resende. É ainda director, desde 1997, da Revista Portuguesa de História do Livro, que se edita semestralmente.
 
 
MANUEL CADAFAZ DE MATOS

O intelectual e o humanista
Prof. Germano F. Sacarrão (1914-1992),
um incentivador de estudos na área da História da Ciência

 
Homenagem a Germano da Fonseca Sacarrão . Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa. Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, 1.10.2015.

 

Antelóquio (no Jardim Botânico de Lisboa, inícios da década de 80):

GFS – Manuel, conseguiu ouvi-los, a eles?

MCM – A eles? A quem (1), Professor?

GFS – A eles, aos pássaros!...

 

 

Os contactos, ao longo de cerca de vinte anos, com o Prof. Germano da Fonseca Sacarrão – caracterizados por uma continuada e creio que mútua e profunda amizade – deixaram em nós (celebrado o centenário do seu nascimento) três convictas conclusões: a de que ele foi, fulcralmente, um cultor da máxima moriniana de uma Ciência com consciência; a de que ele como cientista soube pautar-se sempre por um Humanismo interventivo, ante os problemas sociais do seu tempo; e, finalmente, que essas vertentes coexistiram nele, sobretudo, a par com a de um hermeneuta na área da filosofia da Natureza (por via do estudo da Ornitologia e do comportamento das aves).

 

Conhecemos o Prof. Sacarrão há cerca de quarenta anos, pouco depois de termos lido alguns dos seus trabalhos, nos Estudos de Fauna Portuguesa, de 1974. Já estava a decorrer, então, o Verão quente, do ano seguinte, e quando a colectividade se empolgava com a ambicionada e justificada mudança, nós só pretendíamos obter uma licenciatura em Administração Ultramarina no (pouco depois extinto) Instituto de Ciências Sociais e Política Ultramarina, o ISCSP, da rua da Junqueira em Lisboa.

 

Não podemos esquecer, neste contexto universitário, que foi decisivo o seu trabalho “Cadeira de Antropologia. 1961-1962 a 1963-1964" (2), por nós lido em 1978 (ano do incêndio na antiga Faculdade de Ciências), para trocarmos um curso de licenciatura em Sociologia por um novo curso em Antropologia, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde nos inscrevemos – tal a força que esse seu escrito teve em nós – no ano de 1979.

Edifício da antiga Faculdade de Ciências de Lisboa, na rua da Escola Politécnica, onde trabalhou durante décadas o Porfessor Germano da Fonseca Sacarrão, na escola que mais tarde passsou a dirigir.

 

1. Um cientista invulgar e incentivador de projectos

 

Breves anos depois, nesses fins da década de setenta, a continuação da nossa leitura de alguns outros trabalhos de sua autoria, levaram-nos a procurá-lo, Tal sucedeu numa tarde, pouco antes das férias grandes, na Faculdade de Ciências de Lisboa (praticamente defronte do edifício onde então morávamos, ao cimo da rua da Imprensa Nacional).

 

Ainda hoje conservamos em nós o caloroso acolhimento que então nos patenteou ante os projectos que tínhamos em mente. De tal modo que foi sendo cada vez mais regular, a partir de começos dos anos oitenta, a nossa visita aos sucessivos gabinetes que dele então ali conhecemos. 

O Prof. Germando da Fonseca Sacarrão, à direita, na companhia do autor do presente estudo, à esquerda (numa foto de 1981).

Nesse período empenhávamo-nos em levar a bom porto a conclusão (deitando um relance de olhos à Índia e à China, para outros projectos) da nossa licenciatura em Antropologia naquela nossa Faculdade lisboeta.

Entretanto tínhamos mudado de residência para o bairro de Campo de Ourique, na mesma cidade. Éramos, a partir de então, não apenas admirador da obra deste cientista mas, também seu vizinho (no sentido que este termo já tinha nos tempos medievais, comungando dos mesmos espaços, inclusive alguns espaços de lazer onde nos encontrávamos, como a Livraria Ler do Sr. Luís Alves e, até, um ou dois cafés que ambos frequentávamos).Foi no ano lectivo de 1983-84 que o Prof. Sacarrão nos aliciou, naquela sua Faculdade, para desvendarmos o conteúdo de uma caixa, a ele confiada, contendo aspectos essenciais do espólio do cientista açoriano, Francisco de Arruda Furtado e, em particular, a correspondência por ele mantida com Charles Darwin (ou seja, mantida com particular interesse de ambas as partes).

Tratava-se de um verdadeiro desafio do qual, pensávamos, tínhamos de nos sair bem, honrando o Mestre, que nos dava confiança quase nos impondo a aceitação de tal desafio. E empenhámo-nos, beneficiando da sua linha orientadora, do seu rigor como cientista e académico. Ainda durante o ano de 1984 dávamos por cumprida a primeira fase desse projecto no velho edifício da Faculdade de Ciências. Pensando ambos em que tal projecto tivesse (então) a sua continuidade, faltava apenas, nos fins desse mesmo ano, levar por diante um outro, o do estudo da biblioteca que havia pertencido aquele mesmo naturalista açoriano.

Impunha-se então, finda essa primeira fase do projecto, encontrar quem o editasse. A porta, nesse mesmo sentido, veio a abrir-se pouco depois. E a par de um estudo do Prof. Sacarrão, o mesmo veio a ser impresso, na prestigiada revista Prelo, em 1986 (3).

2. As características de um cientista que cultivou o ideário de um Humanismo ao serviço da Ciência: a defesa intransigente de uma Ciência com consciência

 

Todos estes anos decorridos, continuamos a ter como segura a premissa de que o Prof. Germano da Fonseca Sacarrão – a par de outros cientistas e filósofos da Ciência portugueses como o Prof. Hermínio Martins (docente em Oxford) – foi um dos mais fervorosos defensores e cultores, na peugada de Edgar Morin, de uma Ciência com consciência.

 

No referido ano de 1984, encontrando-nos (como usualmente na Livraria Ler), com o Prof. Sacarrão, ali falámos de um texto meu – um dos vários diálogos humanísticos que aprendi a redigir (também) com ele, em contacto com cientistas de formações variadas – tido precisamente com o filósofo e sociólogo francês Edgar Morin. Eu tinha-o editado em Lisboa, em Março desse ano (4) e tinha várias cópias para partilhar com amigos com quem privava. 

 

Nesse ano de 1984, eu era já conhecedor do percurso científico do Prof. Germano da Fonseca Sacarrão em Lisboa, com interesses na área da Histofisiologia, junto dos Profs. Celestino da Costa e Xavier Morato. Ou da sua formação complementar, nos anos quarenta, na Universidade de Genève (junto dos Profs. Émile Guyénot, Kitty Ponse e Jean Perrot) e ainda na Universidade de Basileia, junto do Prof. Adolf Portmann, entre outros), encontrando-se já de regresso em começos da década de cinquenta.

 

Alargando nós os dois, em conjunto, a área dos estudos a Edgar Morin – que eu lhe sugeri que também estudasse mais em profundidade (transmitindo-lhe mesmo a sua morada em Paris a fim de ele lhe poder escrever, eu que já me correspondia com ele há algum tempo), acabámos ambos por mandar vir conjuntamente da capital francesa o livro daquele, Science avec conscience, que tinha saído ali havia dois anos (5).

 

Tratava-se sem dúvida de um título inspirador, o deste tratado moriniano. Ele constituía como que a antevisão dos começos de um sonho mau de desenvolvimento que se sucederia a não muitos meses de distância : a catástrofe nuclear de Tchernobyl (considerada como de nível sete, o mais elevado em acidentes previstos deste tipo), ocorrido precisamente em 26 de Abril de 1986, na central Lénine, numa cidade da então URSS, integrando hoje a Ucrânia.


3. O cidadão pautado por um Humanismo interventivo, face aos problemas sociais do seu tempo

O  Prof. Germano da Fonseca Sacarrão deu também continuadas mostras, como universitário e homem de Ciência, de ser um cidadão sempre empenhado num humanismo interventivo e no saber estar e viver no seu próprio tempo. Disso aliás deu exemplo a muitas dezenas de discípulos que formou.

Não interessando aqui o ideário político que seguiu, ele foi um homem dado a causas, ao universo do conhecimento e da Ciência em particular. Leitor atento da História, ele olhou o mundo estudando como um filósofo olha, na transversalidade, os universos do conhecimento apreendidos.  Como homem de Ciência, com efeito, pode ver-se nele e nas suas aptidões de apreender o real aquilo que Marcel Conche, metafísico, professor da Sorbonne escreveu, inspirado em Montaigne : 

[Não se trata mais de] revelar as coisas tal como elas são na verdade, mas permitir-se a tomar consciência do si próprio (6)
. Ele jamais saberá o que são as coisas – Deus, a natureza ou o próprio homem, na totalidade do ser – mas saberá o que ele é. Certamente ele não poderá fundar, a partir de um saber respeitante ao homem, uma sabedoria universal, mas ele poderá, conhecendo-se a si próprio e à sua singularidade, encontrar uma sabedoria à sua medida (7).

Este Professor da Faculdade de Ciências de Lisboa, jubilado em meados da década de oitenta, foi assim construindo, ao longo de décadas, um invejável palmarés como cientista, nas áreas que cultivou com mestria. Se por um lado à Ciência apenas era possível almejar um futuro pautado pela consciência, por outro lado, no universo da Biologia, foi edificando um sólido saber constru
ído, servindo-se do ideário próprio dos humanistas, ao nível do que de melhor ia sendo edificado por outros cientistas de renome internacional como Louis de Broglie no domínio dos quanta, René Thom no da teoria das catástrofes, ou Jean-Pierre Changeux no domínio das Neurociências.  

4. Um hermeneuta atento na área da filosofia da Natureza perante o estudo da Ornitologia e do comportamento das aves 

Este cientista, fonte inspiradora desde a sua casa na rua Azedo Gneco em Lisboa (onde com ele privámos) – amoroso de «música de qualidade e dos sons da natureza» – teve, no entanto, ainda uma outra particularidade (e a par de outros campos no universo da Biologia que não vêm hoje aqui a propósito (8)
. Trata-se de uma vertente científica a que as mais novas gerações porventura ainda não se habituaram a admirar: a do ornitólogo e prescrutador (como filósofo) da vida da própria natureza. 

O seu interesse no comportamento e no canto das aves será, disso, o melhor dos exemplos. Nesta vertente específica ele seguiu – autonomamente, é um facto – o caminho que anteriormente já havia sido delineado pelo Prof. Joaquim R. dos Santos Júnior (1901-1990), médico, antropólogo e ornitólogo, natural de Barcelos, também ele apreciado docente, só que da Universidade do Porto.  

Assinale-se, apenas em jeito de passagem, que ainda muito jovem, Joaquim R. dos Santos Júnior se havia dedicado à Ornitologia (conhecedor do interesse posto nessa vertente por um cientista britânico W. C. Tait (9). Assim, em 1931 deixou o seu nome associado a um Catálogo Sistemático e Analítico das Aves de Portugal (que Germando Sacarrão não só conheceu como apreciou) e, anos depois, a um estudo sobre o tema (entre outros nesse âmbito científico da Ornitologia), intitulado «A colónia da pega azul na Barca d’Alva (Alto Douro)», de 1965 (de que nos ofereceu um exemplar) (10). 

Com um caminho científico independente daquele na área da Ornitologia, Germano da Fonseca Sacarrão soube também ele construir um percurso singular nessa mesma vertente. Vários editores de circunstância e, sobretudo, o Arq. Museu Bocage, a série de Publicações da Liga de Protecção da Natureza, e a antiga revista Naturalia (11), foram eleitos então por este (então) futuro universitário como o privilegiado pólo difusor de alguns desses seus trabalhos, na especialidade. 

A reconstituição, que aqui fazemos, de alguns dos principais trabalhos que este cientista publicou nesses anos – no domínio da Biologia mas, muito em particular, na área da Ornitologia (12) – corresponde, sem dúvida, ao acompanhamento pari passu que fomos fazendo da sua obra (mesmo trilhando nós, reconhecidamente, por caminhos distintos na área do saber).


5. Algumas linhas de contacto e um certo paralelismo entre dois amorosos da Ornitologia: do compositor francês O. Messiaen (desde 1941) ao biólogo G. F. Sacarrão (desde 1944), passando pela área da Literatura e por Aquilino Ribeiro 

O Prof. Germano da Fonseca Sacarrão, como aconteceu com alguns destacados vultos europeus do universo das Ciências Exactas e Aplicadas – para não falar já de alguns bem conhecidos filósofos como Vladimir Jankélevich – encontrou na Música e na audição musical, um campo de entretenimento, e até, nalguns casos, de ref
úgio (que, apesar de tudo, e ao longo dos anos, foi perdendo). Também este aspecto merece, aqui, alguma da nossa reflexão. 

A partir da passada década de 40, ou seja, do período do pós-guerra, torna-se possível encontrar algumas linhas de paralelismo entre as actividades do Prof. Sacarrão como biólogo / ornitólogo e o de um outro amoroso da Ornitologia, o compositor franc
ês, Olivier Messiaen (Avignon, 1908Clichy, Hauts-de-Seine, 1992). 

Três anos diferenciam – ou melhor, antecedem –naquele autor francês o seu particular interesse pela Ornitologia (neste caso, de feição musical). O canto dos pássaros fascinou desde muito cedo, com efeito, este jovem compositor francês, mais particularmente em 1941.

Já na década de trinta Messiaen tinha sido estimulado pelo seu professor Paul Dukas (1865-1935) (13), nesse sentido. Pouco depois, no primeiro ano da década seguinte, ele acabou por vir a incluir, nos seus arranjos, alguns cantos de pássaros estilizados em algumas de suas primeiras composições como, por exemplo, no Quatuor pour la fin du Temps. 

Essa sua obra musical, de 1941 como dissemos, foi composta em oito movimentos (para violino, violoncelo, clarinete e piano) em homenagem ao Anjo anunciador do fim dos tempos. A sua preparação e primeira apresentação, em círculo restrito, decorreu quando o compositor se encontrava num campo de concentração, prisioneiro dos alemães (14). E foi precisamente no seu terceiro andamento, intitulado L’abîme d’oiseaux
 (e datado, parcialmente, de algum tempo antes daquele período (15), que Messiaen integrou, em termos inspiradores, na sua partitura, um simbólico recurso ao canto das aves. 
Quanto à empenhada participação de Germano da Fonseca Sacarrão neste domínio científico como autor, apenas três anos depois, em 1944quando ele contava 29 anos de idade, ou seja, sete anos depois de se ter licenciado em Ciências Biológicas na Faculdade de Ciências de Lisboa – passava a dar sinais inequívocos desse seu interesse pela área da Ornitologia (16). Este jovem viu então, com efeito, ser editado um seu trabalho nesta vertente específica, “Contribuição para o estudo das aves de Moçambique”, que principiou a sair no Arquivo do Museu Bocage, precisamente nesse ano (17). 
Aves embalsamadas, do acervo do
Museu Bocage, em Lisboa
Estes prolegómenos da dedicação de Germano Sacarrão à área da Ornitologia, eram um facto quando no mesmo ano, na área da Literatura, o consagrado escritor, Aquilino Ribeiro (1885-1863), editava o livro Volfrâmio (18) e onde dava uma particular atenção entre outras matérias, à área da Ornitologia musical. 

Entretanto os referidos primeiros episódios de cantos de pássaros, no trabalho de Messiaen, como compositor, passavam a ser cada vez mais sofisticados. Assim, na obra Le Réveil des Oiseaux (de 1953) este músico atingia já, segundo a crítica, uma notória maturidade. Tratava-se neste caso, na realidade, da relevar o estribilho de cantos de pássaros ao amanhecer (19), para orquestra. Tal compositor deu-se ao encargo, inclusive, de anotar a espécie de pássaro na própria partitura. 

Paralelamente a esse percurso, em Lisboa, o biólogo Germano da Fonseca Sacarrão, na área da Ornitologia, empenhava-se em publicar, entre 1953 e 1956, outros trabalhos seus como “Protecção às Aves”
(20) (1953); “O Algarve. Alguns apontamentos sobre o seu interesse ornitológico" (21) (1955); “O Mundo das Aves” (22) (1956). Tal ocorria num período em que Aquilino Ribeiro continuava a estar atento – como desse facto também subsistem vários testemunhos em outras obras – ao universo ornitológico (23).  

Olivier Messiaen, nessa sua caminhada estética pelo universo da Ornitologia musical, passava gradualmente a desfrutar – se não de uma caminhada solitária nessa vertente – de uma notoriedade invulgar. 

As suas obras musicais – neste domínio específico (de trabalhos de partitura inspirados no canto dos pássaros) – não eram, como v
ários musicólogos têm posto em relevo, apenas simples transcrições, mas bem mais do que isso. Uma prova desse facto foi o seu Catalogue d’oiseaux (obra composta de Outubro de 1956 a Setembro de 1958) e, ainda, La Fauvette des jardins (de 1970). Trata-se de obras tonais, produzidas a partir de uma inspiração ornitológica no seu ambiente musical. 

Depois das últimas obras de Aquilino Ribeiro onde a problemática ornitológica está presente – já de 1958 (24)
(ou seja, de meia dezena de anos antes da sua morte) –, Germano da Fonseca Sacarrão beneficiava (em resultado do seu percurso científico) de uma particular primazia no domínio das Ciências Biológicas e do ensino universitário em Portugal. Tendo sido nomeado Professor Catedrático em 1961, dois anos depois, em 1963, foi nomeado director da Faculdade de Ciências de Lisboa. 

Neste preciso ano editou trabalhos, em particular no domínio da Cinegética, como “A fauna cinegética portuguesa”
(25). Ou outros como “Nomes vernáculos das aves portuguesas” (26). 

Em 1965, por seu lado, este biólogo / ornitólogo assumiu as funções de director do Museu Bocage (27). O Prof. Germano da Fonseca Sacarrão nunca deixou de cultivar os estudos onitológicos (a par de vertentes específicas da Embriologia), Assim em 1966 editou o trabalho “Sobre a ocorrência em Portugal de Elanuscaeruleus (Desfontaines), Falconiformes – Accipitriformes" (28).

As funções administrativas e de chefia que foi exercendo não impediam, entretanto, de ir desenvolvendo uma profunda pesquisa na sua área de trabalho académico. Entre esse período e o ano de 1967 foi publicando variados estudos, tais como “Remarques sur la variation géographique de la Pie-Bleue, Cyanopica cyanus (Pallas), dans la Péninsule Ibérique, spécialement au Portugal”
(29), “Cyanopica cyanus cooki Bp. au Portugal. Localités de capture et d’observation” (30). 

Nesta mesma vertente de investigação foi o caso, ainda, de trabalhos seus como “Contribution à l’étude de la distribution de Cyanopica cyanus cooki Bp. (Aves, Corvidae) dans la Péninsule Ibérique”
(31);  “Acerca de alguns aspectos problemáticos da ecologia geográfica de Cyanopica cyanus (Pall.) [Aves – Corvidae] (32); “Sobre a estrutura e composição do ninho de Cyanopica cyanus (Pallas) (Aves: Corvidae). Estudo preliminar” (33); ou “On the distributional area of Cyanopica cyanus cooki Bp. (Aves, Corvidae) in Portugal”(34). 

A presente listagem de estudos, mesmo que incompleta (não aproveitámos todos os títulos desta temática depositados na biblioteca do CEHLE, associação, que dirigimos), de Germano da Fonseca Sacarrão no domínio das aves, permite uma avaliação desassombrada de que a História da Ciência em Portugal, entre os anos 40 e a década de oitenta, muito lhe deve. Período esse final extensivo, aliás, ao seu empenhamento em novos discursos como o da Sociobiologia, área em que tinham pontificado Edward Osborne Wilson (da Universidade de Harvard) e Stephen Jay Gould, entre outros.

6. Incentivador de estudos na área da História da Ciência, o investigador patenteou também uma forte sensibilidade para a História da Edição Científica 

Em 1979 – ainda durante a nossa permanência ao cimo da rua da Imprensa Nacional, n.º 104, 3.º, em Lisboa (a menos de cem metros da Faculdade de Ciências) – tínhamos criado ali a Livraria Humanística, de fundos bibliográficos impressos. Com uma componente de edição antiga na área da História da Ciência, foi essa a origem da futura Biblioteca do CEHLE.
 
 

Edifício, à esquerda, onde foi fundada em 1979, a Livraria Humanistica, em Lisboa (de que o Professor Sacarrão veio a participar no estudo para a catalogação dos fundos científicos)

Em 1986, quando fundámos em Lisboa a associação científica Centro de Estudos de História do Livro e da Edição – CEHLE, o seu nome e a relação que tínhamos com ele (já depois de editarmos, em natural autonomia, os nossos trabalhos sobre Darwin e Arruda Furtado), constituía para nós um aval seguro no domínio da História da Ciência com que também contávamos. 

Desde então a organização, nesta nossa biblioteca de Fundos de História do Livro Antigo, carecia de um consultor que nos pudesse ajudar a ultrapassar várias dúvidas que entretanto iam surgindo (na classificação das obras editadas e impressas entre os séculos XVI e XVIII). Dadas as relações de vizinhança, por diversas vezes o contactámos, ainda nos anos oitenta, nessa mesma vertente. 

As nossas amigáveis discussões de então, recordemo-lo aqui, centraram-se em áreas diversas, estruturadas sobretudo a três níveis:  – de crença ou teológica (tomando a criação das aves por Deus);– e artísticas (incluíndo iconográficas), tomando-se em linha de conta o largo espectro representacional que vai desde a problemáticas das aves na arquitectura medieval à da produção musical do Renascimento em Gelenius (35) ou Pierre Belon (1517-1564).  

No que concerne ao primeiro daqueles espaços ou temas do nosso debate (prolongado pelos anos) com Germano da Fonseca Sacarrão, no plano dos estudos sobre as Aves, lembremos primeiramente o que se centrava na área das ideias religiosas e em particular no Antigo Testamento. 

No cômputo da evolução das ideias científicas na Antiguidade, importa, com efeito, recuar até à primeira metade do século III a.C. e reler uma passagem bíblica, fixada no Génesis. Retenhamos em particular a passagem que os exegetas – que fixaram os textos desse primeiro livro veterotestamentário da Torah –, os vulgarmente designados por Setenta (36), estabeleceram uma passagem referente à criação das aves por Deus. No Gen. I: 21-23: Creavitque Deus (...) omne volatile secundum genus suum. Et vidit Deus quad esset bonum. benedixitque eis, dicens: Crescite et multiplicamini, (...) avesque multiplicentur super terram. Et factum est vespere et mane, dies quintus (37). 

Deste passo veterotestamentário apresentamos a seguinte versão portuguesa: 

Deus criou, segundo as suas espécies (...) todas as aves aladas (...) e Deus viu que isto era bom. Deus abençoou-os dizendo: crescei e multiplicai-vos e (...) e multipliquem-se as aves sobre a Terra. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o quinto dia (38). 

No que concerne à segunda parte de tais discussões, de relevar que tal tradição, de matriz cristã, alusiva à criação das aves por Deus, veio a repercutir-se nas mais variadas expressões estéticas, ainda ao longo da Idade Antiga (iluminuras de diversos códices) e, sobretudo, no plano arquitectónico. Foi o caso da sua cristalização no domínio da iconografia catedralícia medieval, em particular, em França.

Decorreram, desde a fixação de tal texto, mais de uma dúzia de séculos até que essa forma de reprodução / multiplicação do ícone Deus como criador das aves, passasse a beneficiar de novas tipologias e de novos suportes na sua materialidade. Elas passaram, com efeito, do pergaminho ao marfim, mas também à pedra esculpida, como no caso específico de Chartres, que vamos agora reter.

No final do período oitocentista, o conservador ou guardião da catedral de Chartres, a respeito deste aspecto iconográfico específico (39), reteve – na sua apreciada monografia deste templo (com construção iniciada em 1145) (40) – uma escultura ali existente, em que Deus se oferece, à adoração dos fiéis, na sua qualidade de criador das aves (41).

Pormenor de escultura em pedra, do século XII,
de Deus como criador das aves,
na Catedral de Chartres, em França.


6.1 - Da História da Edição impressa dos textos à História da Edição musical, as aves foram ganhando uma cada vez mais ampla notoriedade como tema de estudo 

Quanto às nossas discussões em torno da História da Edição científica, também centrada nas Aves – e no período da imprensa pós-incunabular – ela tinha-se centrado, no essencial, nss já referidas edições antigas de Plínio o Velho, Galeno ou Hipócrates; e do período do Renascimento particularmente em Gelenius, extensivas, embora, a outras épocas mais tardias (42). 

“Não deve esquecer-se que, na Idade Média, tinha sido dado um contributo assinalável em França, por parte de um religioso, o Hugo de Folieto, quanto à representação (num códice que fez história) Das Aves, como uma manifestação da criação dos seres por Deus. Foi esse códice que, entre os monges do mosteiro do Lorvão, veio a influenciar – como já no século XX o cientista e ornitólogo, Prof. Fernando Frade, também disso se apercebeu – o tão belo manuscrito iluminado do Livro das Aves.” 

Quanto ao Renascimento, porém, a problemática das Aves entrou no universo da criatividade estética a outros níveis. Foi o caso de um dos compositores franceses deste período, Clément Janequin.

 

Registe-se que Janequin (43), quando contava cerca de quarenta anos, apurou o sentido do seu gosto pelo canto das aves. Depois de ter composto temas em 1529, nessa vertente, uma das suas obras capitais veio a ser Le Chant des Oiseaux, de 1537 (44).

Sendo considerado, ao nível da composição, como o primeiro que se elevou no patamar da reconstituição de sonoridades (bruitiste), ele tentou, no essencial,
retranscrever nas suas composições o que ele ouvia [como as aves] para permitir às pessoas não presentes, o poder usufruir das mesmas coisas que ele (45).

Retrato em pintura de Clément Janequin (c.1485-1558),
autor da apreciada obra Le Chant des Oiseaux, de 1537.

Nesse seu esforço reconstitutivo (e antecedendo mais de quatro séculos o trabalho, também a partir do canto das aves, de Olivier Messiaen), Clément Janequin, nessa primeira metade do século XVI, já cultivava a filosofia da natureza epicuriana. 

Utilizando onomatopeias – desde os níveis da palavra poética aos do canto propriamente dito – aquele compositor quinhentista francês como que inventava um novo discurso onomatopaico como este que, visto à luz da musicologia do século XX e XXI pode ser assim transcrito (46)
:
Um dos temas em que, modestamente, cremos ter trazido alguma luz ao espírito do Prof. Germano da Fonseca Sacarrão, foi quanto aos conteúdos postos por Belon (1517-1564) na sua Histoire de la Nature des Oiseaux.

As nossas dicussões filosóficas e científicas com Germano da Fonseca Sacarrão eram acompanhadas, muitas das vezes, com belos exemplares de edições quinhentistas originais impressas. Levávamo-las até ele quando pretendíamos que ele nos desse indicações específicas quanto à sua classificação; ou, eventualmente, quando lhe pretendíamos relevar uma ou outra passagem que ferisse a dado momento a nossa sensibilidade. 

Voltando a Plínio o Velho, e à História Natural, as opiniões do nosso interlocutor sobre o livro X, respeitante à problemática de As Aves, nem sempre eram coincidentes com as nossas, mas foram sempre pautadas, da nossa parte, por um enorme respeito pelas posições por ele assumidas. 

Assinale-se que nesse livro X, aquele cientista (23-79 d.C.) aborda, entre outros aspectos, as migrações avícolas, cruzando os oceanos (cap. XXXIII). Um outro aspecto em que esse autor clássico se detém, com algum interesse, é sobre a temática e tipologias de nidificação (caps. XLVIII-XLIX). 

Germano da Fonseca Sacarrão não tinha dúvidas, também ele, do particular papel que tinha sido desempenhado pela Imprensa gutenberguiana, em fins do século XV, num plano de reprodutibilidade técnica dos textos. Foi essa tecnologia, sem dúvida, que muito contribuiu para a democratização da ciência e do saber em geral, sobretudo a partir do primeiro quartel do século XVI.

Na biblioteca do CEHLE, no sector de edições impressas de História da Ciência, em homenagem a este Mestre que tivemos – mesmo que indirectamente e fora dos bancos universit
ários das salas de aula – houve sempre, desde a Primavera de 1987, um retrato em fotografia, de Germano da Fonseca Sacarrão, como dívida de afectuosa gratidão. Ele constituía, na arrumação de tais edições (não um GPS, mas) o GFS seguro que havia contribuido decisivamente para uma sistematização, em vários níveis científicos e graus temáticos, ou seja, para uma melhor catalogação de tais edições na área da Ciência de entre os séculos XVI e XVIII.

 

 

 

 

Réplica de uma gravura quinhentista (presumivelmente já do século XIX) com o retrato do naturalista francês, Pierre Belon, autor da inovadora obra, na especialidade, L’Histoire de la Nature des oyseaux, Paris, 1535. Esta réplica saiu editada em La Nature. Revue des Sciences, rédacteur en chef, Gaston Tissandier, Ano XVI, Paris, G. Masson éditeur (das colecções do CEHLE), p. 171.

7. Evolução dos patamares de sensibilidade na vertente ecológica em Portugal (um caso pontual quanto à constatação da vida avícola) 

Em 1975, com o dealbar da revolução dos cravos, passou a estar-se em presença, sobretudo entre as camadas mais jovens, de uma nova consciência ecológica. Nós próprios nos empenhámos logo em inscrever no Movimento Ecológico Português (47) (sem qualquer intuito político nem filiação partidária: apenas a defesa de uma causa pública.

As próprias autoridades e instituições políticas do (novo) regime – que passaram a suceder-se a um ritmo algo vertiginoso (48) – acabaram por despertar, também, para essa nova intervenção de carácter social que se impunha por via da Ecologia. O Professor Germano da Fonseca Sacarrão, com um sorriso nos lábios, foi-nos manifestando, em várias fases, a sua percepção, ao longo desses anos oitenta, quer desse movimento específico de ideias, quer das alternativas, ao nível da jurisprudência, que se ia impondo (49). 

Muitos outros casos poderiam ser aqui equacionados, no plano da jurisprudência portuguesa, quanto ao domínio do estudo das aves em que então se ia empenhando o Professor Sacarrão, como figura de proa, quer como cidadão empenhado, quer como cientista. Retenhamos, apenas, o caso do diploma 241/88, que legislou e instituiu normativas para a Área da Paisagem Protegida do Sudoeste Alentejano e da Costa Vicentina. 

Como disso também se apercebeu o Prof. Luís Cancela da Fonseca, naquela Área Protegida sentia-se desde há muito uma forte diversidade de biótipos, contando-se – para além de outros aspectos como a paisagem – uma avifauna diversa e tipologicamente plural nas suas características físicas e comportamentais. Aquele cientista identifica, num seu estudo, “vinte e cinco espécies [que] se reproduzem nas arribas litorais, situando-se, neste aspecto, entre as mais ricas da Europa” (50).
8. A evocação de um cientista não é a revitalização tardia da sua memória: é uma nova dinamização da sua obra

Com a morte de Germano da Fonseca Sacarrão em 1992 – e uma vez que não é aqui o momento de o lembrar – passou a impor-se uma nova tarefa. Tornou-se pertinente e urgente, sobretudo entre as camadas mais jovens, na área de História da Ciência e, em particular, da Ornitologia, difundir e redinamizar o seu hercúleo esforço científico, ao longo de mais de cinco décadas, nesse domínio.

 

É um facto que na área da Ornitologia, ao longo das últimas décadas, têm surgido – em particular na Faculdade de Ciências de Lisboa, mas também em outras universidades – investigadores que têm tido o mérito de erguer alto o lume aceso (não é pleonasmo) que esse cientista nos deixou.

Sem a pretensão de fazer aqui uma selecção atávica – e caracterizada, sem se pretender tal, por uma desmedida irracionalidade, nem por escolhas de micro-grupos de eleição – chama-se aqui, no essencial, a atenção para alguns cientistas das mais novas gerações que não ignoraram os contributos de Sacarrão (nem de J. R. dos Santos Júnior) no plano fundador do estudo das Aves.

 

Paulo Xavier Catry, doutorado pela Universidade de Glasgow em Ecologia de Aves Marinhas – em colaboração com H. Costa, G. Elias e R. Matias – foram os responsáveis, em 2010, pelo trabalho Aves de Portugal, Ornitologia do território de Portugal Continental (51). 

Do primeiro destes cientistas retemos, ainda, dois estudos que lemos com particular interesse. Foi o caso do que publicou em colaboração com J. Forcada e A. Almeida, em 2011, sobre “
Demographic parameters of black-browed albatrosses (52) Thalassarche melanophris from the Falkland Islands” (53); ou o que editou em colaboração com C. Pacheco, em 2008, “Alterações na distribuição da avifauna portuguesa. Bosquejo de algumas das grandes tendências do século XIX ao XXI” (54).

Refiram-se, de igual modo, as investigações em curso, no mesmo domínio científico, por parte de Inês Catry. É o caso de um seu estudo – editado em parceria com João Paulo Silva, Jorge M. Palmeirim e Francisco Moreira – que de igual modo apreciámos.
Trata-se de “Freezing heat: Thermally imposed constraints on the daily activity patterns of a freeranging grassland bird” (55). 

Quanto a trabalhos produzidos na Universidade de Coimbra, retemos a tese de Doutoramento em Biologia (Ecologia) apresentada à Faculdade de Ciências e Tecnologia em 1995 por P. G. Mota. Tratou-se de uma dissertação subordinada ao tema Ecologia comportamental da reprodução no Serino (Serinus serinus, aves). Fringilidade
.

No que respeita à Universidade do Porto, outro trabalho que acompanhámos com interesse foi a tese de Mestrado em Ecologia, Ambiente e Território, de Edna Rita Freitas da Costa Correia, apresentada no final da primeira década do século XXI à Faculdade de Ciências daquela cidade. Tratou-se de Estratégia migratória e invernada do Pisco-de-peito-azul (Luscinia Svecica), em 2011.

 


Epílogo

 

Perante tão restritos, mas cremos que sucintos, exemplos de produção científica na área em que pontuou o Prof. Germano da Fonseca Sacarrão, no plano das várias universidades referenciadas, pode afirmar-se aqui, em conclusão, que não é a sua memória que se impõe invocar mas, no essencial, a fecundidade do seu trabalho que se impõe semear.

 

Se como refere o Prof. Marcel Conche (ex-docente de Metafísica da Sorbonne), in Presence de la Nature (56), devemos estar atentos à Natureza e às suas mutações, saibamos ouvir, então, de novo, o Prof. Germano da Fonseca Sacarrão, nos inícios da década de 80, no seu diálogo (perene) com o autor destas linhas:

 

GFS – Manuel, conseguiu ouvi-los, a eles?MCM – A eles? A quem, Professor?GFS – A eles, aos pássaros! É que parecem não se ouvir mais na cidade! (57)
ANEXO I 

Pierre Belon e a Ornitologia (musical): 1545  

 

(...) Nous n’avons cognoissance d’aucun oyseau qui soit de la nature d’un rossignol, c’est à sçavoir, qui chante incessamment toute la nuict sans dormir: car lorsque les foréts et les taillis se couvrent de feuilles, il est long temps sans cesser de chanter jour et nuict. Mais pourroit-il estre homme tant privé de jugement, qui ne prenne admiration d’ouïr telle mélodie sortant de la gorge d’un si petit corps d’oyseau sauvage ?

Une oiseau en chantant 

 

A-t-il point eu de maistre, qui luy a enseigné la science de musique si parfaite? Non: et toutefois ne fault jamais à bien accentuer les syllabes, et mieux observer teus les tons, et les conduire d’une mesme haleinée si parfaite, qu’il n’y a celuy qui ne désire l’entendre. Encor redirons-nous qu’il ne fault point à bien observer les tons, et les conduire d’une mesme haleinée, les uns en longueur, et aspirer les autres; tantost varier le dessus, quasi le jectant en fusée, tantost courber les notes entiêres, et soudain les mener par feinctes, et puis les distinguer, et découper par pièces, comme en minimes crochues: tantost les assembler, puis les demeurer leur baillant des entrelassures: et de là les allongeant, soudain il les délaisse, et puis les reprenant, il obscurcit sa voix au dépourvu, quasi comme en tremblant: tantost après murmurant en soy-mesme, ne chante que le plain chant, l’une fois si pesant, qu’il semble prononcer les notes par semibrèves: tantost il les deprime, menant sa voix en bas ton, et de prin sault, il fait l’accent aigu comme chantant en faulcet; l’autre fois fréquente les tons, l’autre fois les estend, et là où il luy plaist, les darde haultains, moyens, ou bas: tantost il contrefait son chant muant sa voix en diverses façons: voulant quasi qu’on pense que c’est d’un autre oyseau. Par quoy il fault nous accorder, qu’il surpasse l’sacrifice humain en ceste science (...) (58).

 

 

ANEXO II 

As aves migratórias:
práticas de itinerância e vida grupalsegundo António de Oliveira Matos

 

 

Duas das principais obras de António de Oliveira Matos,
natural do concelho de Mação,
Animais migradores
e
Vegetais maravilhosos
,
em edição da Biblioteca Cosmos,
dirigida por Bento de Jesus Caraça,
Lisboa, Editora Cosmos, 1944.

 

 

(...) O Verdelhão é outro viajante cronométrico. Aparece pelo Pentecostes, festa que se celebra 50 dias após a Páscoa; emigra apressado em Agôsto, quási sem ter levado a cabo a criação da sua ninhada. Viaja em grandes bandos.

O tipo das
sedentárias mais característico e clássico é a Perdiz cinzenta, que fica sempre vivendo no lugar onde nasceu.

A
galinha é outro exemplo frisante. O pardal é sedentário e até doméstico, pois não larga a casa onde estabeleceu o ninho, a não ser momentâneamente para buscar o alimento. Em Lisboa, é interessante observá-los de manhã indo para o campo, e à tarde regressando para dormir nos telhados ou sôbre as árvores de avenidas e parques, em grande quantidade.

Pelo contrário, apresenta-se como uma das mais audaciosas migradoras a
Tarambola, contudo na Ilha de Santa Helena há uma espécie que não emigra. Na Nova-Guiné e Madagáscar, quási tôdas as aves são sedentárias, pois não saem dessas ilhas. Explica-se o facto pela grande extensão dos seus territórios e grande variedade de climas; contudo devemos notar que na pequena Ilha de Santa Helena no colhe tal argumento, pois há ali sedentárias.

Regressemos, porém, a outros conhecidos migradores, que se prestam, além da
andorinha, a curiosas observações.

O
Picanço, essa ave pequena mas forte, tem área de dispersão extensíssima. Encontra-se na Europa, Asia, Africa do Norte e América-do-Norte. Vive em Portugal durante todo o ano.

Sustenta-se de insectos e, de vez em quando, de outras aves mais fracas e pequenas.


O
Papa-figos, de plumagem negra e amarela, mede 0m,27 de comprimento. Prefere os bosques e planícies da Europa e Asia.

No inverno penetra até
à África Central. O canto harmonioso do macho faz-se ouvir nas primeiras horas da manhã e nas últimas da tarde, saüdando o aparecimento e o ocaso do sol.

No intervalo, no meio do dia, choca os ovos enquanto a fêmea vai colhêr o alimento.
«

Bastam dois dêstes pássaros para animarem uma floresta», diz Brehnn. E’ ave de arribação.

Outra, muito interessante, a
Alvéola, de côres branca e preta, voa ágil e saltitante em volta do arado e dos pesados bois que vão rasgando a terra e pondo a descoberto vermes e larvas. Come êste apetecido manjar e gosta de estabelecer-se perto da habitação do homem. Abandona, à chegada do inverno, as regiões do norte da Europa, mas, logo que o degelo começa, volta para lá, expande-se nos prados. No outono vem de novo para nós.

Faz o ninho em qualquer fenda ou buraco.


A
Folhosa é um minúsculo passarinho que não excede 0,15 m de comprimento, ostentando no dorso a côr verde-azeitona, e nas asas, amarelada e trigueira. No verão encontra-se na Europa e Asia do centro, no inverno emigra para o norte de África e para a Índia. E’ muito viva e alegre, sobe ràpidamente pelas canas, poisa nos mais ténues raminhos, ou numa fôlha.

Constrói o ninho a pequena altura, com fôlhas, fios e musgos, em forma cónica à maneira de pera.

O macho canta os idílios de seus amores em um arbusto próximo, para entreter a fêmea que está no chôco.


O
Pisco, outra pequena ave, tem o dorso azeitonado e o ventre branco. Na primavera e verão prefere a Europa, no inverno a Africa do Norte. Compassivo, socorre outras avezinhas feridas, ou necessitadas, levando-lhes alimento. Canta bem. Os sentimentos caritativos dêle têm sido observados e louvados por grandes naturalistas.

O
Rouxinol (Lucinia Pbilomela) é o rei dos cantores. Em contraste com a modéstia da sua plumagem, arruivada na parte superior do corpo, branca na inferior, mostra-se o maior animador dos sítios cultivados. Na primavera e verão faz-nos companhia. No inverno vai deleitar os ouvidos dos berberes do norte de Africa. Abunda na nossa Península. Andaluzia e Portugal constituem o verdadeiro paraíso do rouxinol. E’ ouvi-lo durante os delírios e cantos de amor, sob o influxo de ciúmes, antes de a fêmea começar a postura, entoando os mais maviosos trilos e melodias formosíssimas e requebros para agradar à sua fêmea e eclipsar os seus rivais. Solta canções durante infindáveis horas, variando sempre os temas e buscando, em cada novo canto, maior harmonia.

Quem teve a ventura de passar algumas horas nos celebrados jardins do Alhambra, ou na nossa formosa Sintra, não poderá esquecer o enlevo, a doçura, o encanto que ali o embriagaram de prazer, ouvindo multidão inumerável dessas aves divinas desferindo suas deliciosas melodias.


A
Toutinegra real é conhecida viajante. Vai da Europa ao Sudão, em África, e às Ilhas Canárias. E’ muito inquieta, vivendo em constante movimento. O seu canto melodioso quási rivaliza com o do rouxinol e nisto está o seu maior elogio. A plumagem é escura. Aninha nos bosques e silvados.

Muito domesticável, afeiçoa-se tanto ao homem, que se habitua a celebrar a aproximação dêste com requebros e cantos de alegria.


As
Toutinegas dos canaviais são pequeninas e lindas aves que trepam com grande agilidade pelas canas. Alimentam-se quási exclusivarneune de insectos.

A
Toutinegra dos pântanos chega à Europa em fins de Abril para regressar em Agôsto, ou em Setembro o mais tardar, logo que os nevoeiros apareçam. O macho aparece antes da fêmea e começa a cantar desde os primeiros dias de Maio. Para construir o ninho, o macho e a fêmea escolhem os densos canaviais cujas raízes mergulhem na água.

Juntam grande quantidade de fôlhas de cana e de juncos e torcem-nas em volta de três ou quatro hastes de canas vizinhas. Em geral, o ninho fica a um metro acima da superfície da água. O interior é afofado com panículos da cana e com penugem de flores de salgueiros e álamos.

Sustenta-se da caça de libélulas e outros insectos que vivem perto da água. Percorre com admirável agilidade, neste empenho, as hastes das canas, e, como é pequena, poisa em qualquer fôlha ou planta de junco, entoando com frequência os seus cantos maviosos.


O
Taralhão, muito freqüente no nosso país, mede apenas 0m,14 de comprimento. Tem o dorso pardo-escuro, e o peito branco-sujo. Habita o sul da Europa donde emigra no outono até à Africa Central. E’ muito vivo e ágil. Come insectos alados, especialmente môscas e mosquitos, no que presta grandes serviços. Refere o naturalista Nawmann que um rapaz apanhou um ninho desta ave com quatro avezinhas implumes. Levou-o para casa e pô-lo numa sala. A janela estava aberta. Os pais entraram por ela e começaram a alimentar a criação com as môscas. Em breve, estas desapareceram da sala. Mudou o ninho para outra e sucedeu o mesmo.

Os habitantes da aldeia, ao saberem o facto, pediram que lhes levasse para casa o ninho. Dêste modo, tôda a povoação ficou isenta e livre de tão incômodo insecto.


O
Cuco Cantor é de côr cinzento-azulada no dorso, ventre quási branco, asas e cauda negras. Emigra todos os anos. Desde a Sibéria atravessa a China e desce à índia, Ceilão e Java. Da Noruega e Lapónia emigra para o sul da Europa e sudoeste de Africa. Passa pelo nosso país em Abril, enchendo de cantos sonoros a floresta. Cada macho escolhe um domínio que reserva só para si, e acasala-se.

Defende-se furiosamente dos seus rivais. E’ carnívoro e voraz. Não se dá ao trabalho de fazer ninho. A fêmea põe os ovos em qualquer ninho de outra ave tendo o cuidado de deitar fora um ou mais ovos que lá estavam. E’ interessante notar que o cuco que nasce é sempre tratado com grande carinho pelos seus hospedeiros, às vezes em prejuízo dos filhos verdadeiros, pois o cuco é muito voraz
. (...) (59).
(1) Pressupõe-se, aqui, tratar-se de seres vivos, dotados de aparelho fónico, de voz. de fala (de falas simbólicas), de hábitos de comportamento, de modos de acasalamento …

(2) Este trabalho do Prof. Germano da Fonseca Sacarrão foi editado na Revista da Faculdade de Ciências de Lisboa (2.ª série), 13 (2): 289-294.

(3) Manuel Cadafaz de Matos, “Arruda Furtado correspondente de Darwin”, in revista Prelo, nº. 11, Abril-Junho de 1986, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda. – Em separata, pp. 1-23. Este nosso trabalho é referenciado pela investigadora Ana Leonor Pereira (da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, na sua dissertação de doutoramento Darwin em Portugal [1865-1914], Coimbra, Almedina, 2001, pp. 69 e 573.

(4) Idem, “Edgar Morin, Conceber o homem à dimensão sdo seu mito” (Lisboa, DN, 8 de Março de 1984). nova edição in Revista Portuguesa de História do Livro, Ano XI, vol. 22, Lisboa, CEHLE, 2008, pp. 577-585.

(5) Edgar Morin, Science avec conscience, Paris, Fayard, 1982 (de quie existe hoje disponível uma nova edição, nas Éditions du Seuil, col. “Points – Science”, nº. 564, Paris, 1990).

(6) Marcel Conche segue, aqui, o primado da obra de Paul Ricoeur, Soi même comme un autre, Paris, Éditions du Seuil, 1990.

(7) Marcel Conche, Montaigne ou la conscience heureuse, Paris, Seghers, 1964 (edição disponível, Paris, Presses Universitaires de France, 6ª. edição, 2007).

(8) Quanto aos outros universos cultivados, na área da Biologia – e ao longo de décadas de produção científica como universitário – remete-se para o nosso estudo “Germano da Fonseca Sacarrão (1914-1992), um humanista na pessoa do cientista no centenário do seu nascimento”, in Revista Portuguesa de História do Livro, Ano XVII, vols. 33-34, Lisboa, CEHLE, 2014, pp. 719-726. Este nosso texto foi também divulgado pela Colega Maria Estela Guedes, no sítio online triplov, o que agradecemos.

(9) W. C. Tait tinha editado, algumas décadas antes, o apreciado livro The Birds of Portugal, Londres, H. F. & G. Witherby, 1924.

(10) Este estudo específico sobre a Ornitologia duriense, de J. R. dos Santos Júnior, veio a ser editado no Anuário da Faculdade de Ciências do Porto, nº. 48, Porto, 1965, pp. 265-292. Tivemos a oportunidade – terminados na Póvoa do Varzim, em 24 de Outubro de 1982, do Colóquio Santos Graça de Etnografia Marítima, em que ambos participámos – de provar e, ainda, de viajar com ele desde aquela cidade até Rio Tinto, nos areredores do Porto.Ele presenteou-nos, então, com um exemplar daquele seu trabalho.

(11) Tivemos ensejo de conhecer na época essa revista Naturalia, através de um outro cientista social, cultor do ideário do Humanismo, o médico naturopata Dr. Adriano de Oliveira (activo já então em Lisboa).

(12) Germano da Fonseca Sacarrão, Curriculum Vitae, 1960; veja-se, de igual modo, G. F. Sacarrão, Publicações. Citações, Lisboa, Faculdade de Ciências, 1975 (desta série de actualizações do seu curriculum científico, viemos a beneficiar, de igual modo, de exemplares reestruturados em 1979 e em 1984).

(13) Paul Dukas insistia então, junto dos seus jovens alunos como Messiaen, que “urgía escutar os pássaros”.

(14) Referimo-nos ao Stalag VIII-A, de Gorlitz, na fronteira actal da Alemanha com a Polónia.

(15) Nesta obra de Olivier Messiaen, as partes apenas as partes I, II, VI e VII são inteiramente originais, sendo as restantes (como sucede com este terceiro andamento) uma adaptação de peças suas mais antigas.

(16) Seguimos, aqui, a colecção dos seus trabalhos na área da Embriologia – e no domínio da Ornitologia em particular (já nos foi referido que no CEHLE, associação, detemos uma das mais completas colecções dos seus trabalhos, dada a nossa proximidade de outrora ao cientista agora homenageado) – que nos apontam linhas de reflexão que não se podem esgotar, já se vê, na circunstância desta breve evocação.- Veja-se, ainda, e em termos sumários, o esforço do Colega, Prof. Carlos Almaça, in “O Prof. Germano da Fonseca Sacarrão, Aspectos da sua Obra Científica e Didáctica”, in Prof. Germano da Fonseca Sacarrão (1914-1992), Museu Nacional de História Natural. Museu e Laboratório Zoológico e Antropológico (Museu Bocage), edição com o apoio da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica e da Fundação da Universidade de Lisboa, 1994 (com introdução do Prof. Doutor Carlos Almaça), Lisboa, 1994, pp. 5-22. Remete-se em particular para a secção deste estudo, “A Ornitologia”, pp. 15-17.

(17) Tal trabalho de Germano da Fonseca Sacarrão, teve a sua edição, naquele órgão, vol. 15: 1-11 (e id. II, ibidem); beneficiou da sua natural continuidade in vol. 19, 1-14, já em 1948; e finalmente no vol. 22: 39-53, de 1951.

(18) Antes deste período específico, Mestre Aquilino já havia dado alguma atenção a esse aspecto da Ornitologia musical (e até biológica) em outro romances seus como A Via Sinuosa (1918); Terras do Demo (1919); O Malhadinhas (1922); Andam Faunos pelos Bosques (1926); ou O Homem que Matou o Diabo (contos, de 1930). Nesta obra específica de 1944, Aquilino regista, por exemplo, passagens como as que se seguem: “(…) A coruja agora esganiçava-se para a casa do Calhorra como se alguém a tivesse enxotado… (p. 155); ou “Estava a pegar no sono, a ladrona da coruja veio a crocitar mesmo, mesmo, por cima da casa…” (p. 157); ou ainda “(…) nas moitas, o cuco onde calha , e as rolas na cruta dos pinheiros, ao desafio…” (p. 277).- Veja-se, a este respeito, a atenta – e sistemática – seleccão de textos deste autor, estabelecida no Guia das Aves, de Aquilino Ribeiro, antologia e introdução por Ana Isabel Queiroz (IELT – FCSH da UNL), Lisboa, BOCA, 2012, em particular in pp. 20; 49; e 139. Este trabalho textual – e respectivo registo sonoro apropriado em CD – tinha sido antecedido alaguns anos antes por um outro projecto também de cariz ornitológico e de um outro registo fonográfico anexo em afinidade, da responsabilidade da sociedade portuense “In Libris – Sociedade para a Promoção do Livro e da Cultura” sob o título Cada árvore é um ser para ser em nós. O som na árvore de um poema (2009).

(19) «Dawn chorus”, que poderíamos traduzir por Coros da alvorada.

(20) Publicações da Liga de Protecção da Natureza, nº. 9, de 1953.

(21) Revista Naturalia, vol. 8, , 1955, pp. 165-180.

(22) Lisboa, Livraria Escolar Editora, 1956.

(23) Entretanto Aquilino Ribeiro, depois de 1944, tinha deixado alguns contributos na área da Ornitologia em algumas outras obras de ficção como Aldeia – Terra, Gente e Bichos (de 1946, crónicas); Cinco Réis de Gente (de 1948, novela); Geografia Sentimental (de 1951, crónicas); ou ainda O Homem da Nave (de 1954, crónicas);.- Veja-se, uma vez mais, Guia das Aves de Aquilino Ribeiro, edição ant. cit., loc. cit. (p. 20).

(24) Referimo-nos a alguns dos seus trabalhos finais dee ficção como Quando os Lobos Uivam (romance) e Mina de Diamantes (novela), também referenciados por Ana Isabel Queiroz, loc. Cit.

(25) Este seu trabalho saiu editado na obra A Caça em Portugal, Lisboa, Editorial Estampa, 1963: 50-148.

(26) Revista Naturalia, Lisboa, 1963, 19-20: 39-58; e Aves de caça e sua biologia, Lisboa, Escolar Editora, 1963.

(27) Fora nesse privilegiado posto científico que o viemos a conhecer nos turbulentos anos da revolução (após Abril), como já referimos.

(28) Arquivo-Museu Bocage, 2ª. Série, 1: 77: 110. Este trabalho teve a natural continuidade no estudo, do mesmo autor, “Novos dados sobre Elanus caeruleus (Desf.), , ibid,, 2, Not. Supl., vol. 18, 1970; e ainda em “Notas sobre Elanus caeruleus (Desf.) em Portugal (Aves, Falconiformes), Ardeola, idem, 21: 173-182, de 1975; e id., Elanus caeruleus (Desf.) - Is a real or illusory expansion in Portugal?”, Arq.-Museu Bocage, (Série A), 1: 403-413. Esta série de trabalhos veio a culminar ainda no estudo – preparado em coautoria com o Prof. A. A. Soares – “Sobre o status de Elanus caeruleus (Desf.) em Portugal (1975-1983) (Aves Falconiformes)”, editado in Cyanopica 3,: 339-349), já em 1985, nove anos antes vir a falecer.

(29) Arq. Mus. Boc. (2.ª série), 1, 12, 1967.

(30) Arq. Mus. Boc. (2.ª série), 3, 6, 1971.

(31) Arq. Mus. Boc. (2.ª série), 3, 11, 1972.

(32) Este seu trabalho saiu publicado in Est. Fauna Port., 1, 1974.

(33) Arq. Mus. Boc. (2.ª série), 6, 1, 1976, em colaboração com A. A. Soares.

(34) Cyanopica, 2: 1-3, 1981. Recordamos que no ano lectivo de 1981-1982, no nosso já referido curso de Antropologia, na cadeira semestral de “Etologia e Ecologia Humanas”, de A. Bracinha Vieira, o trabalho de investigação que então aí desenvolvemos, foi sobre a Assimetria Funcional Hemisférica no cérebro das Aves – no respeitante à produção do canto – procurando nós então tentar chegar a conclusões se tal assimetria (entre o hemisfério esquerdo e o direito nos pássaros) apresentava similitudes à assimetria no cérebro dos humanos.

(35) A tradução em grego da Torah, em cinco livros ou cinco rolos – o Pentateuco em grego – terá sido realizado, segundo a tradição judaica, entre 285 e 265 a.C.. Outras interpretações do mesmo trabalho de tradução apontam para que tal tenha ocorrido a partir de meados do século III a.C.. Existem, por outro lado, testemunhos de judeus locais que apresentam citações a partir do ano 200 a.C., datando o mais antigo papiro actualmente conservado da primeira metade do século II a.C.. – Esta tentativa de datação é estabelecida por Marie-Françoise Baslez, in Biblie et Histoire, judaïsme, hellénisme, christianisme, Paris, Fayard, 1998, p. 17.

(36) Biblia Sacra. Juxta Vulgatam Clementinam Divisionibus, Summariis et Concordatiis Ornata. Denuo ediderunt complures Scripturae Sacrae Professores Facultatis theologicae Parisiensis et Seminarii Saneti Sulpitii, Romae – Tornaci – Parisiis, Typis Societatis S. Joannis Evang., 1947, p. 2, Gen. I:21-23.

(37) Nova Bíblia dos Capuchinhos. Versão dos textos originais, Lisboa / Fátima, Difusora Bíblica, 1998, p. 25, Gen. I:21-23.

(38) Veja-se, de igual modo, a entrada “Aves”, in Dictionary of the Bible (1985), direcção de John D, Davies, versão em língua portuguesa, Dicionário da Bíblia, Rio de Janeiro, 16.ª edição, JUERP, 1990, pp. 62-63.

(39) Este templo medieval conheceu várias vicissitudes ainda ao longo do século XII (incluíndo um incêndio) só veio a ser consagrado, porém, em 1260, na presença do rei de França, Luís IX.

(40) Etienne Houvet, in Monographie de la Cathédrale de Chartres (obra premiada pela Academia de Belas-Artes, em França), s.l., 1900. Este autor edita, aí, sob. o  número 46, e referente a esse templo, a representação escultórica “Dieu créant les oiseaux”, referente, como indica, ao ”Portail Nord XIIIe. siécle (Baie centrale, cordons extérieures des voussures – Déposé)”, imagem que acima se reproduz.

(41) De períodos relativamente mais recentes, centraram-se em figuras da área da ciência como Lineu, Buffon, ou o Abade Raynal.

(42) Clément Janequin tinha nascido em Châtelleraut, França, cerca de 1485 (vindo a falecer em Paris em 1558). Tratou-se de um compositor muito atento à problemática da natureza, sendo neste aspecto um antecessor de Montaigne (1533-1592).

(43) A esse trabalho de Janequin associam-se uma produção lírica, em quatro estrofes, que se inicia com os seguintes versos: Reveillez vous, coeurs endormis/ Le dieu d’amour vous sonne./ A ce premier jour de may,/ Oyseaulx feront merveillez,/ Pour vous mettre hors d’esmay/ Destoupez vos oreilles/ Et farirariron (…)/ Vous serez tous en ioye mis,/ Car la saison est bonne. (...). Remete-se para a reinterpretação desta obra pelo agrupamento A Sei Voci, in  Clément Janequin. Le Verger dr Musique, Paris, 1995. Este registo, em CD, ocorreu precisamente três anos depois da morte do Prof. Sacarrão, em 1992 (não conseguindo nós ouvir sem ter sempre presente a sua memória e a recordação dos nossos debates).

(46) Pontificava então, à frente desse Movimento Ecológico Português, Afonso Cautela.

(47) Estava-se então ainda muito longe de surgir, no quadrante político português, o partido ecologista Os Verdes, que desde muito cedo perfilhou um inequívoco alinhamento político. Obviamente que o MEP havia tido uma capacidade de intervenção ecológica e social muito mais abrangente.

(48) A relação do Prof. Sacarrão com a Liga para a Protecção da Natureza (inclusive no plano das publicações que aí foi fazendo) não deixa dúvidas, ainda hoje, quanto ao seu empenhamento, naquele período, nesse sentido.

(49) Luís Cancela da Fonseca, “Conservação de rapinas: algumas considerações baseadas em exemplos da costa sudoeste portuguesa” (1992), in Professor Germano da Fonseca Sacarrão (1914-1992), Lisboa, edição ant. cit.: 317-334.

(50) Este trabalho foi editado em Lisboa, por Assírio & Alvim.

(51) Em pesquisas que já desenvolvemos sobre a temática ecológica e a vivência do albatroz no seu habitat natural, nas regiões costeiras, numa perspectiva comparativa e em planos diacrónicos, já pudemos concluir (mesmo tratando-se de um domínio que não é, obviamente da nossa especialidade, mas como simples observador na área da Ciência) que, regra geral, tal habitat tem vindo a sofrer significativas alterações. Assinale-se por outro lado que em França, já em 1857, Charles Baudelaire (1821-1867) – na sua obra poética, de certo modo pioneira, Les Fleurs du Mal – apresenta uma nota de interesse (também de cariz sociobiológico) sobre o albatroz, nestes termos “(...) des albatros, vastes oiseaux des mers.../ ces rois de l’azur.../ laissent piteusement leurs grandes ailes blanches/ comme des avirons trainer à côté d’eux. [l’albatros] ce voyager ailé (...)”.

(52) Polar Biology DOI 10.1007/s00300-011-0984-3

(53) Este trabalho saiu publicado pela Equipa Atlas, in Atlas das Aves Nidificantes em Portugal (1999-2005). ICNB, SPEA, PNM e SRAM. Assírio & Alvim, Lisboa, 2008: 67-83.

(54) ESA – Ecosphere, 2015.

(55) Marcel Conche, idem, edição ant. cit. Cfr., ainda, “Marcel Conche, L’Ésprit de la Nature”, in Le monde des Religions, n.º 73, volume especial sobre o tema Les Sages de notre Temps, Paris, Setembro-Outubro de 2015, pp. 30-31.

(56) E é aos cientistas da área do estudo das Aves que compete, hoje, encontrar respostas sobre as razões por que se registam, desde as últimas décadas, alterações significativas e quantitativas nos contingents de aves que estão a deixar as grandes cidades.

(57) Pierre Belon, L’histoire de la natures des oyseaux, Paris, na oficina de Guillaume Cauellat (sendo impressor, Benoist Preuost), 1555, 381 pp. In, Jean-Pierre Ouvrard (falec. 1992), “Clément Janequin, Le Chant des Oyseaulx”, in Le Chant des Oyseaulx, Arles, Harmonia Mundi, (1983), nova edição, 2013, livreto, p. [4]. – A imagem da ave canora que aqui se reproduz foi obtida, com a devida vénia, da publicação Montanhas Mágicas Magazine, 2014.

(58) António de Oliveira Matos, “Aves migradoras”, in Animais Migradores, Lisboa, Biblioteca Cosmos, 1.ª secção (Ciências e Técnicas, 24), n.º geral, 53, 1944, pp. 59-63. Veja-se ainda, Manuel Cadafaz de Matos, “Projecto e projecção da Biblioteca Cosmos”, 2.ª parte (Resposta ao leitor), in Revista Portuguesa de História do Livro, vol. 11, Lisboa, CEHLE, 2004, pp. 169-173.

 

 
 
 
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