Revista TriploV de Artes, Religiões & Ciências .
ns . nº 54 . outubro-novembro 2015 . índice



Miltos Sachtouris or Miltos Sahtouris (Greek: Μίλτος Σαχτούρης; July 19, 1919, Athens – March 29, 2005, Athens) was a Greek poet. He was a descendant of Georgios Sachtouris which had origins from Ydra island. When he was young he aborted his law studies to follow his real passion poetry and adopted the pen name Miltos Chrysanthis (Μίλτος  Χρυσάνθης). Sachtouris then wrote his first poem, The Music Of My Islands, under his pen name, in 1941.
MILTOS SACHTOURIS (Μίλτος Σαχτούρης)

Seis poemas

Versões de Luís Costa


O poeta soldado

 

Não tenho poemas escritos

entre vozes ruidosas

entre vozes ruidosas

a minha vida passou

 

Um dia tremo

outro arrepio-me

no medo

no medo

a minha vida avança

 

Não tenho poemas escritos

não tenho poemas escritos

só cravo

cruzes

nas sepulturas

 

O coelho louco

 

Vagueava pelas ruas, o coelho louco

vagueva pelas ruas

fugiu do redil, o coelho louco

e caiu na lama

 

a alvorada brilhou, o coelho louco

a noite abriu-se

os corações sangraram, o coelho louco

e o mundo brilhou

 

seus olhos encheram-se de lágrimas, o coelho louco

sua língua inchou

gemeu como um insecto negro, o coelho louco

a morte na boca.

 

O café

 

Sentei-me no café e olhei pela janela

uma mulher sem mãos tentava

esconder um telefone na boca

o pássaro vermelho e gordo ,

que me persegue constantemante,

voou três vezes à minha volta;

depois, poisou em frente à porta do café

e disse-me :

“ és um ingénuo, não sabes nada,

vou matar - te! “

então, tentei cantar a cantiga

da doce mulher branca, que morreu com as freiras.

era tudo tão macabro e assustador

que desatei às gargalhadas

e ri

ri

ri

 

por fim, vi-me a mim próprio,

passando do outro lado da janela

infinitamente triste e pensativo.

 

A tarde verde

 

Naquela tarde verde

a morte escolheu o meu pátio como alvo

da minha janela morta

com o meu olho de veludo

vi como ela vagueava

vagueva e imitava o vendedor de rosquilhas

vagueava e imitava o cauteleiro

e as crianças não suspeitavam de nada

brincavam com as suas pistolas e davam gritos

a morte porém regressou e aproximou-se

e de novo se afastou e desapareceu

para de novo se aproximar

depois teve medo

começou aos gritos

maquilhou os olhos pintou as unhas

respirou fundo

começou a falar muito alto

comportava - se como uma mulher...

por fim foi-se mesmo embora

e murmurou:

– hoje não tive sorte

volto amanhã.

 

Menelao

 

Não tenham medo da lua com a barra de ferro,

disse a laranja, que explodiu dentro de mim,

não tenham medo do sol, que escurece

as urnas devastadas,

da mãe da chuva com os olhos arrancados, não

tenham medo

das asas negras do pássaro na vossa cabeça

durante o sono

de repente, ele começa a esvoaçar, irado,

e vocês acordam

 

vede como Isidoro brilha lá no alto

como desce das estrelas por uma corda

 

chamam-no Menelau, o enfermo. 

 

A visita

 

Naquele tarde acordei com um desejo intenso de ir a Pireu visitar a família K. com esta família mantivemos durante muitos anos uma forte relação de amizade. Mas como em muitos destes casos acontece, os nossos encontros tornaram-se cada vez mais esporádicos, ao ponto de não nos encontrarmos mais.

Desde o nosso último encontro, devem ter passado cerca de cinco ou seis anos.

Pensava precisamente nisso, quando, naquela tarde, acordei com aquele desejo tormentoso, aflitivo e persistente de imediatamente me pôr a caminho de Pireu para ir visitar a família k.

Enquanto descia a rua, compreendi que se passava algo de estranho comigo: uma calma inexplicável e uma alegria estranha inundavam-me. Neste estado de alma, sentei-me no primeiro táxi que encontrei e disse:

– Para Pireu!

Era uma tarde de março. O céu estava encoberto. Através do pára-brisas, ia observando as nuvens que tinham alguma coisa da alegria e leveza que havia dentro de mim.

Chegados a Pireu, o táxi tomou a direcção do cais. Ali, desci diante de um enorme barco branco, cheio de passageiros, que já apitava para a partida.

Subi e perguntei ao capitão.

– Está bem, disse-me ele, rindo, partimos já. Tem a viagem paga até à eternidade e todos os lugares onde estiver.

– Partimos já, repetiu.

E, de facto, quando lancei um olhar através da janela do camarote, já tínhamos deixado o porto de Pireu.

 
 
EDITOR | TRIPLOV
Contacto: revista@triplov.com
ISSN 2182-147X
Dir.
Maria Estela Guedes
PORTUGAL
Página Principal
Índice por Autores
Série Anterior
 
www.triplov.com
Apenas Livros Editora
Revista InComunidade
Agulha
Revista de Cultura
Triplov Blog
www.triplov.com