REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


nova série | número 52 | junho-julho | 2015

 
 

 

Herberto Helder

Larva

Com agradecimentos a Luís Manuel Gaspar pelo envio do poema

Herberto Helder (Funchal, 1930-Lisboa, 2015). Poeta, ficcionista, jornalista.

 

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
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Dir. Maria Estela Guedes  
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Bom dia, Estela,

 

O Luís Amaro mostrou-me há anos uma colecção de pastinhas da queima das fitas de Coimbra, em cuja edição de 1958 o Herberto Helder publicou o soneto «Larva», que nunca vi referido nas bibliografias do poeta. A semana passada pedi ao meu querido Luís que me  emprestasse as pastinhas para digitalizar algumas páginas e comecei naturalmente pela «Larva». Quando li estes raros decassílabos, lembrei-me de uma conversa com o Herberto, em que ele falou com entusiasmo do «Sôbolos rios» de Camões, do 'enjambement' que faz as redondilhas «não soarem a fado».

Imaginando que possas não ter tido notícia desta publicação, envio-te as imagens como agradecimento tardio pelo 'Herberto Helder, Poeta Obscuro', que li alvoroçado enquanto aguardava a saída da edição de 1981 da 'Poesia Toda'. As citações no teu livro foram os primeiros versos que li do poeta, salvo os que vinham no 'Photomaton & Vox'. E vi-te a fumar esplendidamente num programa de televisão, com o Eduardo Prado Coelho e o Fernando Assis Pacheco! Poucos anos depois, o António Barahona apresentou-nos na Brasileira e falámos da 'Pipxou', que eu tinha comprado na feira das Belas-Artes...

Um abraço,

Luis  

   
 
   
 

LARVA

Pelo tempo chamado do Outono,
quando a beleza é mais oculta e calma
e na face das coisas pesa o sono
das águas do desejo, fecho a alma
e fico sem estrelas e sem nome.
Humilde, vou tecendo meu destino
futuro de palavras e de fome.
Nesse tempo do Outono meu latino

esplendor é uma cinza paciente.

Meu espírito, um lago verde. Quente,

porém, a gota que leveda ao fundo

do silêncio. Depois serei o Dia,

e com poemas e sangue e alegria

nascerei, incontido, sobre o mundo!...

 

Herberto Helder

 
   
 

 

© Maria Estela Guedes
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