REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


nova série | número 31 | setembro | 2012

 
 

 

 

ANTÓNIO JUSTO

DOCUMENTA documenta  dOCUMENTA (13)

Maior Exposição mundial de Arte Contemporânea

 

                                                                  
 

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
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Dir. Maria Estela Guedes  
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Na provisoriedade de cada orientação, a dOCUMENTA (13) quer ser uma orientação desorientada. Serve a investigação artística aplicando-se às formas da natureza, do intelecto e da vida, pretendendo informar sem formar. Também se quer sentir humana desde que  na pele do símio. Pretende estabelecer uma aliança entre os diferentes domínios que vão do sensual ao especulativo, da prática à teoria, do político à ecologia. Esta dOCUMENTA quer conhecer sem reconhecer, desejando assim ser integral sem se tornar integradora nem parte integrante. Contenta-se com a vaidade e o histerismo do momento. 

Kassel, uma cidade de província da Alemanha, com 200.000 habitantes, consegue ser, de quatro em quatro anos, o centro de peregrinagem, por cem dias (desta vez, de 9.06 a 16.09.2012), dum público que ronda o milhão de visitantes; este confere, durante esse tempo, um ar exótico à cidade. Kassel quer-se metrópole ao tornar-se o templo, o lugar de estadia que procura conectar todos os espaços e expressões: do físico ao psicológico, ao cultural, ao histórico, ao tecnológico, do real ao fantástico. 

Pretende ser o vínculo dos lugares e dos feitores da arte contemporânea a nível mundial. Numa palavra, para quem vive nesta linda cidade: pretende ser o umbigo do organismo artístico global. Um umbigo já elevado atendendo ao estado avançado de gravidez próprio de artistas e especialmente devido à posição da chefe absoluta da Documenta Carolyn Christov-Bakargiew, que se encontra em contínuo estado de graça e em “estado de esperança”. Nos seus enjoos de estado não admite parteiras na grande sala de parto, o Olimpo é só dela. Segundo a curadora, os artistas não devem estar presentes na discussão pública para que as suas obras de arte não sejam perturbadas por outros objectos de atenção, salvo o seu papel de matrona.  

De facto, a arte, como acto criativo, é um contínuo estado de parto, muitas vezes sem a responsabilidade de ter de se preocupar com o objecto parido nem com o seu sentido. É-lhe suficiente o momento da mudança e de conexão sem se fixar no lugar porque este poder-se-ia tornar em limitação física duma realidade que ultrapassa a possibilidade dos sentidos. Aqui arte e religião tocam-se mostrando-se aquela intolerante perante esta. (Recordar o conflito da escultura da torre, do artista Stephan Balkenhof, que na torre duma igreja estragava o conceito que a curadora tinha da Documenta 13.) 

Daqui a necessidade duma orientação desorientada que, por mal dos seus pecados, tem de se socorrer de objectos de arte bem físicos mas aproveitados e alargados pelo intelecto. O intelecto torna-se aqui uma necessidade para que o lugar criativo tenha um tecto num lugar que se pretende considerar como o espaço universal onde toda a espécie de parto é possível.  

Um problema da dOCUMENTA será não poder transpor o espaço e o tempo. O ser só se apreende situado, significando, por isso mesmo, no seu ser-aqui, limitação. O problema do acto criativo não está no acto criador em si mas no seu tempo e na sua roupagem… Temos de nos contentar com a roupagem e falar de roupas ganhando assim, nesse proceder, a impressão, de transcender o próprio vestido. Também por isso, o artista é um eterno insatisfeito, tendo de se reduzir a produzir o episódico, a gerar apenas História, podendo apenas imergir na sua roupagem, muito embora na procura do seu espírito. 

A Direcção da dOCUMENTA, para criar mais fascínio, pelas obras de arte expostas no exterior, associa-lhes histórias dirigidas à imaginação intelectual, dado o objecto nu, sem a roupagem intelectual, deixar falar apenas a própria nudez num mundo que se quer tudo mais. menos inocente. Aqui tudo se torna objecto, objecto para cobrir e encobrir. O observador, esse, é objecto de arte e o artista o seu complemento. 

A História também se escreve com a arte e especialmente com o amor aos factos e aos objectos. 

Na dOCUMENTA encontra-se muita arte, muitos artistas e também pensadores.

 

António da Cunha Duarte Justo

www.antonio-justo.eu
antoniocunhajusto@gmail.com
www.arcadia-portugal.com

 

 

Revista InComunidade (Porto)

 

 

 

 

ANTÓNIO da Cunha Duarte JUSTO . Nasceu em Várzea-Arouca (Portugal)
Professor de Língua e Cultura Portuguesas, professor de Ética, delegado da disciplina de português na Universidade de Kassel . Algumas publicações: Chefe Redactor de Gemeinsam, revista trimestral do Conselho de Estrangeiros de Kassel. Editor da Brochura bilingue: "Pontes Para um Futuro Comum – Brücken in eine gemeinsame Zukunft", Caritas, Kassel. Autor de „Kommunalwahlrecht für Ausländer – Argumente“, Kassel, 1987. Co-autor de „Ausländerbeiräte in Hessen - Aufgaben und Organisation“, AGAH e Hessische Landeszentral für politische Bildung, Wiesbaden, 1988.  Colaborador de vários jornais e do programa de rádio semanal de português de Hamburgo.
E-mail: a.c.justo@t-online.de.
http://blog.comunidades.net/justo

 

 

© Maria Estela Guedes
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