REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


Nova Série | 2011 | Número 14

 

LUÍS COSTA

 

Três poemas do livro

«Arqueologia nocturna»

                                                                  

 

REVELAÇÃO 

 

Esta é a revelação do mundo,

a raiz-bocal de um só instante no nó das aves,

argila que se dilata sobre o pacto do grito e girândolas nas mãos

que amassam o barro.

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
Dir. Maria Estela Guedes  
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Os dedos com a sonoridade das uvas, mulheres nuas,

o bronze estremecendo, rubro.

O magnifico naufrágio nas flâmulas dos tigres,

as rosas da carne

com a hibernação florindo, ao cimo, no mar.

 

Sombras iluminadas que correm pelos bosques,

a nudez lacustre,

animais que bebem o lume da terra,

o turbo da vertigem e a rotação dos fontanários,

praças de pedra e cal,

portentosos instrumentos de medição anteriores ao deus.

 

E o rosto de criança que salta dos sonhos, lesto.

O rosto. Um rosto esperança -de - homem -florido

com uma cavilha ao alto, na testa.

As mãos negras de amor por onde

sobem as linhas da água e o rigor do mármore.

 

Ah! Os malmequeres, as válvulas, luminosos estames,

a assunção do vinho, o cântico nas pérolas.

 

 

OBSCURA-LUMINOSIDADE     

 

Obscura mudez hilariante

o espaço dos cereais

anémonas ,peixes- rosa

a seiva explodindo

nos nós exactos da semente

 

O olho parado sobre o mundo

como uma seta que nunca alcança o real

criaturas avançando, lestas, por entre

os borbotões do verde

(renovados e sempre ousados caminhos)

 

o homem poisa a mão na terrosa luz

do antigo muro

leva-a à boca como quem come

a inquietude dos frutos negros

 

a renúncia já não é possível

tudo se afirma no fabuloso espaço

vida/ morte

da presença /ausência

de um deus

 

durante um dia

também o insecto vigorará metálico

nesta espiral milagrosa

um alto sibilar da palavra obscura

mas iluminada 

 

FRAGMENTO 2      

 

Idade do jasmim,

obscuro roer de animais entre folhagens líquidas.

 

Aqui se encostam.

Aqui se deitam no torrencial fluir da terra.

O ritmo dos líquidos.

A vertical horizontalidade das formas.

 

Cada passo um passo.

Uma estaca tingida de luz e tijolos que bebem

madrugadas.

 

Uma estaca.

Junto a ela, um pórtico florido.

Negros frutos e o recanto das borboletas.

 

Um corpo sentado dentro dele mesmo.

À frente, a tenda

e a estaca

cravada no chão,

os joelhos apontando para o centro do mundo.

 

Ao fundo, a gaia ciência dos ímanes.

Sombras de deuses cintilando nos metais.

As suas hélices.

O sol.

O fantástico rodar das fábulas inclinadas em riste,

à volta do fogo,

na boca dos avós.

 

Brusco turbilhão de curvas transparentes nos rostos

das crianças.

 

De súbito, o mundo deixa de se ouvir.

Já nada há que se agite.

 

No terraço: A lua. As ferramentas. Lençóis. A seda.

 

 

30 . März 2011, Züschen

Luís Costa

 

 

Luís Costa (17 de Abril de 1964, Carregal do Sal. Portugal).
Tem vindo a editar trabalhos em revistas e sites digitais como: revista Conexão Maringá, revista Zunái, jornal Triplov, site Triplog e revista Agulha.
Blogue pessoal: http://oarcoealira.blogspot.com/
Contacto: l.Costa@web.de

 

 

© Maria Estela Guedes
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