REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


Nova Série | 2011 | Número 11

   

 

 

Foto: Ed. Guimarães

PRESENÇA DA DIREÇÃO

MARIA ESTELA GUEDES

O teatro íntimo de

Ronei L. Filgueiras

Fotos de Carlos Alberto Filgueiras e de Maria Estela Guedes

 
DIREÇÃO  
Maria Estela Guedes  
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Para o Carlos Avilez e Antônio Abujamra, homens do teatro,
 entre outras feições do que nos põe a sonhar

 

Nos arredores de Belo Horizonte, mais concretamente no condomínio Retiro das Pedras, no Brumadinho, tive oportunidade de visitar um teatro sui generis, quer pelo lugar onde foi construído, quer pelo risco arquitetónico. É um teatro circular, cuja cúpula, de adobes, parece pairar sobre o palco (ver as duas primeiras fotos), sem nada que aparentemente segure os tejolos uns aos outros para não desabarem. Exteriormente, o edifício é pouco conspícuo, por duas razões: este teatro foi construído dentro de casa, e a cúpula é ajardinada.

Necessariamente, estamos face a uma obra de arte, compósita, uma vez que há a considerar ainda elementos ornamentais como vitral, pintura, desenho dos mosaicos do chão, e outros para os quais era preciso o autor ter chamado a atenção. Paralelamente, tratou-se de transferir para os materiais duros engenhos matemáticos, algo como poesia de números. É a matemática que segura os adobes da cúpula, cujo visual difere consoante é vista de noite ou de dia. De noite, por causa da iluminação no desenho de vidros, temos a ilusão de uma abóbada celeste coberta pelas constelações.

Propriedade de Ronei Lombardi Filgueiras, foi inaugurado em 1981 com um recital de piano de Nelson Freire.

O teatrinho, de 80 lugares, tem por nome Domus aurea, como o extravagante palácio que Nero mandou construir depois do incêndio de Roma. Os materiais básicos, no palácio romano, foram o tejolo e a argamassa, mas depois levou folha de ouro e até pedras preciosas lhe foram incrustadas. A Domus aurea, ou Casa dourada, no Retiro das Pedras, em Minas Gerais, é igualmente uma obra de arquitetura extravagante; se bem que um dos seus materiais básicos também seja tejolo, já a riqueza lhe advém da imaginação do arquiteto, que substituiu pedrarias pelos vidrinhos e o ouro pela tonalidade quente do recinto, emprestada sobretudo pelo círculo de mosaico no chão, sob a abóbada.

Podemos ficar com uma imagem mais completa do génio polícromo de Roney L. Filgueiras, e da sua sensibilidade poética no uso dos materiais, no site «Crear» :

Sua genialidade não se restringe aos complexos cálculos estruturais da membrana e criação de processos construtivos como os Hyparsystems; Vai muito além: Possui um vasto trabalho na arquitetura moderna inspirado nas membranas, projetando inúmeras casas, teatros, igrejas e catedrais, prédios, clubes, adegas e obras especiais. Possui um excepcional talento para artes plásticas, em especial a pintura, cujos quadros tem reconhecimento internacional, com várias exposições nos EUA, Europa e Japão. Outros trabalhos de exímia beleza são seus vidros elaborados especialmente para suas igrejas. Na música compõe maravilhosas partituras clássicas; Na literatura escreve poemas de extrema sensibilidade. Dr. Ronei é um poliglota, com domínio de mais de 06 idiomas.» (1)

A visita à Domus aurea, proposta por Carlos Alberto Filgueiras, irmão de Ronei, foi muito breve. Talvez numa próxima oportunidade possa fruir a beleza e o calor deste teatro sentada na plateia, assistindo a uma representação ou mais provavelmente a um concerto, a mais comum das ações artísticas que nele têm lugar.

É um teatro íntimo, sim: manifestação da alma do arquiteto e lugar para devaneios. Fotografando entre cúpula e cena, sonhei com uma peça minha representada nele. Nele ou noutro espaço teatral do Brasil, quem sabe? A minha peça «Tango Sebastião» está a ser lida e comentada no Brasil, tal como já foi lida e comentada no TEC, o teatro de Carlos Avilez.

O teatro é o espaço em que o sonho se materializa em simulacro de vida, em que a vida se representa. Sonhemos. Quem sabe?

 
 
 
 
Ronei L. Filgueiras fala da matemática subjacente à arquitetura do seu teatro
 
 
A cúpula, exteriormente, é ajardinada
 
  O vitral é um dos elementos ornamentais da obra de arquitetura
 

  (1) «Dr. Ronei Lombardi Filgueiras». In:

http://www.crear.com.br/novocrear/eng/crear_conteudo.php?conteudo=65

 

 

Maria Estela Guedes (1947, Portugal). Diretora do TriploV
ALGUNS LIVROS. “Herberto Helder, Poeta Obscuro”, Lisboa, 1979;  “Mário de Sá Carneiro”, Lisboa, 1985; “Ernesto de Sousa – Itinerário dos Itinerários”, Lisboa, 1987; “À Sombra de Orpheu”, Lisboa, 1990; “Prof. G. F. Sacarrão”, Lisboa, 1993; “Tríptico a solo”, São Paulo, 2007; “A poesia na Óptica da Óptica”, Lisboa, 2008; “Chão de papel”, Lisboa. 2009; “Geisers”, Bembibre, 2009; “Quem, às portas de Tebas? – Três artistas modernos em Portugal”, São Paulo, 2010; "Tango Sebastião", Lisboa, Apenas Livros Editora, 2010; "A obra ao rubro de Herberto Helder", São Paulo, Escrituras Editora, 2010. ALGUNS COLECTIVOS. "Poem'arte - nas margens da poesia". III Bienal de Poesia de Silves, 2008, Câmara Municipal de Silves. Inclui CDRom homónimo, com poemas ditos pelos elementos do grupo Experiment'arte. “O reverso do olhar”, Exposição Internacional de Surrealismo Actual. Coimbra, 2008; “Os dias do amor - Um poema para cada dia do ano”. Parede, Ministério dos Livros Editores, 2009. Dicionário Histórico das Ordens e Instituições Afins (Gradiva, 2010). TEATRO. Multimedia “O Lagarto do Âmbar, levado à cena em 1987, no ACARTE, com direcção de Alberto Lopes e interpretação de João Grosso, Ângela Pinto e Maria José Camecelha, e cenografia de Xana; “A Boba”, levado à cena em 2008 no Teatro Experimental de Cascais, com encenação de Carlos Avilez, cenografia de Fernando Alvarez  e interpretação de Maria Vieira. 

 

 

© Maria Estela Guedes
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