DICIONÁRIO
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MAZZOCCO'S
 

Assistir Brasil x Argentina é obrigação cívica para qualquer brasileiro. Portanto, ainda que se esteja na Cochinchina, tem de se tentar assistir o jogo. Mas aqui, nesta porção semi-tropical do Império ou, se preferirem, neste México de greencard, não seria difícil encontrar um lugar ombro a ombro com a turma do Comandante Marcos (eu gosto de ver tudo pelo lado
positivo!) que é também franca admiradora do nobre esporte bretão e, pelo
que reza a propaganda, torce pelo Brasil. Escreve e-mail daqui, escreve e-mail dali, e alguns brasileiros em torno de Stanford descobrem alguns lugares e decidem pelo Mazzocco's, aqui mesmo em Redwood City. $10,00 por cabeça, $5,00 as crianças, uma bagatela para os padrões$$$ locais$$$. Fui ao tal lugar assim de alegre, sem ter a mínima idéia do que seria o tal Mazzocco's. Apenas impressionou-me o nome do bar que sem dúvida parecia uma mensagem de algum deus asteca. Com a seleção mixuruca do jeito que estava, não era difícil antecipar a angústia que me/nos aguardava, e daí que mazzocco's nada mais seria que o alerta que o tal chapuetecapetecal me/nos enviara sobre a experiência masoca que estava a me/nos aguardar. Já cheguei atrasado, eu e duas crianças, meus filhos, e já pelo lado de fora, deu para sentir que o tal Mazzocco's era um belo de um inferninho. Entramos. Tudo cheio e tudo escuro, o Brasil já estava 1 x 0, uma jogada perigosa da Argentina e... o Mazzocco's vibrou!! Vejam bem: eu e duas crianças metidas ali naquela muvuca, com a torcida majoritariamente argentina, sem enxergar um brasileiro sequer daqueles que haviam se acertado por... e-mail...

Arrumamos um canto, o único viável, lá na sala das mesas de bilhar, onde uma garçonete quase desnuda circulava entre os fregueses. Meu filho olhou em volta assustado e começou a chorar copiosamente."Quero ir pra casa" e eu, como pai brasileiro, não podia aderir àquela reivindicação que, a depender daquele primeiro impacto, todavia me pareceu justíssima. "Guentaí, Ian", apelei desconsolado e, para piorar minha existência, o tal do Crespo quase marca pra ARgentina, para delírio do Mazzocco's. Mas, porém, todavia, contudo, o Brasil ganhava a peleja e veio o segundo gol. Houve um alarido, é bom que se diga, reforçado provavelmente por aqueles mexicanos que nos admiram desde a copa de 70. Veio a Argentina, gol, vibração argentina, e foi aí que o Ian decidiu-se em definitivo por voltar para casa, totalmente apoiado pela Raquel, a irmã. Já ia longe o meu sufoco quando providencialmente o juiz apitou o fim do primeiro tempo. Mais que depressa, fui ter à calçada do lado de fora para negociar com as crianças. Negociação duríssima, que me custou dois Cheetos crunchy, um artefato resultante de uma experiência muito bem sucedida de se produzir um aperitivo misturando isopor, flavorizante e colorante, cujo único porém é soltar uma anilina na mão que só sai depois de lavar a mão muito bem lavada. Sem falar em um sacolão de Doritos, um balde de Gatorade, etc, etc. Segundo tempo: bem, o resto todos já sabem. O melhor da história, e este prazer vcs. não têm aí no Brasil, foi ver o Brasil ganhar dos argentinos - o que já é uma delícia - ao lado dos argentinos, o que é orgiástico!! Amanhã, vou passar por lá e propor à gerência que mude o nome do bar para Saddicco's.