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CUNHA DE LEIRADELLA
 

APONTAMENTOS PARA UM
TEATRO DE QUESTIONAMENTO

 

Restantes etapas da encenação teatral
 

I - Escolha do elenco

O elenco deve ser escolhido considerando-se, preferencialmente, a adequação do ser dos atores ao ser dos personagens. A aparência física é importante. Mas quando considerada como condição sine qua non, corre-se o risco de ter o corpo do personagem e não a alma do personagem.

II - Leitura do texto

1) O texto deve ser sempre lido pelos atores.

2) As primeiras leituras devem ser feitas à italiana (1) e o texto deve ser lido, sempre, completo. Só lendo todas as falas os atores poderão ter uma idéia concreta da intencionalidade do autor.

3) Na primeira leitura devem estar presentes o cenógrafo, o figurinista, o músico (ou músicos) e os técnicos, para que cada um possa tomar conhecimento das especificidades sugeridas pelo texto em suas áreas.

4) Qualquer que seja a intenção da leitura, nunca esquecer que será sempre uma leitura dramática. O que se costuma chamar de leitura branca , sem envolvimento, não existe. É impossível ler seja o que for sem haver envolvimento, participação de quem lê.

5) As leituras das unidades dramáticas só devem ser iniciadas após a escolha definitiva do elenco.

III - Distribuição dos papéis

A primeira distribuição deve ser provisória. É preferível trocar um ator a ter de contornar um personagem.

IV - Marcações cênicas

1) As primeiras marcações devem ficar, sempre, por conta dos atores.

2) As marcações do diretor, ainda que provisórias, devem ser iniciadas pelas unidades dramáticas de menor intensidade. É nesse momento que são aceitas, corrigidas ou trocadas, as marcações criadas pelos atores.

3) As correções de voz, gesticulação, postura, valorização de palavras ou expressões, só devem ter início quando os atores já conhecerem os personagens.

V - Cenografia I

Primeiro estudo da cenografia:

1) Concepcionar os cenários e os figurinos, considerando a sugestão do texto.

2) Concepcionar os cenários e os figurinos, considerando a proposta do espetáculo.

3) Discutir as diferenças com o cenógrafo e com o figurinista.

VI - Cenotécnica I

Primeiro estudo da cenotécnica:

1) Concepcionar a trilha sonora, os efeitos de iluminação e os efeitos especiais, considerando, separadamente, a intensidade de cada unidade dramática.

2) Concepcionar a trilha sonora, os efeitos de iluminação e os efeitos especiais, considerando o espetáculo como um todo.

3) Discutir as diferenças com o músico (ou músicos) e com os técnicos.

VII - Cenografia II

Segundo estudo da cenografia:

1) Os cenários e os figurinos devem ser discutidos com os atores depois de conhecidos os personagens. O cenógrafo e o figurinista devem estar presentes.

2) A confecção dos cenários e figurinos só deve ser iniciada após esta reunião.

VIII - Cenotécnica II

Segundo estudo da cenotécnica:

1) A trilha sonora, os efeitos de iluminação e os efeitos especiais também só devem ser discutidos com os atores depois de conhecidos os personagens. O músico (ou músicos) e os técnicos devem estar presentes.

2) A criação da trilha sonora, dos efeitos de iluminação e dos efeitos especiais só deve ser iniciada após esta reunião.

IX - Ensaios

É nos ensaios que se consolida a armação e se faz a amarração do espetáculo.

Para que o desenvolvimento dos trabalhos se corporifique e cristalize, gradualmente, na mente dos atores (e de todo o pessoal envolvido na produção), os ensaios deverão ser divididos em:

- ensaios parciais

- ensaios de prova

- ensaios corridos

- ensaios gerais

ensaios parciais

É nestes ensaios que se concretizam as marcações das unidades dramáticas. Paralelamente, se necessário, deverão ser utilizados exercícios de laboratório com os atores.

ensaios de prova

É nestes ensaios que se verifica a intensidade atingida em cada unidade dramática e, ao mesmo tempo, se confronta a relação ação/conflito. Os critérios a serem considerados para estes ensaios já foram assinalados na 4 a fase da análise do texto, ao ser decomposta a construção, e na 5 a fase da análise do texto, ao ser decomposta a ação. É ainda nestes ensaios que se explicita o grau de questionamento que o espetáculo deve (ou pode) atingir.

ensaios corridos

É nestes ensaios que se ajusta o ritmo do espetáculo, já assinalado na 8 a fase da análise do texto , ao ser determinado o ritmo de cada unidade dramática e a sua adequação ao ritmo final do espetáculo. Os cenários, os figurinos, a trilha sonora, os efeitos de iluminação e os efeitos especiais já devem estar todos produzidos.

ensaios gerais

É nestes ensaios que se verificam a unidade, a harmonia e o ritmo do espetáculo como um todo. As apresentações são, praticamente, as mesmas que o público verá na estréia.

X - Cenografia III

Terceiro estudo da cenografia:

1) Quanto mais cedo os atores puderem conhecer os cenários e os figurinos, tanto melhor. Para o ator, o palco é uma espaço concreto, onde cada objeto tem o seu lugar e a sua função. Inclusive ele, ator.

2) É necessário que os atores usem os figurinos a partir dos ensaios corridos. Nada pior para o equilíbrio visual do espetáculo do que os figurinos deixarem perceber que foram feitos, especialmente, para serem mostrados naquele momento.

XI - Cenotécnica III

Terceiro estudo da cenotécnica:

1) A trilha sonora, os efeitos de iluminação e os efeitos especiais devem ser usados, já completos, nos ensaios corridos.

2) Nada pior para o ator do que ser obrigado a ajustar o personagem à junção de novos elementos.

XII - Pré-estréia

É a prova de fogo do espetáculo. Portanto, um público escolhido deve ser convidado. O diretor deverá ter pronto um cronograma das reações dos espectadores (que ele julga serem as ideais) para cada unidade dramática. No final da apresentação deve ser feito um debate, do qual participarão todas as pessoas envolvidas na produção e o público convidado. O diretor deve avaliar, então, as diferenças entre as reações que considerou ideais e as demonstradas pelos espectadores.

XIII - Ajuste

É a última apresentação do espetáculo antes da estréia. Nela devem ser corrigidos todos os pontos discutidos na pré-estréia, principalmente as reações dos espectadores. Não deverá ter público presente.

XIV - Estréia

O diretor deve assistir ao espetáculo da platéia, como espectador. O espetáculo já não é mais seu. É do público.

 

(1) Leitura feita pelos atores sem interferência do diretor.