O.CADERNOS DO ISTA, 5





EDITORIAL

 

Vivemos numa pluralidade de mundos, mas é o mundo em que vivemos que temos de interrogar, para sabermos se haverá na terra uma medida. Para que não se instale em volta de nós um vazio ético. Que pode ainda ligar estes mundos que nos rodeiam? Talvez a ética surja como a força unificadora da pluralidade dos mundos. E a compaixão, o traço de união mínimo entre cada um de todos estes mundos. Como pode o homem ser conduzido a aceitar um máximo de responsabilidade e a ser conduzido também pela virtude da compaixão, partindo basicamente da experiência da sua mortalidade e da sua socialidade?

A medida do agir responsável que procuramos deve revestir-se, para além de um “princípio responsabilidade”, de um outro princípio, o da “compaixão”, articulado sobre uma teoria das virtudes. Tem de lutar-se simultaneamente contra a hipocrisia mistificadora do universalismo abstracto e pelo acesso universal às condições de acesso ao universal, objectivo primordial de qualquer verdadeiro humanismo que, tanto a pregação universalista, como a (falsa) subversão niilista esquecem (Bourdieu). As convicções são hábitos de acções (Bain e Peirce). Se nenhuma das nossas acções é previsível sobre a fé das convicções que nos atribuímos, então estas pretensas convicções não passam de fórmulas resmoneadas, incantações insignificantes (R. Rorty).

Falamos de virtudes no plural, porque no singular a palavra está associada ao terror. Precisamos do valor activo, militante dos princípios contra o nosso obscuro desejo de catástrofes. Sob o choque do pavor diante da nossa própria fragilidade vem em socorro o poder de compadecer-se, tornando-se força de agir, quer dizer, virtude. O mundo só se tornará habitável se cada um se descobrir a “si mesmo como um outro” (P. Ricoeur). Os textos ora dados a lume neste Caderno tentam, cada um segundo a sua perspectiva, responder à questão inicialmente posta: como passar da responsabilidade à compaixão? É a vez dos leitores responderem, também cada um per si, a essa veemente questão.

Fr. José Augusto Mourão, OP

 

ÍNDICE

CARLOS JOÃO CORREIA: RELIGIÕES E COMPAIXÃO
FRANCISCO SARSFIELD CABRAL: A TEORIA DA JUSTIÇA (RAWLS) OU A PARTILHA DOS EGOÍSMOS
BENTO DOMINGUES: VIRTUDES DA ÉTICA RELIGIOSA E DA ÉTICA LAICA
JOSÉ DE FREITAS DINIS: PIEDADE VERSUS COMISERAÇÃO
JOSÉ AUGUSTO MOURÃO: AGUSTINA E DURAS
MANUEL DO CARMO FERREIRA: DA RESPONSABILIDADE À COMPAIXÃO
ISABEL RENAUD: O ELOGIO DAS VIRTUDES (1-4)
.








ISTA
CONVENTO E CENTRO CULTURAL DOMINICANO
R. JOÃO DE FREITAS BRANCO, 12 - 1500-359 LISBOA
CONTACTO: jam@triplov.com