JOSÉ VERDASCA
José Verdasca dos Santos. 79 anos, licenciado em Ciências Militares pela Academia Militar de Lisboa; em língua e cultura francesas pela Alliance Française; licenciado e pós-graduado em administração/gestão de empresas pela Universidade Mackenzie de São Paulo. Membro do Parlamento Mundial para Segurança e Paz (Itália), de dez academias brasileiras, da Sociedade de Geografia de Lisboa; diretor de relações internacionais das Faculdades Panamericanas e da Associação Alagoana de Imprensa. Condecorado pelo Parlamento de São Paulo com a "Honra ao Mérito" duas vezes e pela Câmara Municipal de São Paulo com "Laurea de Gratidão" além de cerca de vinte outras láureas acadêmicas. Tem oito livros publicados, além de artigos em revistas de cultura, poemas e centenas de outros na imprensa francesa, sul africana, brasileira e portuguesa. Presidente da Ordem Nacional de Escritores (Brasil).

João Maria Ferreira Sarmento Pimentel (V)
(Um CAPITÃO em São Paulo)

Como nasceu o Grupo Votorantim,
hoje a maior potência industrial da América Latina. 
 

Sarmento Pimentel exilou-se no Brasil após a fracassada revolta de 1927, quando tinha trinta e oito anos de idade. Personalidade conhecida e prestigiada, homem nobre e inteligente, vivido e bem relacionado, na cidade de São Paulo seria acolhido e considerado pela elite como um dos seus, pelo que logo passou a frequentar tertúlias, clubes e residências de escol, e a conviver com as mais gradas figuras da então “pequena” cidade de menos de quinhentos mil habitantes. 

Na época pontificava na capital do Estado do mesmo nome a figura de Ricardo Severo – cunhado de Santos Dumont – brilhante arquiteto e antropólogo portuense, sócio do grande escritório de engenharia e arquitetura Ramos de Azevedo, onde era o responsável pelos projetos, e a quem se ficou devendo o grande número de importantes edifícios em estilo português espalhados pela cidade, além do belo estádio do Pacaembu, de onde regressava em 1940, quando faleceu a caminho de sua residência. 

E se Ricardo Severo era a “estrela” da comunidade portuguesa e uma das grandes personalidades da sociedade local, vinha-se impondo no meio social o antigo sapateiro António Pereira Ignácio, fundador do prestigiado Clube Português, e já então conceituado industrial do ramo de tecidos. Mas nos aspetos económico e financeiro, era a família Villares que ainda ocupava o “trono” paulistano, sendo proprietária de uma grande fazenda “às portas da capital” – a Fazenda Votorantim, onde – sem que o soubessem – se encontravam gigantescas reservas de excelente calcário próprio para cimento. 

António Pereira Ignácio era proprietário de um pequeno “sítio” na divisa dessa fazenda Votorantim, onde tinha “descoberto” um veio de calcário próprio para o fabrico de cimento, indústria que Pereira Ignácio sonhava ali implantar. Mas o tal VEIO prosseguia para a fazenda dos Villares, aos quais Pereira Ignácio nem sequer tinha coragem de abordar, para fazer uma oferta de compra. Amigo de Sarmento Pimentel, e sabendo da amizade deste com os Villares, procurou o capitão para solicitar-lhe que intermediasse a tentativa de compra da fazenda, com o argumento de que necessitava afastar da capital um seu filho conhecido boémio, para tentar afastá-lo do vício. 

E foi com esta incumbência que Sarmento procurou os Villares seus amigos, por quem foi bem recebido, mas deles ouviu a resposta que a fazenda não se encontrava à venda, nem Pereira Ignácio teria dinheiro suficiente para a adquirir. Insistindo, Sarmento Pimentel solicitou que – ao menos – lhe dessem um preço muito acima do valor da propriedade, para que não regressasse com uma negativa para Pereira Ignácio. Contemporizando, os Villares disseram que, como a fazenda valia cem contos de réis, a venderiam por duzentos. 

E foi essa a resposta que o capitão levou ao seu amigo e conterrâneo, convencido que ele nem sequer discutiria mais esse assunto. Mas qual não foi a surpresa de Sarmento Pimentel quando, ao informar Pereira Ignácio que os Villares exigiam exorbitantes duzentos contos de réis pela Fazenda Votorantim, ouviu dele que a fazenda era sua, ao mesmo tempo que lhe solicitava que regressasse com o sinal e pedido de marcação da escritura. E foi deste modo e pela mão de Sarmento Pimentel, que nasceu o Grupo Votorantim, hoje a maior potência industrial da América Latina. 

Sarmento Pimentel havia-se aposentado no posto de capitão, para assumir a gerência de minas de ferro e ou carvão, em virtude de – segundo suas próprias palavras – o soldo do exército não bastar para o sustento próprio e da família, à qual desejava proporcionar uma vida condigna, o que tinha conseguido no Porto e também alcançara no Brasil, onde implantou a primeira fábrica de vidros planos para Tomé Feteira e foi criador de bovinos de raça.

 

José Verdasca

 
 
 

Diretório aberto a 19 de dezembro de 2014