AS ROCHAS, OS SOLOS E OS SERES VIVOS

As rochas que todos conhecemos, na montanha, nas arribas do litoral, nas pedreiras, no chão que pisamos no campo ou nas calçadas das ruas por onde andamos, formam a capa rígida do nosso planeta, a que chamamos litosfera, da qual fazem parte não só a totalidade dos continentes como os fundos rochosos de todos os mares.

As rochas são formadas por minerais e tanto podem resultar do arrefecimento e consolidação da lava ardente de um vulcão como do endurecimento de uma areia de praia ou de rio.

Porque, ao longo do tempo, sempre houve formação de rochas nos mais variados ambientes, desde os mais profundos (a alguns quilómetros abaixo dos nossos pés) até aos mais superficiais, estas podem ser entendidas como documentos onde ficaram registados sucessivos passos da história da Terra. Os minerais que encerram são, por assim dizer, letras da escrita que permite desvendá-la.

Uma relação entre as rochas e os seres vivos, imediata de estabelecer, está patente em certas camadas de calcário formado pela acumulação de restos de organismos, como por exemplo conchas, testemunhos de seres vivos do passado, a que chamamos fósseis. É também o caso do sílex, uma rocha silicíosa muito dura e, por isso, importante para os nossos antepassados pré-históricos, no fabrico dos mais variados utensílios.

Uma outra não menos importante relação entre as rochas e o mundo biológico estabelece-se através do solo. A superfície dos continentes está permanentemente em contacto com a atmosfera, com água e até com os seres vivos, em particular os vegetais. Deste contacto resulta uma maior ou menor alteração das rochas que, via de regra, conduz a uma capa, mais ou menos desagregada e ocupada por uma flora e uma fauna próprias, a que chamamos solo. Ao nível dos continentes, é o solo que permite a fixação das plantas, possibilitando a transição do mundo mineral, inanimado, para o biológico, a começar pelos vegetais e a terminar nos grandes predadores entre os quais o Homem. Pode afirmar-se que sem solo e, portanto, também, sem rochas não haveria vida subaérea.

Lisboa, 20 de Janeiro 2003
A. M. Galopim de Carvalho