COOPERATIVA
DE ARTISTAS PLÁSTICOS

 

Exposição de desenho e vídeo "Codex - Palavra e Simulacro" de Jorge dos Reis.
A inauguração será no próximo Sábado, dia 7 de Maio, das 15h00 às 20h00, fazendo parte da Lisboarte Contemporânea.
A exposição estará patente até dia 11 de Junho 2005.

Sobreviver à iliteracia nos limites da legibilidade

Jorge dos Reis  

 

Codex - Palavra e Simulacro é uma exposição de fulgor fonético onde o uso da escrita, no contexto da arte conceptual, filia o uso da voz que se serve da grafia enquanto notação. Contudo as peças visuais têm um percurso de autonomia caracterizado por valores gráficos e acústicos baseados no desenho. A base teórica do desenvolvimento conceptual destas peças recorre a duas áreas do conhecimento aparentemente antagónicas: A notação primitiva e a tipografia das vanguardas europeias (Futurismo e Dada). Neste sentido a análise tipográfica das partituras da Musica Enchiriadis e Scholia Enchiriadis coloca-se neste contexto como iniciadora de um novo conceito: partitura tipográfica . Os critérios construtivos das composições tipográficas e sonoras do movimento futurista e do movimento Dada formam os estudos de caso que dão espessura e corpus ao conceito de condensação e sobreposição, síntese formal.

Esta mostra de vídeo e desenho tipográfico vem no seguimento dos trabalhos desenvolvidos no Royal College of Art onde para além do uso da voz em instalações e performances se inicia um processo de auto exposição performativa onde se "declamam" as notações/composições recorrendo ao estudo da ópera e do canto mas desconstruindo a prática do canto lírico. A exposição está dividida em duas metades mais um bloco de síntese final: (1) A palavra e o (2) simulacro da palavra. Cada uma destas partes está representada através de um vídeo e de uma parede de palavras/simulacros, estando as duas paredes organizadas ortogonalmente na galeria. No final os dois vídeos perpendiculares e as paredes em ortogonal elaboram o debate gráfico/fonético do conjunto da exposição.

Os níveis de iliteracia do nosso país ultrapassam os limites do aceitável. No entanto o problema da interpretação dos objectos textuais está não só colocado nas competências do receptor da mensagem mas também na ilegibilidade tipográfica dos textos e documentos com que lidamos no quotidiano. Estes objectos impressos são realizados pelos mediadores gráficos que aí depositam uma possível iliteracia provocada. Por consequência a análise da literacia tem esquecido aspectos relacionados com a legibilidade e a boa recepção na leitura dos documentos. Também neste projecto a escrita se apresenta (propositadamente) em rotura textual. As palavras lançadas num abismo de transparências e camuflagens. Ao leitor são pedidas tarefas de descodificação labiríntica. Magmas líquidos em forma de palavras solidificaram e encorparam-se numa mutilação cromática onde tudo se interpreta no limite da miopia. O quotidiano está latente (de forma emocionada) usando as capacidades expressivas do desenho da escrita. Cada registo é delator de que algo imperceptível está a montante da iliteracia, das competências pessoais e do analfabetismo funcional.

Troncos e Copas

Da janela do meu estúdio avisto Hyde Park. Nem longe nem perto, nem inacessível nem apetecível. É uma enorme janela, uma sala de grande pé direito, uma varanda de muro baixo. A rua ali em baixo - Queens Gate - finaliza numa das portas do parque por onde a minha vista entra ao encontro dos plátanos gigantes, que fazem daquele respirador da cidade uma verdadeira floresta inventada. Subo agora umas escadas. Atinjo o sétimo piso e avisto todo o parque. As copas das árvores preenchem por completo a paisagem. Visto dali é uma nuvem verde que poisou num inesperado vazio entre os prédios. Invariavelmente caminho pelos seus trilhos verdes e raspo com a testa nos ramos mais baixos para ouvir esse campo, essa serra de Portugal que zumbe nos meus ouvidos. Entro depois em choque com os troncos dos plátanos (como um jogo de rugby) para que a pele da madeira viva construa a relação entre corpo e superfície, certamente uma ligação tridimensional e por isso escultórica. Nessas alturas o desenho da escrita e a escrita do desenho surgem como um refugio mental. Uma reserva de pensamento visual que carrego todos os dias em Londres.

Jorge dos Reis
Royal College of Art Londres
26 de Novembro de 2003

 

Jorge dos Reis

Nasceu em 1971, natural de Unhais da Serra. Vive e Trabalha em Lisboa

Jorge dos Reis Foi aprendiz tipógrafo com um primeiro oficial de tipografia da Imprensa Nacional numa antiga oficina tipográfica do Cais do Sodré em Lisboa. Após esta experiência o seu trabalho tem explorado a utilização da velha tipografia Gutenberguiana enquanto meio de expressão visual relacionando constantemente a palavra impressa com o seu contraponto sonoro e fonético. Estudou tipografia de caracteres móveis em Inglaterra e música em Lisboa: Frequentou a Escola de Música do Conservatório Nacional onde foi aluno da classe de canto do Barítono António Wagner Diniz e contactou de perto com os compositores Paulo Brandão e Jorge Peixinho; em 1995 foi aluno na Norwich School of Art & Design estudando no seu letterpress studio; em 1996 frequentou o Typography Workshop de Alan Kitching em Londres com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian e no ano lectivo 2003-2004 realizou o Research Methods Course do Royal College of Art também em Londres com uma bolsa da Fundação para Ciência e Tecnologia. É licenciado pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e Mestre em Sociologia da Comunicação pelo ISCTE.

Foi docente na Escola Superior de Artes Aplicadas do Instituto Politécnico de Castelo Branco, na Escola Superior de Tecnologia e Artes Gráficas do Instituto Politécnico de Tomar e no IADE - Istituto de Artes Visuais, Design e Marketing. Actualmente é docente na Faculdade de Belas-Artes, no Ar.Co - Centro de Arte e Comunicação Visual e colaborador na licenciatura de Arquitectura do ISCTE - Instituto de Ciências do Trabalho e da Empresa. Foi visiting lecturer da Gerrit Rietveld Academie de Amesterdão - Holanda, sendo actualmente visiting lecturer da Norwich School of Art & Design (East Anglia University) em Inglaterra.

Exposições individuais

1997 "Manuale Typographicum" no Ar.Co

1998 "Fragmentos de uma Tipografia Imaginária" no Instituto Politécnico de Tomar 1999 "A Vida Secreta dos Caracteres Tipográficos" no ISCTE

2001 "Das Letras que Moram nas Palavras" na Biblioteca Nacional

2001 "Viagem ao Interior do Alfabeto" na Esc. Sup. de Arte e Design das Caldas da Rainha

2002 "Depois de Gutenberg" na Sala da Nora do Cine-Teatro Avenida de Castelo Branco

2003 "A letra Instável" no Centro Científico e Cultural de Macau

2003 "Terra Beirã, Terra Tipografada" no Paço da Cultura da Guarda

2004 "Notation, Intonation and Tone" (e performance) no Royal College of Art

 
Galeria Diferença
Rua S. Filipe Neri, 42 cave
1250 - 227 Lisboa
Tel: 21.3832193
Fax: 21.3853664
e-mail: diferenca@net.sapo.pt
de Terça a Sábado das 15h00 às 20h00

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