Dia anterior ao primeiro............... tão escuro............ Ou estão cegos ainda os olhos?...............

Frias rosas de ferro duram lentas pela eternidade adentro

porque as levaste ao forno a fortificar....................... São estas mãos.............. prontas para animar a

matéria primordial................. Treme cada uma em seu silêncio............ E depois a poderosa máquina

rodopia.......................... descendo e subindo pelos escadórios do caos

sozinha.............................................. sem saber os comandos a usar

para as coisas se sonharem e do sonho se erguerem...........................

reais.............................. Vejo daqui uma giesta com uma flecha nos dentes

é soberana ideada pelas palavras

e tantas como essa............ agachadas sob a ventania............... deixam cair casulos amarelos

quando se pensa nelas..................................... Daqui à morte é uma caminhada curta

dobra-se essa esquina num clique de câmara fotográfica.................................................

E então ficam elas a dizer adeus com lenços de fina escarlata

como qualquer amiga que à fonte levou e a talha deixou cair

ao ver vê-la o namorado......................... Pegas no boneco de barro e beijas-lhe a boca

elementarmente............. sem qualquer intenção procriadora................. apenas para que a palavra

se liberte por aquela vagina......................... É um sopro.............. Um cristal

em que se guarda a vida....................... No rosto profético......... os olhos rasgam-se

agora numa laguna de ignorância.............. Abismam-se no céu de carmim...................... Estão

deitados debaixo de bandos de flamingos que migram para azul..........................

Sábios os animais que migram..........as tartarugas marinhas......... então................

Como se orientam as palavras................ como sabem para onde ir e a que praia regressar

fechando o sentido do que nem se adivinha

na carta celeste em que ainda não nasceram os astros?

Não sabem................ Orientam-se sem saber como nem porquê......... essa é a sintaxe da sua

sabedoria............................ E nós também não............... embora escrevamos que sim

em imensos tratados que falam de dias para além do sétimo

sem termos saído ainda do primeiro................... Afora isso............ para que precisariam elas

de sair num sopro

as palavras............... se para sempre ficarão de respiração cortada.................

ardendo em beleza para cima....................

esplêndidas de procurarem o alto por em baixo não se acharem?

Ir para aqui ou para acolá........... quer dizer isto ou aquilo............. tanto faz............ se a mira

falha o sentido.......................... Nesta altura

a página geme sangue como qualquer ferida......... e o rato deixa atrás dele

um depósito de cristais salgados................ Quanto às abelhas............ as nascidas

no Reyno de Ys........... sibilam à volta do pensamento como um favo.................

Retornam ao dia anterior ao primeiro, esse em que nem caos havia.............. A ver como é

como germinavam as rosas...................................

Antes do primeiro dia havia um grande ímpeto de acção

desnorteado....................... À medida em que a acção ia desenhando

as formas que as coisas haviam de tomar

a bebedeira ia-se agarrando às suas fraldas..................................

Porque as palavras alucinam............ são assim................. um leite de estrelas................................

Deus ou Isso................ seja lá o que for target da questa............... falta como alimento

do espírito..............................

Só por dizê-lo

eis que se move sob as águas.................... É um faisão ciberal................. eléctrico............ um

espinho de ponta seca.......... o espírito........................

Deixa uma biblioteca de pixéis atrás, afogados em tintas visionárias..................

Escrevem textos claros como só as sibilas sabem ao contrário

quando observam folhas de chá, as entranhas dos pássaros............... ou o fumo interpretam

nos seus oitos de um cigarro fumado antes do outro............... E tudo isto tem a beleza

de uma cigana que na orelha tilinta

abalada por um raio................................. Entre a rosa e o perfume roda o tempo

redondo................................. seja em oito

ou em sete dias de desenvolvimento embrionário

antes que do ovo entre ervas aromáticas consumido

vejamos eclodir o monstro......................................... Porém há sempre o recomeçar

e entre nada e tudo a vida é esse pássaro

das cinzas volvido numa brasa............................ Eleva-se nos ares a estrela corredia

o pulso acelerado

pelo bafo da maresia........................ ascende....................movida por motor a jacto.....................

seja isso ou energia nuclear

a luz cavalga a treva como fêmea magnífica...................

É uma flama

uma bailarina de poeira vermelha no ventre e sob as asas...................................

Dão-lhe por isso o nome de flamenco...........................




Deus nessa poeira com água molda a pasta.................. morena com formas

de gente................ enquanto no céu branco um astro observa

As mãos tremulam abertas sobre os joelhos

sem saberem o que fazem.................... apenas impelidas como lamparinas....................

Suspiram por elevar uma árvore................ o voo.............. um poema ou paraíso

nesse lugar que habitam vasto.....................................

Esta história é muito antiga................

se a imaginação a beija nos dedos................... vê as paredes do amanhã...................

São de lua as suas portas, coa-se por elas uma canção molhada.............................

Onde melhor

correm as nuvens? Nas cavernas do oceano ou nas montanhas geladas?

Tudo tem um rascunho ou os nimbos desabariam nos terraços da gravidade.........................

Porque ter uma ave pousada na língua................... ou um girassol atraído por Mercúrio.......................

abalaria as formas que se equilibram no arame

como tigre que o salto mal calculasse

despenhando a frágil carcaça a meio do espectáculo .................... Há assim um pensamento

antes de agir.............. A rosa calculou e usou régua e compasso................. traçou esquemas

como qualquer pássaro

que as asas abre e a cauda sumptuosa

quando com tanta jóia emplumada a companheira atrai.............. Os animais sonham tanto

como eu..................... É preciso dispor de uma fogueira interior

tanto faz que o calor desenhe curvas como rectas

preciso é que lance chamas.................................. Depois............ logo se verão os suaves

acidentes da pasta argilosa

ordenarem-se num perfil de anca...................... As noites tão estreitas para quem sonha

não é verdade? É para não deixarem fugir o vento por entre as mãos

que arquitectam casas................ muros...................... cidades..........................

paisagens ordenhadas como vacas

ali demorando sem pensarem em como são domésticas e turinas e malhadas............................

E os dias............. os dias sonâmbulos.............. andam pelos telhados de mãos à frente estendidas

sem saberem que as estendem para evitar obstáculos...................................

E os obstáculos..................... Oh................... os obstáculos têm a bondade às vezes

de se desviar dos sonâmbulos

assim como os borrachos são protegidos das ninfas

que sob eles enlaçam penas e ramos finos

para que possam docemente aterrar num ninho....................................

Toda a linguagem e seu sincero discurso a afastar-se e a aproximar-se do núcleo

que toda a promessa em si contém

foi antes dos sete dias profundamente sonhada........................ Arde até ao carbono puro

cinza de diamante............................ É agora flamingo

Phoenicopterus ruber roseus

em baptismo de nome cego............... com tanta luz embora

que as estrelas nascem numa toalha..........................