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Maria Estela Guedes
Eu dou-vos o teste, malandros!

Hoje fiquei logo chateada de manhã, quando, ao sair para o meu habitual cafezinho, vi a lixeirada no nosso tanque de rega, à beira da quelha. Quelhas, aqui pelo norte de Portugal, são geralmente caminhos ladeados por muros de pedra solta, vestígios de vias romanas, se não mais antigos ainda, pois já os castros lusitanos eram rodeados por esse tipo de protecção. Que a terra não parece ter grande vínculo a lusitanos, antes a povos germânicos, entre os quais os godos, de cuja língua deriva o topónimo Britiande.

Olhem para a fotografia e digam-me se o espectáculo lhes parece condizer com a nobreza das pedras antigas e da memória que as impregna! Não só de godos e romanos, mas também dos árabes que por aqui viveram, e depois dos cristãos fundadores das nacionalidades da Península Ibérica. No nosso caso, o "miano" Dom Egas Moniz de Ribadouro, como escreve A. de Almeida Fernandes, na obra que dedicou ao aio de D. Afonso Henriques.

Que diria o nosso primeiro rei, se visse hoje a terra em que viveu na sua mocidade? O tanque com os pedregulhos a esquiarem no meio de pedaços de esferovite e de laranjas? Que diria o infeliz D. Sancho II? Sim, também este rei viveu em Britiande.

Pelas bulas Inter alia desiderabilia e Grandi non emmerito, o Papa Inocêncio IV excomungou e depôs Sancho II, considerando-o «rex innutilis». Por isso foi forçado a abdicar, vindo para as terras de D. Egas Moniz curtir as mágoas.

Vou ficar de olho nos malandros que assim atentam contra a paisagem, contra a História, contra o ambiente e contra a propriedade alheia. E ai deles, se descobrir quem são!

Começaram por atirar pedrinhas, a seguir vieram pedregulhos de mais de vinte quilos, de certeza. Todos os anos a mesma história... Eu dou-vos o teste! Se apanho algum patife a atirar lixo para o tanque, obrigo-o a limpar! Vão testar a espessura do gelo para a Patagónia, onde têm a companhia da parentela zurrante, seus pinguins!

 
Britiande, 29.12.2006