RINALDO DE FERNANDES - CHICO BUARQUE DO BRASIL
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Este livro presta homenagem a Chico Buarque de Hollanda nos seus 60 anos. Ensaístas, jornalistas, ficcionistas e poetas e estudiosos interpretam as canções, o teatro e a ficção deste artista, um dos mais representativos da cultura brasileira contemporânea.

Na seção inicial, os depoimentos de Augusto Boal, Aquiles (MPB-4), Chico César, Frei Betto, Gerald Thomas, Marcelo Brum-Lemos e Silvio Rodríguez revelam o apreço que estes músicos e compositores, como todos os sensíveis e comprometidos com a dignidade da vida, têm pelo autor de "Apesar de você".

Na segunda seção estão os jornalistas e escritores. Carlos Ribeiro avalia a diferença entre o ficcionista e o compositor Chico Buarque. Chico Alencar bate bola com os versos do compositor, em texto agradável e lúdico. José Castello, enfocando a questão do duplo e/ou do jogo de imagens, volta-se para o "estupendo romance" Benjamim . Leonardo Boff, consistente e comovente, interpreta "Gente humilde" e "Deus lhe pague" à luz do humanismo cristão. Maria Alzira Brum Lemos celebra as canções com que o autor de "Vai passar" soube nos traduzir; Moacyr Scliar defende que Chico fica em "primeiro plano" na geração 60. Nelson de Oliveira, em mais um de seus "anseios crípticos", traz sua apreciação do Estorvo . Regina Zappa (autora de Chico Buarque : para todos, (biografia autorizada do compositor-escritor), soletra, em crônica, algumas das "vertigens" que atacam o artista. Rogério Pereira, atento aos personagens, ao "movimento contínuo" entre "os tempos e as buscas" deles, trilha os três romances de Chico. Suênio Campos de Lucena aplaude o criador atípico, que acerta ("com folga") em praticamente tudo o que faz.

Na terceira seção, os poetas José Nêumanne Pinto, Ricardo Soares, Sérgio de Castro Pinto e Thereza Christina Motta revisitam "A Banda".

Na quarta seção, a mais ampla do livro, ensaios produzidos por estudiosos traduzem a obra poética de Chico Buarque. Adélia Bezerra de Meneses (autora de dois dos principais estudos sobre a poesia de Chico - Desenho mágico: poesia e política em Chico Buarque e Figuras do feminino na canção de Chico Buarque) faz uma reflexão rica acerca do tempo e de alguns aspectos do ritmo poético tendo como base a canção "Tempo e artista". Amador Ribeiro Neto esmiúça o CD As cidades . Anazildo Vasconcelos da Silva - com a autoridade de quem foi um dos primeiros acadêmicos a se deter na obra de Chico - define o conteúdo da canção de protesto e a forma do protesto na canção de Chico. Antonio Carlos Secchin verte e inverte o texto de "As vitrines". Arturo Gouveia lê a astúcia na ação e a argúcia na elaboração da Ópera do malandro . Cecilia Almeida Salles adentra o ambiente "duvidoso" ou "incerto" do Estorvo, esse verdadeiro "romance hipotético". Charles A. Perrone, M. Elizabeth Ginway e Ataíde Tartari, em texto conjunto, passeiam por certas canções e brindam nos bosques da ficção e do teatro buarqueanos. Diógenes André Vieira Maciel esquadrinha Roda viva, Calabar, Gota d'água e Ópera do malandro . Gustavo Conde, entre sério e sorridente, situa bem o humor na canção de Chico; João Batista de Brito examina as relações de Chico com o cinema. Júlio Cesar Valladão Diniz, analista da indústria fonográfica, interessa-se sobretudo pelo dono da voz ou pela "voz que virou mercadoria". Luciana Eleonora de Freitas Calado investiga as inversões semânticas, a carnavalização nas composições de Chico. Luís Augusto Fischer discute primeiro as representações de Iracema na cultura brasileira (Alencar, Adoniran Barbosa), para em seguida situar o drama da migração em "Iracema voou".

Luiz Antonio Mousinho Magalhães comenta as crônicas de Clarice Lispector que se referem a Chico e que saíram, entre 1967 e 1973, no Jornal do Brasil.

Luiz Tatit aborda "Pedaço de mim". Mário Chamie enfatiza a presença em "Construção" de certas proposições da sua Poesia Práxis.

Nelson Barros da Costa, entre outras coisas, busca o conceito de MPB e tenta estabelecer o posicionamento ou a vertente estético-ideológica do cancionista Chico. Pedro Meira Monteiro, convergente, vê passagens do historiador Sérgio Buarque ressoando no ficcionista Chico Buarque. Regina Zilberman avalia a alegoria e indica a atualidade da novela Fazenda modelo. Sônia L. Ramalho de Farias desata e ata a narrativa de Budapeste. Rinaldo de Fernandes, organizador do volume, comparece com o ensaio "Mulheres de Atenas", em que aborda a condição da mulher e/ou da esposa na Grécia antiga, vendo a canção de Chico/Boal como uma metáfora da submissão feminina, não só no mundo grego, mas no próprio Ocidente.

Dois textos foram transcritos de livros anteriores - "Chico Buarque: a música contra o silêncio", de Affonso Romano de Sant'Anna, que se encontra em Música popular e moderna poesia brasileira ; e "Chico Buarque - 'O que não tem censura nem nunca terá'", de Tárik de Souza, que consta de O som nosso de cada dia.

Rinaldo de Fernandes

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SOBRE O ORGANIZADOR

Rinaldo de Fernandes é escritor e professor de Teoria da Literatura da Universidade Federal da Paraíba. É Doutor em Letras pela Unicamp. Organizou a coletânea O Clarim e a oração : cem anos de Os Sertões, pela Editora Geração. Fez os textos introdutórios e as notas bibliográficas de Os cem melhores poetas brasileirs do século (org. José Nêuumanne (Editora Geração). Colaborou, entre outros, com o Jornal da Tarde, de São Paulo, O Povo, Diáro do Nordeste (de Fortaleza), O Norte, Correio da Paraíba e A União, de João Pessoa. Como contista, publicou o O caçador (1997). É colaborador das revistas www.triplov.org e www.trilhasliterarias.com.br
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