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Natércia Freire
Areia
 

Areia pisada,

areia dorida,

areia beijada,

areia batida,

areia doirada,

areia estendida,

areia rolada,

rolada na vida.

 

Frescura abraçada

ao mar que se vai,

e os braços crispados

pregados num ai.

E a areia rolada

nos olhos profundos,

e as matas de sombra

ao fundo dos mundos…

 

E o paço de pedra

Erguido no espaço

e as capelas tristes

que perco e abraço…

 

E o sonho do vento,

que gela e que deixa,

e a voz que ergo e calo

e é vida e é queixa…

 

Os degraus que subo

e são mais que cem,

e os cisnes vogando

nos lagos de além…

 

E as estradas brandas

onde correm fontes,

e as moças que sonham

sem verem os montes…

 

E os bancos abertos

aos corpos cansados,

e a chuva da tarde

nos parques molhados…

 

E os riscos de luz

que bordam o Céu,

e a cortina branca

que ao Sol me escondeu…

 

E os quartos alheios

que giram à roda,

e as vozes na estrada

que me tolhem toda…

 

E eu dentro de um sonho

suspensa e vibrante

- areia beijada num mar mais distante –

e rica e mais longa,

e presa e mais livre

- sem mal e sem vida…

 

Areia doirada,

areia estendida,

areia rolada,

rolada na vida!

 

De "Horizonte Fechado" (1942)