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PARABÉNS, CHICO, OU:
EU TE AMO!
Mário Montaut
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Chico Buarque de Hollanda é um Gênio. Difícil definir o Gênio. Hoje em dia qualquer um se arvora em. Bobear até eu, dada a indigência do panorama "artístico" mundial. Mas Chico é Gênio.Tão Gênio, que ao ouvir o termo, o que me vem à cabeça, corpo e alma, como Gênio? Como Gênio Brasileiro? Chico, claro. Aliás, Pelé e Garrincha também. Pixinguinha certamente, como Noel, e Tom, e Nelson Rodrigues, e Millôr Fernandes, claro. Poucos Gênios. Com G Maiúsculo. Apaixonadamente não defino o Grande Gênio. Não saberia fazê-lo, como jamais conseguiria definir A Mulher, A Mulher Tesudíssima, aquela que ao simples concebê-la, nas mais arquetípicas formas, nos mais platônicos eflúvios, tremores de gozo irrepresáveis, jorram pelo meu ser. E ao vê-la, então! E ao amá-la, aí faltam palavras, notas musicais, faltam fés-de-reza. E quando muito, quando muito, à Uma Grande Mulher se faz uma canção.

Jamais poesia épica funciona nas dimensões dessa Grandeza. A Mulher De Fato, A Fêmea Real só torna possível o amor porque nos faz aceitar alegremente nossa condição de homem, por maior e viril seja, sempre, sempre pequeno, diminuto e feliz aos pés, à boca, melhor, às bocas, às mil gulosas bocas de Uma Mulher. E quem cantou melhor a Mulher? Chico, Chico. O que lhes vêm à cabeça quando vocês são tocados pelo epíteto "Gênio"? A mim, vem Chico Buarque. Chico Das Grandes Melodias, Chico Aristocrático Boleiro de olhos ardósias, Chico, o Bardo, Chico, o apaixonado pelas mulheres, Chico, o grande escritor de Estorvo e Budapeste. E seria bom, que ao menos a nossa elite intelectual fosse patriota, o que, como bem viu Fernando Pessoa, é algo raro de acontecer. Porque se fossem patriotas, pelo Brasil, concordariam na óbvia realidade de ser Chico Buarque da estirpe de Guimarães Rosa, João Cabral, Jorge De Lima, Euclides Da Cunha, Villa-Lobos, Drummond; a nossa intelectuália se renderia à obviedade de não ser fácil aferir, em termos intelectuais, a Genialidade Absoluta de um Chico Buarque.

Se já não é simples tarefa entender o que é um Gênio de bola no pé, ou pandeiro na mão; se é quase impossível entender o Gênio Negro, que a África desde sempre tem doado ao mundo branco, para que os Bach e Shakespeare da vida não fiquem estagnados em brancas companhias, então, já dá para imaginar o que seria entender a heteronímia real de um Chico Buarque, que foi, diga-se de passagem, além de Fernando Pessoa, em alguns sítios, uma vez que no seu caso a heteronímia é coisa de verso e música; de melodias femininas fatais a esculhambarem todo critério positivista. Sim, e o Chico escritor, e o Chico crítico silente, a exercer a crítica excelsa por Pound apregoada: " A melhor crítica vem do homem que faz o próximo trabalho". Chico " Vitorioso" Buarque: na música, poesia, literatura, entre Mulheres, boleiros, e prova absoluta de Gênio: Chico Rico, Ziliardário. Se bem que dinheiro, por enorme seja o montante das moedas, jamais faria jusbrilhos ao Gênio Absoluto do Brasil, ouso dizer o Gênio número 1, que merece as comemorações em espaços culturais, eventos mil, inclusive as capas de Contigo, Caras e afins, que ele execra, mas que também lhe rendem homenagens. E Chico detesta homenagens despudoradas. Odeia o showbizz. Mas Chico, querido, entenda, isto aqui não é despudor exegético, não é louvação, não é apologia. Isto Chico, que lhe escrevo, é diferente. Acredite. E Parabéns Chico, ou melhor: Eu Te Amo! (Mário Montaut)