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O CABO SUBMARINO

Ricardo M. Madruga da Costa

Carlos M. Ramos da Silveira
O
Cabo Submarino e outras crónicas faialenses
2002, Horta, Núcleo Cultural.

 

Carlos Ramos da Silveira é um publicista persistente e empenhado a quem a historiografia açoriana já é devedora de apreciável contributo. Aliando os seus méritos de infatigável coleccionador de peças de iconografia associada aos temas que cultiva, ao labor profícuo de uma investigação rigorosa, Carlos Silveira tem trazido a público trabalhos de valia para o conhecimento da contemporaneidade do arquipélago dos Açores, com destaque particular para a ilha do Faial. Quem conheça as obras que publicou anteriormente – todas elas abordando temáticas ligadas ao papel relevante que as ilhas dos Açores ocuparam no desenvolvimento das ligações aéreas transatlânticas, em que se destaca o papel pioneiro da Pan American na realização dos primeiros voos comerciais ligando a América à Europa, com escala pelo porto da Horta – não estranhará o livro que o autor agora fez publicar. Com efeito, este livro surge quase como uma exigência. É como que o fechar de um ciclo temático em que o Faial, em virtude da sua localização e das condições do seu porto, granjeou uma projecção à escala mundial. Afinal, o livro trata, como afirma Reis Leite na nota de apresentação, do nosso importante contributo para o fenómeno da globalização. Como na era de Quinhentos, em que o arquipélago se revelou instrumental para o sucesso das rotas das Índias e Américas, o trabalho de Carlos Ramos remete-nos agora para o historial dos factos e realizações que, uma vez mais, reclamaram a intervenção prestimosa do arquipélago como plataforma incontornável para viabilização dos avanços das tecnologias desenvolvidas de modo mais determinado a partir da transição do século XIX para o século XX.

Após um prólogo em que o autor sublinha as características de excelência do porto faialense, evocando em breve esboço o significado e impacto das realizações que decorreram da sua posição privilegiada como nó das telecomunicações transatlânticas, uma primeira parte elucida o leitor quanto às formas mais rudimentares de comunicações que no Faial se praticaram. O segundo capítulo incide sobre as realizações mais específicas no domínio da telegrafia eléctrica, ofere­cendo esclarecedora análise quanto às condicionantes de ordem política subjacentes às decisões que desenharam a rede transatlântica em que a Horta, a partir de 1893, se integrou. O capítulo termina com a identificação das iniciativas pioneiras no domínio do lançamento dos cabos submarinos ao serviço das telecomunicações, avultando o domínio da Inglaterra.

Um terceiro capítulo remete o leitor para as questões envolvendo a coexistência da telegrafia sem fios com o cabo na ilha do Faial, com particular referência à estação dos Cedros.

Num quarto capítulo e de forma mais circunstanciada no que toca ao tema central do trabalho, como o título sugere, o autor oferece-nos um detalhado roteiro da “Horta dos Cabos Submarinos”, individualizando o historial de cada uma das empresas de telecomunicações que se fixaram na Horta e que deram particular visibilidade à ilha do Faial no período que decorre de 1893 a 1969.

Por fim, nos capítulos derradeiros do livro, já numa perspectiva evocativa de factos e personagens que caracterizaram um quotidiano marcado pela inovação e por uma vitalidade que a presença de colónias estrangeiras dinamizou, Carlos Ramos da Silveira, traz à memória de muitos dos seus leitores cuja recordação dos “cabos” ainda permanece viva e transmite às novas gerações que das “companhias” apenas tem como referência a presença respeitável dos imóveis que as alojaram, episódios de uma Horta que os ditames da geografia e as circunstâncias situaram na vanguarda do seu tempo nestes três quartos de século de percurso.

Um apêndice documental e uma sugestiva bibliografia encerram o trabalho.

Obra que pela sua índole e estrutura revela claros propósitos de divulgação orientada para um público alargado, nem por isso deixa de observar critérios de rigor e um trabalho de pesquisa a requerer aturado esforço. Com apresentação gráfica agradável e cuidada e num formato adequado à valorização de extenso material fotográfico de grande valor e raridade, é visível que Carlos Ramos da Silveira não se poupou a trabalhos para levar a bom termo esta obra de grande interesse e utilidade.

 

Ricardo Manuel Madruga da Costa - rmmc2@nect.pt