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MARIA AZENHA
O PROCESSO CRIATIVO EM DOIS TEMPOS
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1. FALAR DE PSICOLOGIA ESPIRITUAL

Ainda no nosso tempo podemos dizer que psicologia e espiritualidade ou Ciência e espiritualidade são tomadas como assuntos antimónicos. Podemos pensar que YUNG deu um contributo notável na sua época para a retomada de um interesse pela espiritualidade. Assim, falarmos de PSICOLOGIA ESPIRITUAL é ter em conta de um modo global a dimensão espiritual do Homem no quadro da ciência psicológica. Quer dizer: ao mesmo tempo que nos interessamos pela primeira infância, plano psico-afectivo e até mesmo pela esfera profissional de um indivíduo,também nos damos conta da sua esfera espiritual,com as qualidades psíquicas inerentes, como por exemplo a INTUIÇÃO, e toda a simbologia que expressa através dos Sonhos, do corpo físico(simbologia corporal),do corpo psíquico(psico-energético), certos acontecimentos interiores e certas doenças com significado. Falar de PSICOLOGIA ESPIRITUAL é também não esquecer os elementos-sombra em nós (os elementos negativos do nosso Eu,os elementos que representam um problema)que devem ser reconhecidos e canalizados para depois serem transmutados (por exemplo: a AGRESSIVIDADE e/ou a PASSIVIDADE devem ser reconhecidos conscientemente para serem transmutados e equilibrados). Falar de PSICOLOGIA ESPIRITUAL é também integrar os fenómenos que fogem ao normal e que levantam questões, como por exemplo experiências de PES, visões místicas, memórias de vidas anteriores, etc.   Em suma: Tudo isto faz parte da Alquimia Interior.   Alguém disse: "O que diferencia a psicologia espiritual é a experimentação pessoal. As experiências são feitas mergulhando na própria psiquê,coisas que os Sábios praticam ou vêm praticando há milhares de anos,graças à meditação e a outras técnicas de expansão da Consciência. Isto é: "CADA SER HUMANO É O SEU PRÓPRIO LABORATÓRIO PARA EXPLORAR OS SEUS PRÓPRIOS ESTADOS INTERIORES."   Nós, Ocidentais, não temos que rejeitar a Psicologia Clássica, que desenvolveu bastante o aspecto analítico,mas de enquadrá-la numa perspectiva espiritual, que desenvolva o aspecto mais intuitivo. Ou seja:conciliemos em nós o analítico e o intuitivo.  

2. OS MÍSTICOS ASPIRAM À REALIZAÇÃO DO EU

2.1. Freud trabalhou bastantena sua Obra na estruturação do Ego,insistindo no papel da 1ªInfância. Jung, por outro lado,aprofundou as suas pesquizas na evolução do EGO rumo ao EU.   Todos nós sabemos que a partir de um EGO bem estruturado,(daí a importância da primeira infância e da adolescência),se pode dar uma evolução de boa qualidade, em direcção ao EU. Ora os místicos aspiram à realização desse EU.   •  O EU é o que há de mais elevado em nós e representa a IMAGO DEI (imagem de Deus) que todo o ser humano possui no seu Íntimo, isto é: O REINO DE DEUS DENTRO DE NÓS.   Como Adler (psiquiatra)constatou: do ponto de vista psicológico o EU pode ser considerado como a experiência de DEUS em nós( o Deus do nosso coração)-a mais alta intensidade de vida. É através da ampliação progressiva do Campo da Consciência que o nosso EGO pode tender para o EU CÓSMICO, sendo a experiência última a Reintegração da Alma no Uno.(no não dividido). É esta ampliação que os ROSACRUZES realizam aprendendo a desenvolver em si mesmos a Consciência Cósmica.  


3.TRÊS PONTOS SIMBÓLICOS DA ROSA . 

3.1. A ROSA COMO SÍMBOLO DO DESEJO ESPIRITUAL DE REALIZAÇÃO DO EU.  

A jornada interior pode ser simbolizada pelo desenvolvimento da Rosa na Cruz.

A Rosa é considerada como um dos símbolos desse processo de mudança, isto é, dessa transformação alquímica.

Mas outros símbolos do EU podem ser referidos: o diamante, a flor de lótus,a criança interior, a esfera dourada, a luz branca, etc.

São símbolos maravilhosos.

Eles não querem dizer que se seja um Realizado.

Devem ser tomados como um desejo de ir mais longe.

É uma nova volta na espiral evolutiva.

Analogamente não podemos dizer que uma experiência de Despertar,como uma visão mística,não é o despertar.

É só uma experiência,um encorajamento para a Senda.

 

3.2. A ROSA COMO SÍMBOLO DO "SABER DAR" E "SABER RECEBER"

A Rosa pode ser tomada como um símbolo de Harmonização entre o"saber dar" e o "saber receber".

Esse equilíbrio resulta do movimento entre esses dois componentes:entre o exterior(saber dar) e o interior (saber receber).  

No "saber receber" está subjacente uma energia feminina, que representa a nossa parte mais intuitiva.

Escusado será dizer que tanto para o Homem como para a Mulher as duas energias masculina e feminina fazem parte do nosso psíquico.  

No "saber dar" está subjacente a energia masculina, e representa a nossa capacidade de acção no mundo físico.

É esta energia que permite o agir: tem uma função emissiva.  

Dum modo simples podemos dizer que o Processo Criativo se traduz assim:

O aspecto feminino recebe a energia Criadora Universal.  

O aspecto masculino exprime-a no mundo, pela acção.  

Reparemos na correspondência simbólica da Rosa com este duplo movimento: "Saber dar" e "saber receber".

A Rosa possui um núcleo central de onde emanam pétalas(movimento de irradiação),ao mesmo tempo que se reunem em torno deste ponto central(movimento de recepção).  

Por um lado as energias vindas do exterior, que passam pelas diferentes pétalas e que são reunidas no centro da Rosa, representam o "saber receber", do exterior para o interior- fenómeno da Interiorização.  

Por outro lado as energias que partem do interior, do centro da Rosa,e se difundem através das pétalas, irradiando-se para o exterior, representam o nosso "saber dar", do interior para o exterior- fenómeno da Exteriorização.  

Tudo isto é válido para qualquer grupo.

Tudo isto representa ao mesmo tempo a concentração interior e a união com o mundo exterior.

Mas. aprofundemos mais estes conceitos do"saber receber" e do "saber dar".

   

3.2.1. O" SABER RECEBER"  

Nem toda a gente sabe estar em receptividade.

Geralmente "reagimos" como doentes de "receber" e muitas são as situações em que temos receio de receber.

Receber presentes,p alavras agradáveis ,elogios ,sinais de amor, são coisas que geralmente as pessoas não conseguem aceitar, tal a visão severa que temos de nós.

Mas receber é também receber as opiniões diferentes, as proposições novas e até perturbadoras.

A maioria das pessoas funciona numa atitude defensiva.

Poucos estão abertos às diferenças, o que explica em parte os problemas da nossa Sociedade ,que se caracteriza por uma enorme intolerância.  

A falta de Tolerância é um medo ancestral: UM BLOQUEIO DA ENERGIA DO RECEBER.

 

3.2.2 O "SABER DAR"  

Mas também podemos estar doentes do "saber dar".

Assim como a Rosa pode receber a luz e o calor do Sol sem reservas, do mesmo modo esta Rosa pode dar o seu perfume, a sua irradiação, desinteressadamente , e sem ficar privada do que quer que seja.

Há prazer no "saber dar", mas esse prazer não é calculado, nem tão pouco corresponde a uma estratégia.

O "saber dar" revela uma Forma de Amor.  

O "dever" nada tem a ver com o Amor.

Prazer de dar, como ter prazer em receber e vice-versa.

E isto pode ser feito naturalmente.

Isto é:com flexibilidade.

O " saber dar" e o "saber receber" devem ser dois movimentos flexíveis.  

Mas este "saber dar" e "saber receber" , o florir da rosa ,insere-se na Cruz.

A Cruz é qualquer parte da nossa Vida quotidiana, isto é, o conjunto das experiências a serem vividas.

E essas experiências a serem vividas podem ser vividas individualmente, em grupo, numa Nação, em todo o planeta, onde quer que seja.  

O braço vertical simboliza a espiritualidade.

O braço horizontal simboliza a materialidade.

O ponto de encontro onde floresce a Rosa,o desabrochar do Ser:a Realização do Eu divino.  

Assim: quando individualmente ou colectivamente vivemos experiências de relação humana, estamos a viver o braço horizontal da Cruz.

Quando individualmente vivemos experiências de espiritualidade, estamos a viver o braço vertical da Cruz.

E só na medida em que somos capazes de equilibrar estas experiências é que também somos capazes de descobrir o centro da Cruz, vivenciar a Rosa na Cruz.

   

3.3. A ROSA COMO SÍMBOLO DA ABERTURA DO CORAÇÃO  

A Rosa que está no centro da Cruz é o ponto de confluência de energias espirituais e materiais.

A Rosa é afinal o ponto correspondente ao Coração Cristico.

É no duplo movimento do "saber dar" e do "saber receber" que se vai processar o Caminho Iniciático, até levar o buscador à "Abertura do Coração".  

A imagem da Rosa, símbolo da abertura do coração,indica ao Buscador quão importante é para o homem saber amar, a todos os níveis, sendo o Amor Cósmico o mais elevado.

Saber Amar abre muitas portas.  

O centro cardíaco é um dos 7 centros psíquicos maiores.

As qualidades psíquicas correspondentes aos centros psíquicos deverão despertar progressivamente, o que quer dizer que esse despertar se deve fazer de forma harmoniosa, na exacta medida em que se realiza a evolução espiritual.

Este desenvolvimento harmonioso deverá ser tal que a energia possa fluir normalmente de baixo para cima e de cima para baixo.  

O centro cardíaco ocupa um lugar interessante no plano dos 7 centros psíquicos.De cima para baixo ele é o 4º centro; de baixo para cima é também o 4º centro.

A sua localização a meio, confere-lhe um papel especial,pois a ABERTURA DO CORAÇÃO favorece o desenvolvimento dos outros 3 centros superiores e tem ao mesmo tempo uma acção aquietadora e harmonizadora sobre os 3 centros inferiores.

São estes 3 centros inferiores que estão exacerbados na nossa Sociedade de hiperconsumismo e de hiperaglomeração emocional. 

A ABERTURA DO CORAÇÃO DESENVOLVE O DESEJO ESPIRITUAL DE SE TER UMA RELAÇÃO MAIS ÍNTIMA COM A ALMA.  

Assim permite ao Homem que ele compreenda melhor a natureza do Amor.  

Quanto mais adentramos na Luz Cósmica mais somos iluminados no interior do nosso Ser, e mais desejamos ajudar os outros e compartilhar com eles essas bases de compreensão, de conhecimento e de revelação mística,que integramos em nós.

Quanto mais essa Comunhão Cósmica se dá, mais podemos amar (sem esforço) naturalmente os outros.  

A Abertura do Coração, a Rosa que aos poucos se vai abrindo, ensina-nos a Bondade Interior.

Este desenvolvimento pelo facto de estar carregado de Amor, vai muito além do desenvolvimento intelectual.

maria azenha

2003, março, lisboa  

P.S. Imagem de uma pintura de Margarida Cepeda