Direcção de Miguel de Carvalho

O SuRrealismo
no triploV O SuRrealismo
no triplo V

no triplo V O SuRrealismo
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no triplo V O SuRrealismo no triplo V O SuRrealismo no triplo V O SuRrealismo no triplo V

 

Senhor violoncelista, vai um peixe frito?

- a quem o surrealismo interessar – 

“ ... é aqui é que é imposível ser-se determinada coisa sem se saber o que essa coisa é ...”
(Mário Cesariny, Pirâmide nº 1, 1953)

Já umas semanas se passaram desde que lemos num periódico beirão concorrente do Washington Post uma notícia que, pelo sensacionalismo do título (que só lhe faltava ligar à corrente eléctrica para acender todos os neons implícitos a cada letra, o que é anti-ecológico – aplausos), nos motivou o presente escrito – não tomamos a atitude camiliana de responder a quente. O seu título que tanto nos diverte (ponhamos os óculos escuros por favor, aí vai) – PINTURA SURREALISTA NA PRAIA DE MIRA – . Como diria o saudoso Luiz Pacheco – PORRA, lá aconteceu um naufrágio na praia (neste caso aqui ao lado, em Mira) e parece que houve um fotógrafo/jornalista da mesma panela, claro. No referido periódico e ao timoneiro deste naufrágio, não lhe assentaria melhor retrato que aquele em que abraça um violoncelo. Para nos dar música está ele operacional. E como gostamos de comparecer perante matéria assanhada em bons costumes, não querendo ser seus insólitos guardiões (é que no Vaticano já existe um), cumpre-nos assinalar os exemplos de criação-destruição como consequência da excitação criada pelos veraneantes dos ismos. Como uma desgraça não vem só, não poderia faltar à genial ideia de tão subtil título, um sub-título de composição “tão imaculada” como este: SURREALISMO – REALISMO E DELÍRIO DE TRÊS EGOS, para não referir o conteudo da notícia, pois daria matéria para mangas. Face a isto dizemos em coro: nada disto diz respeito ao surrealismo, nem na Praia de Mira, nem em Portugal, nem na Terra, nem em qualquer sistema solar. O violoncelista que consulte um dicionário dum confrade das letras e já agora leia André Breton. A sua ignorância relativa ao surrealismo a ele diz respeito, mas o público em geral não tem o dever de levar com ela em cima. No entanto, damos um rápido esclarecimento aos leitores menos esclarecidos nestes assuntos de poesia, amor e liberdade.  

1) Ao contrario do que julga o senhor violoncelista, o surrealismo não é fruto duma seriação histórica em torno de um ismo, muito menos uma corrente (nem sabemos se a corrente a que se refere o violoncelista, é corrente de ar, de aço, de plástico, marítimo-fluvial, ...). Já agora, adiantamos que os ismos são imiscíveis mesmo quando egos em delírio cozinham pudim inglez. Aconselhamos vivamente a actualização da sua “biblioteca de culinária” (se é que tem alguma) e pode começar por A Intervenção Surrealista e pelo Textos de Afirmação e de Combate do Movimento Surrealista Mundial ambos da genial criação do Mário.  

2) O surrealismo não é um lugar virtual cumulativo de fotografias onde se apertam as mãos com Ar de Nó ou a ciclomotor avícula. Não é, igualmente, tornar-se assíduo aos chás dos Senhores Doutores – nós não tratamos de inseminações artificiais. E ser-se surrealista, não se decide ser. Nem existem pintores surrealistas, nem nunca existiram nem nunca os haverão. Existem apenas e nada mais que os surrealistas. Cada surrealista desenvolve a sua própria forma de expressão e a disciplina que as liga constitui o automatismo psíquico puro desprovido de sentido estético ou moral, qualquer que seja o processo de expressão. Nada mais. A sua auto-promoção utilizando a chancela “sou surrealista” não é mais que, ao nosso cauto e selvagem olhar, um apanhar da carruagem. O seu surrealismo, felizmente para nós, não passa de Arte Fantástica e como tal uma estética. O Surrealismo não constitui uma estética, um estilo, constitui sim uma forma de pensar e de estar na vida, uma ideologia. Ora aí está senhor violoncelista; não se leu com certeza, com certeza não percebeu Breton. 

Como não vamos à bola, nem ao domingo nem às quartas-feiras nem nunca, mas comemos tremoços e isto nos diverte, por favor mande mais, pois estamos atentos. Disseram 

Cabo Mondego Section of the Portuguese Surrealism

Grupo Surrealista de São Paulo

Março-Abril de 2009

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