SÃO TOMÉ EM 1903 / FAUNA MARINHA
JÚLIO HENRIQUES
19-07-2003 www.triplov.com

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Fig. 5 - Ilheo das cabras visto de Fernão Dias / Fig. 7 - Praia do Cidadão

FAUNA MARINHA

A fauna marítima é mais numerosa e variada. É isso próprio do meio, no qual há mais facilidade de transporte e no qual os animais podem quási em todas as regiões encontrar as condições de calor e luz que lhes convenham. É de certo por isso que nos mares de S. Tomé se encontram espécies próprias da América, espécies que se encontram a altas latitudes e até nos mares orientais.

A fauna marítima conta 1 cetáceo, 110 espécies de peixes, 147 espécies de molúscos, 63 espécies de crustáceos, 7 espécies de anelados, 19 equinodermes e 10 celenterados. Dêstes últimos explorações cuidadosas darão com certeza o conhecimento de muitas outras espécies. O Sr. Gravier observou no fundo do mar entre a costa e o ilheu das Cabras indícios certos de seres dêste grupo zoológico, não tentando fazer colheita deles por falta de instrumentos próprios.

O que se diz a respeito dêstes pode dizer-se dos outros grupos pois de todos de certo haverá maior número de espécies do que as actualmente conhecidos.

O cetáceo, que frequenta os mares de S. Tomé, é o Catodon macrocephalus. A cada passo se observava o grande jacto de água, que êles expeliam, bem como não era raro vê-los saltar fora da água.

Ao atravessar o canal das Rolas um dêstes animais deu um grande salto, não longe do barco em que eu ia. Tive ocasião de observar o que por vezes tinha lido em tratados de zoologia - o combate da baleia e, como vi, dos baleotes com o peixe serra. Da baía de Água-Izé tive ocasião de observar êsse curioso combate. O peixe introduz a serra no dorso do baleote. Êste ferido procurando livrar-se do incómodo companheiro, ora mergulhava, ora voltava à superfície da água. Ao chegar à superfície da água ainda se via o peixe serra direito, mas tombava logo. Por longo tempo vi desaparecer e de novo reaparecer estes dous inimigos, que se foram afastando, tendo-os por fim perdido de vista.

O número de espécies de peixes já indicado mostra que a fauna ictiológica marítima é rica e variada.

A maior parte dessas espécies tem larga distribuição nos mares africanos. Não são raras as que se encontram desde o Cabo da Boa Esperança até Cabo Verde. Não é isso para admirar. Mais singular é o aparecimento nos mares de S. Tomé duma espécie (Scopelus Benoiti) que se encontra desde o Mediterrâneo até à Groenlândia. Não é menos singular encontrarem-se ali 8 espécies (Drepane punctatum, Periophthalmus papilio, Saurus myops, Belone choram, Balistas buniva, Monachanthus setifer, Hippocampus guttulatus, Carcharias Walbeemhii) que são dos mares orientais desde a costa oriental africana até à costa ocidental americana. Comuns à costa oriental americana e aos mares de S. Tomé são 22 espécies, facto bastante notável.

Espécies novas própriamente ditas são apenas 4 (Ophichthys guineensis, Cirrhites atlanticus, Serranus armatus, Sphyraena Bocagei) descritas pelo Sr. Baltasar Osório.

A fauna malacológica apresenta tambêm algumas singularidades.

A grande maioria das espécies que são frequentes nos mares de S. Tomé encontra-se quási em toda a costa ocidental africana. Algumas teem distribuição singular. Assim a Tenebra corrugata é das Filipinas, a Arca decussata do Pacifico e das Filipinas, a Eulima intermedia vIve desde a Noruega até ao Medlterraneo e desde as Canárias até à Florida. Comuns aos mares de S. Tomé e a costa oriental americana são 4 espécies (Dolium galea, Solarium granulatum, Natica canrena, Scalaria commutata).

O aparecimento nas vizinhanças de S. Tomé destas espécies americanas é a repetição do que já foi indicado a respeito doutros grupos de animais. É facto bastante singular.

Facto semelhante se dá com os crustáceos, dos quais de 50 espécies do grupo dos Brachiura 12 vivem tambêm na costa oriental da América do Sul. O mesmo se dá com as espécies de equinodermes, dos quais 13 são comuns tambêm nas mesmas regiões.

Dos crinoides a Antedon rosacea, que só era conhecida do Mediterrâneo, foi encontrada pelo Dr. Greeff na costa portuguesa, nas Canárias e em S. Tomé.

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NOTAS (DE JÚLIO HENRIQES)

(1) Em S. Tomé alguêm afirmou ao Sr. Moller que algumas das espécies de aves que se encontram em S. Tomé eram de introdução moderna, devido ao seguinte. Em certa ocasião o capitão dum navio, arreliado pelas constantes questões levantadas entre os marinheiros por causa dos roubos de aves que traziam de Angola, que uns aos outros faziam, chegando a S. Tomé abriu todas as gaiolas dando liberdade às aves que nelas se encontravam.

(2) O angolar e o indígena apanham muitos peixinhos com um aparelho feito de andala (fôlha de palmeira) chamado quissacli. Seca-o ao fumo em fôlhas de bananeira. Acontece apanhar num dia muitos cestos cheios, como muitas vezes vi na Fraternidade, quando regressava do Ió para S.ta Cruz dos Angolares. Em algumas roças os serviçais, por vezes em número superior a 100, teem chegado a tomar algumas refeições exclusivamente de peixinho. (Nota do Sr. Campos).

(3) Conferencia cit., pág. 9.

(4) A. Girard - Sur la Thyophorella thomensis Greeff gastropode terrestre muni d'un faux opucule à charnière. Jornal de sc. math. phys. e nat., tom. IV, n.o XIII. 1895.

(5) Observations biologiques sur les crabes terrestres de l'íle de S. Thomé par M. Ch. Gravier, Bull. du Museum et histoire naturelle. - Paris, 1906, fasc. n.o 7.