SÃO TOMÉ EM 1903 / A FAUNA/ CRUSTÁCEOS TERRESTRES
JÚLIO HENRIQUES
19-07-2003 www.triplov.com

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Fig. 15 - Cão Grande / Fig. 9 - Pico


CRUSTÁCEOS TERRESTRES

Dos crustáceos, dos quais o Dr. Greeff foi o primeiro a dar noticia, seis espécies vivem nos rios da ilha. Atya intermedia, A. scabra, Palemon Olfersii, Potamon margaritaceus, Thelphusa margaritacea, Actaea rufopunctata vivem nos rios da ilha a grandes altitudes. O Potamon margaritaceus, encontra-se no rio de Mello na altitude de 300 metros e ainda na Saudade a 700 metros. É talvez a esta espécie que se referiu um poeta desconhecido, pouco afeiçoado a S. Tomé, quando escreveu

Maldita terra
Onde se pesca camarão na serra.

Quatro espécies são perfeitamente terrestres, Gegarcinus lagostoma, Cardisoma armatuum e duas espécies de Armadillo.

O Dr. Greeff cita ainda como terrestre o Caenobita rugosus, ou antes o C. rubescens, segundo o Sr. Bouvier, que examinou 19 exemplares colhidos pelo Sr. Gravier. O Dr. Greeff encontrou êste crustáceo na roça Monte Café na altitude de 800 metros. Este Caenobita aproveita-se de conchas variadíssimas para nelas se alojar. Cita-se o caso de ter sIdo encontrado um metido num caroço de palmeira Andim.

Os dous crustáceos terrestres, Gegarcinus e Cardisoma abrem longas o profundas galerias nas quais habitam não longe do mar, invadindo as plantações, causando não pequenos prejuízos. É curioso o modo de andar e a facilidade com que se escapam, quando alguêm tenta apanhá-los. O Sr. Gravier, que teve ocasião de bem os observar dá deles a descrição seguinte (5): Os caranguejos terrestres da família dos Gegarcinidae (Cardisoma armatum, Gegarcinus lagostoma), os quais durante o periodo de evolução apresentam curioso polimorfismo, são numerosos em S. Tomé como em todas as regiões quentes dos dous hemisférios. Nos terrenos pertencentes às Obras públicas, na capital da ilha, afastam-se da costa, a muitos centos de metros, chegando aos jardins da Administração, nos quais se fazem ensaios de acIimatação de várias essências e principalmente de Eucaliptos, causando aí prejuízos comparáveis aos que nos nossos países causam as toupeiras. O número deles aumenta ao passo que diminue a distância ao mar, e nas vizinhanças dêste a terra está completamente crivada pelas galerias, que elas abrem.

É espetáculo bem particular observar de manhã sob o sol quente desta ilha equatorial êstes crustáceos nas proximidades de suas habitações subterrâneas caminhar de modo rápido e bem especial com o corpo parecendo colocado sobre umas andas formadas pelas longas pernas, que tocam na terra apenas com a extremidade do artículo terminal. Vendo-os de longe, dir-se hia que são pequenas aves saltitando sobre a terra. As côres vivas, dominando o azul, o amarelo e o vermelho faziam-me lembrar das côres brilhantes de algumas aves, que eu tinha visto na África oriental nas altas planuras do Harrar.

"Conservam-se não longe do seu buraco sempre em observação e nele entram imediatamente logo que qualquer barulho é produzido, quando, por exemplo, alguêm se aproxima deles com as maiores precauções. Desde que se refugiam no seu esconderijo em consequência de qualquer rebate, não saem de novo senão com extrema circunspecção e conservam-se, por algum tempo ao nível do orifício como para explorar o horisonte e ver se todo o perigo terá passado. Por vezes tentei surpreendê-Ios antes que êles entrassem para a sua morada, mas em vão; os rapazes indígenas, mais ágeis do que eu, tambêm não o conseguiam.

"Foi nas proximidades da deliciosa baía da Ribeira Peixe, na costa Este da ilha que eu colhi os exemplares que estudou o Sr. E. L. Bouvier. Sob os coqueiros que se encontram nesta baía tão pitoresca os Cenobitas (Caenobita rubescens) vivem em grande número em companhia dos Gegarcinos. Estes penetram mesmo nas plantações de cacoeiros que cobrem os terrenos próximos, que se elevam bruscamente muito perto da costa e aí abrem galerias cujo diâmetro é de 10 centímetros e mesmo mais até à profundidade de um metro ou mais. Estas galerias não teem orientação determinada e por vezes ligam-se entre si... Se de dia é inutil pensar em querer apanhar alguns dêstes animais fora da sua habitação, na qual rápidamente se recolhem, de noute é isso fácil colocando sobre a terra uma lanterna. Vê-se então os carangueijos aproximarem-se da luz com curiosidade, e fácilmente podem ser apanhados".