DE PROFUNDIS / APRESENTAÇÃO
C. WYVILLE THOMSON - "THE DEPTHS OF THE SEA" (1873)
15-09-2003 www.triplov.com

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LUIZ SALDANHA, prematuramente desaparecido, teve oportunidade de experimentar as grandes aventuras dos pioneiros da oceanografia, nas últimas décadas do século XIX. Não viajou no Terror, no Challenger, no Lightning, no Porcupine, e nem sequer no Miranda, um dos iates usados por J.E. Gray nas suas explorações da Macaronésia. Era um homem do nosso tempo, habituado ao escafandro autónomo, ao batiscafo e a navios modernos. Ele mergulhou de facto, os predecessores só estudaram os animais proveniente das dragagens. Porém, como especialista em peixes e outros grupos animais marinhos, muito do seu trabalho foi idêntico ao dos naturalistas que viajaram nestes navios, daí que me agrade recordá-lo agora.

As imagens pertencem todas à obra "The Depths of the Sea", de C. Wyville Thomson (London, 1873), e dizem respeito a campanhas oceanográficas empreendidas por dois dos navios ingleses mencionados acima, o H.M.S. Lightning em 1868 e o H.S.M. Porcupine em 1869-1870. Algumas representam animais de grande profundidade, como a Hyalonema lusitanica, uma esponja (Porifera). Os animais foram recolhidos nas dragas, portanto a diversa mas considerável profundidade. Isso mostra que espécies do mesmo grupo têm diferente distribuição na vertical oceânica. Por exemplo, as Caprella, os Pantopoda, os caranguejos, as esponjas, etc., vivem nas rochas e nas algas da praia. Uma das imagens mostra um pantópodo, Nymphon abyssorum, cujo nome indica a zona abissal de onde provém. Ora uma das minhas mais vivas recordações de Luiz Saldanha reporta-se a uma expedição a Sesimbra para colheita de invertebrados marinhos, e muito em especial de Pantopoda. São milimétricos. Aliás, como explica C. Wyville Thomson, quanto mais a espécie se afasta do melhor habitat da sua área de distribuição, tanto mais os indivíduos diminuem em número e nas dimensões.

As campanhas oceanográficas tinham objectivos científicos muito concretos, relacionados com necessidades comerciais, militares e de comunicação: visavam o reconhecimento dos fundos oceânicos, com medição de profundidades, temperaturas, etc.. Um dos grandes empreendimentos técnicos a que se ligaram foi o estabelecimento da rede dos cabos submarinos. No campo da biologia, resultou delas a negação da tese abiótica, com a confirmação de que havia vida em regiões muito abaixo daquela a onde chega a luz solar. Esse é um dos temas a que Wyville Thomson dedica atenção na abertura do livro. Na introdução, ele traça as linhas principais da história da oceanografia, do ponto de vista inglês, dominante no período colonial, atendendo ao poder da sua Marinha. Além disso, publicado o livro catorze anos após o aparecimento da "Origem das Espécies", de Darwin, o autor faz também o ponto da situação acerca da mudança do paradigma criacionista para o evolucionista.

Maria Estela Guedes