SUA ASCENDÊNCIA / Saci
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15-07-2003

saci

QUANTO AO SACI, COM O SEU BARRETE FRÍGIO, EIS COMO O CLASSIFICA
ANA MARIA GONÇALVES

O SACI

Nomes comuns: Saci-Cererê, Saci-Trique, Saçurá, Matimpererê, Matintaperera, etc.

Origem Provável: Os primeiros relatos são da Região Sudeste, datando do Século XIX, em Minas e São Paulo, mas em Portugal há relatos de uma entidade semelhante. Este mito não existia no Brasil Colonial.

Entre os Tupinambás, uma ave chamada Matintaperera, com o tempo, passou a se chamar Saci-pererê, e deixou de ser ave para se tornar um caboclinho preto de uma só perna, que aparecia aos viajantes perdidos nas matas.

Também de acordo com a região, ele sofre algumas modificações. Por exemplo, dizem que ele tem as mãos furadas no centro, e que sua maior diversão é jogar uma brasa para o alto para que esta atravesse os furos. Outros dizem que ele faz isso com uma moeda.

Há uma versão que diz que o Caipora é seu Pai.

Dizem também que ele, na verdade eles, um bando de Sacis, costumam se reunir à noite para planejarem as travessuras que vão fazer.

Ele tem o poder de se transformar no que quizer. Assim, ora aparece acompanhado de uma horrível megera, ora sozinho, ora como uma ave

O SACI-PERERÊ - FOLCLORE

Dentre os mitos , o saci foi sempre o que mais me encantou; o ser mágico que podia sumir, virar pé-de-vento (redemoinho). O saci nasce e vive nos bambuzais mas não se pode olhar no oco do bambu para vê-lo pois ele pode soprar a brasa do seu pito no olho e cegar o curioso.

Em nosso folclore , o saci é um negrinho de uma perna só que usa um gorro vermelho e fuma no pito. À noite, o saci cavalga, dando nós e trançando a crina dos cavalos, que sob ele relincham o galopam desabaladamente no pasto.

Segundo Câmara Cascudo, o uso do fumo é bem brasileiro. O Yací Yaterê paraguaio, uruguaio, argentino, não pede fumo e sim fogo ou alimentos.

Dentre os estudos, encontramos várias versões para o saci e ainda registros sobre o saci-ave.

Existem três espécies de saci: trique, saçurá e o pererê. O saci-trique emite um ruído característico ("Trique"); o saçura é um negrinho de olhos vermelhos e o saci-pererê é o mais comum e corresponde às descrições por nós conhecidas.

Segundo as superstições, quando se perde algum objeto, pega-se uma palha e dá-se três nós, pois se está amarrando o "pinto" (pênis) do saci. Enquanto ele não achar o objeto desfaz os nós. Ele logo faz a gente encontrar o que perdeu porque fica com vontade de mijar. (Informação de Amaro de Oliveira Monteiro - São Luís de Paraitinga).

O saci-ave é um pássaro que tem a capacidade de imitar o canto das outras aves confundindo as pessoas e impedindo-as de saber onde ele se encontra. Na tradição indígena, o saci era um mito ornitológico, na forma de um pássaro encantado conhecido por Martim Tapirera. Mais tarde, no sul da Amazonas, ele adquiriu a forma de um menino de uma perna só, fumante inveterado e, como todos os meninos do mundo, praticante de mil travessuras. Com esta figura o saci irradiou-se para todo o Brasil, onde é conhecido por vários outros nomes com os de Martim-Tapirê, Martim-Pereira ou Saci-Cererê. Quando os portugueses vieram ao Brasil, a fama desse mito era grande e ele acabou sendo adotado nas crenças e superstições dos colonizadores, os quais adicionaram um barrete vermelho, tornando-o, também, um negrinho.

O SACI E SUAS CONVERGÊNCIAS PELO MUNDO

Em Portugal o Fradinho da Mão Furada e o Pesadelo têm coberturas idênticas. O Saci brasileiro tem a mão furada como o símile português.

"O Fradinho da Mão Furada entra por alta noite nas alcovas, e pelo buraco da fechadura da porta. Tem na cabeça um barrete encarnado, escarrancha-se à vontade em cima das pessoas e a ele são atribuídos os grandes pesadelos. Só quando a pessoa acorda, é que ele vai embora... O pesadelo é o Diabo que vem com uma carapuça e com uma mão muito pesada. Quando a gente dorme com a barriga para o ar, o pesadelo põe a mão no peito de dorme e não deixa gritar. Se alguém lhe pudesse agarrar na carapaça, ele fugia para o telhado, e era obrigado a dar quanto dinheiro lhe pedissem, enquanto não lhe restituíssem a carapuça." (Tradições Populares de Portugal).

O Pretinho do Barrete Encarnado, possível convergência, costuma aparecer à hora da maior calma; entidade graciosa, fazendo figas e pirraças às crianças para as enraivecer.

Ainda em Portugal encontram-se registros de "um molequinho de bota vermelha", extremamente vivo, irrequieto e malicioso.

No Paraguai encontramos o Yacy-Yaterê que é um homenzinho de cabelos dourados, com as duas pernas, que aparece na hora da "sesta" quando as crianças deveriam estar em casa. Tinha o ofício de fazer se perder as pessoas para levá-las a seu irmão Aó-Aó que era canibal. Ambrosetti informa que o Yacy-Yaterê rapta também as moças e as leva para os montes. O filho desses amores será Yacy-Yaterê também.

O Kobolde é uma espécie de saci alemão, de Curilo da Bretanha, diabinho irrequieto, buliçoso, agitado, atrapalhador do sossego doméstico nas residências onde ele se fixa. Quando é agradado pelos donos da casa, ajuda-os, mas zanga-se com facilidade tornando um inferno essa habitação. Quebra os pratos, queima a comida, abre as torneiras, suja as gavetas de roupa, emporcalha as salas, faz cair, nas horas de servir à mesa, os criados. E o Kobolde ri, deliciado, como o Saci paulista ou mineiro.

Uma característica do Saci é ter uma perna só e agilidade surpreendente. Era um elemento que anunciava o velho Ciapodo, também unípede e velocíssimo. Diziam que o Ciapodo (Skia-podos, sombra-pé) tinha um pé alargado e tão amplo que deitado de costas e erguida a extremidade contra a luz, adormecia à sombra.

Embora com várias convergências com os demais mitos do imaginário popular internacional, o Saci constitui-se um mito pertencente ao imaginário popular brasileiro, com características únicas, produto do processo de aculturação o qual passou nosso povo. O Saci, embora com ramificações e elementos culturais internacionais é um mito bem brasileiro pois não podemos nos esquecer da influência das crendices e superstições de nosso povo.

O BARRETE DO SACI

Um traço característico entre todos os estudos feitos sobre o saci é sem dúvida a presença da carapuça vermelha. Essa carapuça é encantada, faz o saci ficar invisível e todas as suas "forças" vêm dessa carapuça.

A carapuça do saci é o chamado "Pileus Romano". O pileus era uma carapuça de forma oblonga, de cor vermelha. Era o legítimo e mais tradicional símbolo popular de liberdade. É a origem do barrete frígio, tornado posteriormente a imagem da liberdade individual e coletiva, materialização do governo republicano. O Pileus posto na cabeça de um escravo era a libertação. Para o saci, o pileus significaria que ele é livre para importunar a paciência alheia ligado a idéia de encantamento, da força misteriosa dos talismãs. Converge ainda a cor vermelha, sugestionadora e com séculos de significação sagrada.

DUENDE DE UMA PERNA SÓ

Várias tradições sul-americanas apresentam o saci com uma perna só. Seria aleijado o nosso saci ? Comparando com outros mitos de outros povos, encontramos a presença de vários seres unípedes e poderosos do continente. Os Maias da Guatemala (Quiches) tinham o deus Hunrakan e os antigos mexicanos veneravam Tezcatlipoca, ambos com uma perna só. Os dois seriam para Lehmann-Nitsche representados pela constelação de Ursa Maior, origem astral de nosso mito. Crêem que os negros hajam contribuído para a formação atual do Saci, enrolando-o com as semelhanças o Gunucô, fantasma protetor das matas. Mas Gunucô lembra, e muito vagamente, o Curupira. É o responsável, em percentagem séria, pelas aparições noturnas que crescem e minguam o tamanho, surgindo como crianças e como gigantes. Demais, Gunucô é um negro com ambas as pernas, sólidas e velozes.

A perna única do Saci Pererê, de cuja ausência parece lamentar-se muito raramente, é recordação clássica do fabulário europeu, dos seres estranhos como Ciapodos e Trolls.

Para mais informações sobre esta espécie dada como extinta mas recentemente redescoberta, visite o site da Associação Nacional dos Criadores de Saci : http://www.ancsaci.com.br/


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