AZUL É O NOME DA ALEGRIA
Moria Feigning
01-02-2005 www.triplov.org

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IX

 

Brrrrr! Eu já não tinha grande esperança. Mas, de qualquer modo, uma pessoa, mesmo que seja só um Espírito Inquieto, nunca deve desistir dos seus verdadeiros objectivos.

Às vezes, o problema é só saber quais é que são esses objectivos

 

Brrrrr! Mas isso eu sabia!

 

E, por outro lado, se ela – a tal Nuvostra – estivesse em algum lado tinha que ser no Sul. Era o único lugar onde eu ainda não tinha ido.

 

Brrrrr! O “meu” Cometa estava muito atrasado. Brrrrr! Nunca mais passava outra vez.

 

Já pensava que o Cometa se tinha perdido e que eu nunca ia conseguir falar com o Vento Sul quando, de repente:

 

(Ouve-se o som do aspiromóvel.)

 

– É o aspiromóvel. É a Mimi!

Mimi! Mimi! Aqui! Aqui!

Sou eu, o Brr! Vem cá depressa. Brrrrr! Brrrrr!

 

Ela fez uma travagem tão brusca que quase se ia enfiando dentro duma Nuvem.

 

– (Bruxa Mimi – voz irregular com altos e baixos:)  O que é que tu estás aqui a fazer? Não devias estar a ajudar o Pai Natal?

 

Tive que lhe contar tudo o que me tinha acontecido. Ela adooora saber todas as novidades! E com pormenores.

Brrrrr! E o tempo a passar-se! Brrrrr! Eu estava cada vez mais ansioso.

 

– (Bruxa Mimi:)  Está bem! Está bem! Tem calma, não precisas de ficar assim. Eu levo-te ao Vento Sul. Fica-me em caminho. Sobe lá.

 

E lá fomos no aspiromóvel.

 

Na viagem, ela foi-me contando porque é que tinha saído tão à pressa.

 

– (Bruxa Mimi:)  Não são só os Duendes do Pai Natal que estão tristes.

Há uma epidemia de tristeza a alastrar entre os homens e eu também fui chamada de urgência.

Desde que saí da Casa da Árvore que não paro, a fazer encantamentos.

Tu nem imaginas!

Foram requisitados todos os habitantes do mundo sobrenatural: Druidas, Gnomos, Anjos, Mágicos, Elfos, Feiticeiros (até mesmo o Harry Potter), Dragões, Magos, Fadas...

Andamos todos numa roda-viva, cada um de nós a fazer o que pode para conter a tristeza do Mundo.

Até algumas crianças foram atingidas.

 

Brrrrr! Ai, ai! Precisávamos mesmo das Pérolas de Luz.

 

Assim que chegámos ao Sul e eu desci do aspiromóvel, ela foi-se logo embora a toda a velocidade.

Acho que ia para o Iraque.

 

Procurei o Vento Sul mas não soprava nem uma brisa.

O Sol brilhava bem alto e não havia Nuvens a quem eu pudesse perguntar.

Atravessei o céu a Sul em toda a largura e comprimento mas nada.

Onde é que ele se teria metido?

De súbito:

 

(Ouve-se um leve assobio. )

 

Brrrrr!

 

(Põe-se à escuta.)

 

Vinha da Terra. Era mesmo o Vento Sul que passava de mansinho, no deserto.

Fui ter com ele.

 

– O que andas a fazer tão longe dos teus domínios?

 

– (Vento Sul – voz sussurrada:)  Shhh! Shhh! Não faças barulho. Não a acordes. Ela está a dormir.

 

– QUEM?!

 

Brrrrrrr!

Quem é que poderia estar a dormir com o Sol tão alto e um dia tão bonito?

 

– (Vento Sul:) Aquela que tu procuras. A Nuvostra de Luz.

 

Eu nem perguntei como é que ele sabia o que eu procurava. Os Ventos são tão tagarelas. Brrrrr! Algum dos seus irmãos já lhe devia ter dito.

 

– Brrrrr! Onde é que ela está? Onde é que ela está?

 

Eu tremia com medo de estar novamente enganado.

Só ia descansar quando visse as Pérolas de Luz.

 

– (Vento Sul:) Não posso levar-te até ela. Está muito fraca. Quase completamente desfeita. Não quer ver ninguém. Quando cá chegou, pediu-me que a ajudasse a despertar os Espíritos da Natureza. Para que eles fizessem a água de que ela precisa para sobreviver. Mas ainda não consegui encontrá-los e já procurei em todo o lado.  É por isso que eu agora estou aqui, no deserto, junto da Terra. É o único lugar em que ainda não procurei.

 

– Tu ju... ju... juras... tu juras... tu juras-me que as suas gotas são Pérolas de Luz? Das que absorvem a luz do Sol? Das que ficam redondas e quando caem sobre a Terra iluminam a Alma dos homens e fazem com que eles fiquem felizes? E o problema é falta de água? Eu vou procurar contigo.

 

– (Vento Sul, com uma voz muito triste:) Não é uma água qualquer, sabes? E ela está quase a desaparecer deste Mundo. Não me parece que sobreviva nem mais um dia...

 

Vai sobreviver. Tem que sobreviver! Eu vou procurar e vou achar essa água. Diz-me o que devo fazer.

 

Foi-se embora!

Eu estava completamente desorientado. Mas tinha que fazer alguma coisa. O Vento Sul tinha dito que era preciso acordar os Espíritos da Natureza...

Brrrrr! Onde é que eles estariam?

 

Com toda a energia que me restava percorri o deserto: perguntei aos cactos, chamei os riachos subterrâneos, pedi às flores selvagens, supliquei às ervas, implorei até mesmo às pedras mas nada, nem uma só gota de água saía da Terra.

 

A noite caiu e eu estava tão cansado que já não era capaz de procurar.

 

Encostei-me a uma duna e chorei,.

 

Chorei pela Nuvostra de Luz, chorei pelos meninos que não iam ter brinquedos, chorei pela tristeza do Mundo.

Chorei, chorei, chorei tanto que nem dei pelo tempo a passar.