NELSON BOGGIO

Fábrica do Vidro

ÍNDICE GERAL

Segundo acto                          

Cena VI

(Casa de um dos camponeses).

Primeiro camponês: Perto dos fornos à entrada do bosque, entre as bifurcações que contornam os primeiros limoeiros. Estava a dormir.  

Segundo: Estava de costas voltadas? 

Primeiro: Havia qualquer coisa.  

Segundo: Por razões que desconhecemos.  

Primeiro: As sombras não se mexem. Ficam estendidas à espera.  

Segundo: O balde. Onde é que está o balde? Deixei-o lá.  

Primeiro: Mal me consegui mexer. As pernas eram caniços a partir.  

Segundo. Lembrei-me de um trilho. Um caminho secreto.  

Primeiro: Afastei-me, não fosse acordar.  

Segundo: Se tivesse voltado a cabeça, teria sido pior.  

Primeiro: Era dar-lhe importância.  

Segundo: A mim enganou-me de tal forma que julguei tratar-se de um homem. Um homem uma ova. Mas era parecido com um de nós.  

Primeiro: Tinha a tromba cheia de sangue.  

Segundo: Não é monstro nenhum.  

Primeiro: Como assim?

Segundo: É um homem.  

Primeiro: Um homem? No seu perfeito juízo.  

Segundo: Morto.  

Primeiro: Morto? Não tinha pensado nisso. Ainda bem. Mas como sabe?  

Segundo: É o isco perfeito.  

Primeiro: Mas ninguém se aproxima de um homem sabendo que está morto.  

Segundo: Bem, vamos chamar os outros.                                       

Nelson Boggio nasceu em Proença-a-Nova, no distrito de Castelo Branco. Aos 16 anos ingressa na escola profissional ACE no Porto onde teve as sua primeiras experiências teatrais com  o encenador Rogério de Carvalho, com os actores e professores João Paulo Costa e António Capelo, entre outros. Enquanto aluno da escola participou como figurante na peça de teatro O Coriolano, de Shakespeare, dirigida por Jorge Silva Melo. Entrou em peças encenadas pela escola. Desde Gil Vicente com direcção de António Capelo, a peças como Os sete pecados mortais dos pequenos burgueses, de Brecht com Kuniaki Ida com o qual desenvolve também a máscara neutra. Tem também ateliers à volta do Clown com Alan Richardson.  Aos dezanove anos entra para a Escola Superior de Teatro e Cinema, onde volta a reencontrar o professor e encenador Rogério de Carvalho, e onde começa pela primeira vez a trabalhar em cena os textos clássicos gregos. Tem também como professores o encenador José Peixoto, o Professor Luca Aprea em corpo, o professor Francisco Salgado, Álvaro Correia, João Mota, Carlos J. Pessoa, com o qual trabalhou três peças de teatro na sua companhia O teatro da garagem.  Participou na peça Os Anjos de Teolinda Gersão a convite do professor e encenador João Brites, em Palmela. Participou como actor na peça “Les Bonnes/ As Criadas” de Jean Genet com encenação de Paulo Alexandre Lage, em Julho de 2005 na Casa Conveniente em Lisboa.