ROMILDO
SANT'ANNA

Liberdade
É Azul

 

 









As crónicas de Romildo Sant'Anna, bem conhecidas dos nossos internautas, por terem sido editadas primeiramente no TriploV, no Diário da Região, de São José do Rio Preto (www.diarioweb.com.br) e no Alô Música (www.alomusica.com.br), acabam de ser publicadas em livro pela Arte & Ciência Editora (São Paulo, 2003, 318 págs). "Liberdade é azul - Crônicas da vida, da morte e da arte" foi o título escolhido para definir uma colectânea de textos que, orientando-se na maior parte para a cena cultural - música, cinema, literatura, artes visuais - tem de facto na liberdade uma mira real.

O autor, sempre muito atento à questão social, à injustiça que reina num país tão grande como rico, mas em que a riqueza só beneficia uma minoria de privilegiados, atento também às condicionantes políticas que geram ou permitem a má distribuição dos bens, precisa mesmo de liberdade para exprimir o que pensa, uma vez que não se acomoda facilmente ao status quo.

Porém há outras dimensões na liberdade, que a tornam azul, cor do infinito. Uma delas é a liberdade criadora de que fala o prefaciador, Antônio Manuel dos Santos Silva, ao relevar as qualidades específicas da crónica como género literário e como arte nas mãos de Romildo Sant'Anna. Certamente que sim, que o autor é um artista capaz de congregar muitos leitores à mesa da sua conversação, e disso o TriploV tem a prova, sabendo que o site de Romildo Sant'Anna é um dos mais visitados pela nossa audiência.

E há ainda outra dimensão da liberdade, a utopia, essa liberdade que já não é mira, sim alvo projectado na distância, no azul rival do verde que espera do futuro a mudança que dispense as palavras críticas, e essa liberdade utópica move o artista, não tanto já no espaço da criação pura, antes no do legítimo exercício de cidadania que incumbe a cada um. Na crónica "Liberdade é azul", em linha no TriploV, a escolhida para cobrir todas as outras com o seu manto simbólico, Romildo Sant'Anna considera metafísico esse azul da pintura sacra, fá-lo remontar mesmo à origem, ao Fiat lux bíblico, ou à lenda do pássaro azul, símbolo da felicidade inatingível. É preciso sonhar, mas sobretudo é preciso sonharmos colectivamente um grande sonho azul, para a sua energia arredar para os lados a obscuridade do cimento mental que nos empareda, pois é esse o causador da infelicidade do planeta.

Maria Estela Guedes

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Romildo Sant'Anna, escritor e jornalista, é professor do curso de pós-graduação em "Comunicação" da Unimar - Universidade de Marílía, comentarista do jornal TEM Notícias - 2" edição, da TV TEM (Rede Globo) e curador do Museu de Arte Primitivista 'José Antônio da Silva' e Pinacoteca de São José do Rio Preto. Como escritor, ensaísta e crítico de arte, diretor de cinema e teatro, recebeu mais de 40 prêmios nacionais e internacionais. Mestre e Doutor pela USP e Livre-docente pela UNESP, é assessor científico da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Foi sub-secretário regional da SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. A crônica "Naïfs do Brasil", que figura neste livro, é abonadora do verbete "naïf" do Novo Dicionário Aurélio Século XXI.