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::::::::::::::::::::Pedro Proença::::
O IRRECONHECÍVEL
Soneto VIII
 

Venturosos os olhares que abraçam a gentil fronte da minha amada quando esta se olha ao espelho.

Hécate semeia na encruzilhada, como se cada decisão fosse uma caraça imperfeita e infernal.

O brilho dos olhares, por mais inoperante que seja, encorpa-nos.

O arraial erótico torna-nos ingremes quer perante as ternas evidências quer perante a diletante obscuridade.

Se a substância maçadora da minha carne for pensamento, então não há distância sexual entre mim e o mundo – a vida é uma orgia a cada momento.

As furias injuriosas forjam maneiras que as arrefecem.

Remorsos remotos? Paraísos abortados?

Toda a matéria busca dosseis para que em si mesma se transforme.

Porque o entendimento é um limbo que tem qualquer coisa de inclinadamente homérico – um mar vinhoso que encanta ou mata e uma terra que sabe acolher naufragos.

O espírito pilha mas não mata.

O mundo é pirataria entre divindades.

Há uma palmeira que me desenha, como se todos fossemos emblemas astutos.

Manipulas os meus anseios retardando a eternidade.

Insígnias de recatos.

O camelo quer que eu renuncie, isto é, que me entregue à reflexão como a uma genuflexão, mas prefiro flectir-me em todos os sentidos, não me limitando nem a um único exercicio nem a uma febre submissamente erótica.