PSICOMORFILUM / XANGAIADA CHIC-CHOC / Pic-nic sikh
PEDRO PROENÇA (ROMANCE E PINTURAS)
08-10-2003 www.triplov.com

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pic_nic


(S)

Queimou o cigarro no travão, deu a curva e parou. Um ruído seco do motor na noite abafada. Umas pernas altas e bem proporcionadas chapinhavam nos bordos do parque de estacionamento privativo do hotel. O ar estava francamente húmido, pegajoso quase. A cabine telefónica mal iluminada e vazia. Os fios cortados. Três sinalizações definiam o lugar. Desafiavam-no talvez. Queimou outro cigarro, desta vez na sola do sapato, simulando um gesto com um toque bem feminino. Aquilo cheirava pessimamente. Os postes inclinavam-se ligeiramente para todos os lados. A lua em quarto minguante. As matrículas reluziam como o fato de um ilusionista depois de escovado. E mais adiante um montão de lixo. Deu uma volta à praça para se colocar num ponto de melhor visão e mais discreto. As pernas longas e púberes espelhavam-se no retrovisor. Ele aproximou uma lupa para ver melhor depois de a ter desembaciado. De repente dois focos de luz surgiram na estrada. A garota comia um sorvete. Chupava-o deliciada. E ficou ainda com as pernas mais bem iluminadas. Porque teria que fazer aquilo? Perguntou-se a si.

Os automóveis estavam parados nas estradas do norte e os automóveis estavam parados nas estradas do sul. Para onde quer que tu vás há sempre automóveis parados.

A vida nocturna na estrada é um monótono pestanejar de faróis, de brilhos escuros que surgem para lá da estrada e que despertam o mistério.

Depois bocejou. Sacudiu o pó dos estofos. Pôs em marcha o veículo e seguiu.