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Pedro Proença
VOLTA AO MUNDO
NUM CROCODILO
 

Ò mãe, é verdade que os provérbios servem para humilhar?

A indecisão é como as mãos por lavar num país onde falta água.

Um afilhado é um desperdício que se torna num vício das tias.

Até as folhas lutam para se deixarem comer pelo elefante.

O arrependimento é a parte mais burocrática do pecado.

Critique o próximo antes que ele lhe queira lavar os pés.

Aquele que escuta a terra está a tentar não ficar surdo.

O amigo é um inimigo atrasado.

Aquele que encontra uma fortuna no mar tenta nadar em terra.

Deus vende o conhecimento na lota.

Para um imbecil até a decisão mais segura é um risco.

Para descansar da família nada melhor que uma evasão depois do jantar.

Quando a ninfa vai ao dentista é para ler uma revista.

Uma verdade belga vem sempre molhada.

Aqueles que insistem no sonho são como aborígenes ao computador.

A experiência tem-se baldado às aulas da natureza.

O bósnio que há em si ainda se tornará no canadiano que há em cada rena.

O amor ao próximo encontra-se consigo na repartição de finanças.

A sabedoria chinesa gosta muito da palavra caminho.

O que leva o jardim no bolso já se cansou de ser Buda.

Nas olimpíadas da felicidade onde é que estão os tigres de papel?

A publicidade é como um cão que fala coreano.

A demagogia é mais verdadeira numa má tradução.

A tinta torna-se pálida quando a memória se repete.

Um morto que ladre a um cão não morde.

Os franceses fazem minetes à lua.

As memórias em cinemascope são indianas.

O incómodo da incerteza é compensado pela agilidade perante o ridículo.

Aquele que se ouve prepara-se para se esquecer.

Com vontade e impaciência todos nos tornamos nuns belos Kafkas.

Teorias de seda, práticas de cristal.

Você fala verdade mas tem um perna na minha cunhada.

Quando um sueco se ri até as hienas cantam o fado.

Os que querem morrer na obscuridade já puseram deus no prego.

É mais fácil lavar os dentes do que o coração.

Os provérbios tornam o mundo irresponsável.

A senilidade é a falta de sentido de oportunidade.

Ter orelhas para o negócio é o mesmo que ter faro para as amantes.

Os advogados e os pintores mudam mais depressa os honorários do que as cores.

Deus tem crédito no seminário mas não na mercearia.

A resposta mais curta é a da pescadinha de rabo na boca.

A sorte dos ausentes é não estarem presentes.

O inglês tem remos na língua para fugir à sua pátria.

Uma névoa de whiskye é uma oportunidade para fazer fortuna.

Quem quer uma rosa tem que fintar as moscas.

O crocodilo coxo é amigo do rinoceronte cego.

Há homens, que por mais adiantados que estejam, vão atrás de si mesmos.

As convicções de hoje são inúteis amanhã.

O alemão ama o Todo como uma vaca de nevoeiro.

O alfaiate só ficou a ganhar com a expulsão do Paraíso.

A boa saúde dá maus religiosos.

A má saúde devotos oportunistas.

O elogio é uma forma simpática de envenenamento.

Se gostas de do deserto torna-te um iconoclasta!

O preço é a espuma do prazer.

Quem foge de águas imóveis é porque ama as tempestades.

Quem não caça com o predador caça com a presa.

Aranhas e sogras são mais temíveis que um leão esfomeado.

Uma boa esposa em má hora não ajuda a cumprir a Tora.

O que lambe as botas nunca poderá morder nelas.

Quem vê Deus nos pormenores não reconhece a própria cabeça no talho.

O silêncio é o substituto mais eficaz da estupidez.

O último a humilhar-se é burro!

Até o desgaste se desgasta.

A maldade implica um certo prazer no detalhe.

O deus dá as porcas, o diabo os parafusos.

As dentaduras dos velhos são fáceis de arrancar.

Pão que canta arranha na garganta.

O que é bom é feito com dom.

Uma raposa com pressa também vai na conversa.

A dissimulação com o tempo torna-se dogma.

Deve desconfiar de mim, mas não se atreva a olhar para si.

A facilidade em aprender só torna os mestres medíocres.

É mais fácil apanhar um orador pela língua do que um canibal.

O sono até curva o papa.

Homem que não descansa em acção não descansa no colchão.

A nobreza a sério está debaixo das unhas do império.

A dignidade também se tira com um saca-rolhas.

A língua indaga o que os olhos não vêem.

O bom irlandês prefere discutir com a cerveja do que alinhar numa canja.

Os juros do amor não têm taxas.

As juras do amor só têm baixas.

O umbigo é o melhor amigo da religião.

O Outono é o padrasto do Carnaval.

Pode não ser verdadeiro, mas dá muito dinheiro.

Conselho espanhol não serve a caracol.

Corvo que dirija navio não passa além do rio.

O latim acabará por nos aprender.

A prova é entre o sexo e a sopa.

Os deuses não perdem a moda.

O riso do crocodilo é metade da refeição.

O tempo dá conselho muito velho.

Mesmo o artista mais vigarista merece uma família feliz.

Quando a presa ri do predador o filme perde terror.

Até o bravo traduz em gritês!

Se a fortuna o encontrar não compre geleia no bazar.

Se a visita for um português, ponha-se a andar outra vez.

Para cozinhar uma mosca é preciso mais do que água e amor de mãe.

O silêncio da vizinhança tem uniforme.