http://triplov.org

Pedro Proença:

UNLESSNESS

Lisboa . Janeiro . 2007

INDEX

Unlessness I

Unlessness III

Caros amigos, amigas, amigos dos amigos e amigas das amigas:

Inauguro quarta-feira 17 de Janeiro, quarta-feira às 22 na Lisboa 20 Arte Contemporânea, Rua Tenente Ferreira Durão 18-B mais uma exposição de «scannings» chamada  UNLESSNESS

Unlessness? O palavrão define o meu dispositivo produtivo no que (acho, ai pois acho!) que tenho de melhorzinho – uma lógica refutativa-alternativa. O neo-logismo, que responde a outro neologismo do Beckett (é assim que se escreve?) para «traduzir» o seu texto francês «sans» no inglês «lessness» não é assim tão novo (filtrado por um texto de Cioran sobre a impossibilidade de retraduzir esse termo em francês), e após pesquisa na net, encontrei, entre meia dúzia de registos, o de uma exposição de um boche, cujo nome já não me lembro, com a qual me devo ter cruzado no já distante aninho de 1988, na bienal de Veneza, onde também na altura também eu expunha.

E o que é que vai na exposição? Eu chamo-lhe scannings, que prefiro, de longe, ao luso termo «digitalizações» – temíveis capturas de imagens que por acaso se encontram sobre uma superfície deste aparelhozinho que hoje faz parte das nossas mobilias informáticas. Comecei a fazer experiências neste medium com transparências e desenhos em Julho de 2005 para enviar uns e-mails aos amigos sob o pretexto das férias de verão. Desenvolvi algumas habilidades nesse dominio: fiz um herbário que acabou on-line; um ensaio desvairado e ilustrado que foi exposto na pequena galeria da livraria da Assirio e Alvim, e também umas  imagens em grande formato que andaram a circular pelas feiras de arte. Agora, incitado pelo Miguel Nabinho concentrei-me mais nos scannings, e aproveitei as melhorias tecnológicas no domínio (uma glamourosa profundidade de campo que nos oferece meandros fenomenológicos (ò palavrão das tralhas filosóficas!) com uma acuidade impressionante e a habital e fria ironia dos dispositivos informáticos – tão zen, tão metafísica-patafísica, tão despreendidamente wharholiana!).

No ínicio parecia-me que esta tecnologia estava condenada a uma estética do close-up e da foto-montagem (que tão brilhantemente foi sintetizada em pintura pelo James Rosenquist), mas começaram a surgir-me espaços mais volumétricos, um tanto ou quanto caravaggescos, ou semi-volumétricos, como nos trompe-l’oiel mais objectuais. Há algo de delicioso e experimental na maneira como manipulamos as coisas e os corpos que «metemos» no scanner. Sinto-me muito próximo de Kurt Schwitterz no desejo de apreender e juntar tanta porcaria. Por outro lado há nalgumas imagens uma espécie de museologia nostálgica e portátil como em Duchamp e Joseph Cornell – vou a casa das pessoas e desmonto as suas prateleiras que já são em si pequenos museus (para mim, que não tenho nenhum objecto em casa para fazer vista!) e remonto-os quase aleatóriamente. Sinto-me também próximo de Cage na sobreacumulação, que é outra forma, mais bela e impura, de nomear o intersticial e o vazio – as sobreabundâncias do mundo e os seus exageros tornaram-se ligeiras e fortuitas. Depois há toda uma tradição da pintura e da fotografia que regressa como fantasma e a que apetece dar respostas: das pinturas de Pompeia a Man Ray,  de Chardin a John Coplans, etc.. Se são clichês ou pastiches, não sei. Que estes nomes não vos assustem, meus amigos, pois se os cito não o faço como referências pomposas que convidam a embaciar as lentes com que se possam ler estes trabalhos, mas se deles abuso é porque são nomes de pessoas que produziram coisas que me estimularam nestes trabalhitos.

 obviamente toda uma teoria em marcha que borbulha nalgumas frazes coladas e que se faz contra e com (de encontro) a fotografia e a pintura. Alguns aforismos podem ser encontrados em satisfatório português e mau inglês num dos meus 10 blogs chamdo sublimaquia (o mais conservador e «reaccionário» deles), ver em http://sublimaquia.blogspot.com/

Devo um impressionante, custoso e laboratorioso trabalho de edição e impressão à Margarida Gouveia que em muito melhorou o «produto final» à custa de muitas horas em photoshop a limpar e a maquilhar as imagens, e também de não deixar passar algumas impressões mais badalhocas. Devo paciência e disponibilidade à minha familia (à Joana, ao Eduardo e à Inês), cujos objectos arranco das gavetas abusando de alguma «intimidade». É certo que há muita comédia e dissimulação nestas re-apresentações. Sinto que o mundo das coisas é delicioso e excitante. Este trabalho afinou algumas das minhas muitas investigações na pintura e no desenho, tornando-as menos inúteis, e ensinou-me a olhar de múltiplos modos e com uma atenção redobrada e uma curiosidade ocasional, embora um tanto ou quanto especiosa.

Página principal - Cibercultura - Pedro Proença - Naturalismo - Jardins - Teatro - Zoo - Poesia - Letras
.