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Pedro Proença......

DO AMOR E MUITO MAIS OU O ASSENHORAMENTO DOS SONETOS SEGUNDO SONIANTONIA & SANDRALEXANDRA : INDEX

JARDINAGENS CIUMENTAS

A natureza aprimora a beleza com uma escassez de verdade – e há nisso algo excitante.

Transfere as tuas pausas para músicas menos breves.

Há maus versos que garantem a esperança.

Cada mudança implica uma dura luta com a imobilidade.

É o tabu que formata o desejo e que deixa espuma nos meus sonhos tropicais.

As sombras gostam de macaquear os pecados da vista.

São os trilos do espírito que nos ensadecem.

A violenta ternura dos juramentos é fabricada pelo ciume.

Um amor aljofarado cujos panejamentos contribuem para uma espécie de derrota da vontade.

Não é desejo o que brandamente deseja, e o que não abarca todos os peitos – porque no peito é a alma que se ageita, não no sexo onde se esvai a fome, fácilmente saldável.

Uma arte não é arte se não nos açoita em cada parte.

E para este pecado demando remédios – ele está assim como que entranhado nas vísceras do meu coração.

Rectificas as metafísicas ao acordeão porque julgas ter a verdade como cliente.

Ao possuir o devir como um deus, rebaixa-se a um nível onde todos os valores, porque intransmutáveis, definham.

Abasteço-me da ironia que reaviva a ira e que se sublima na adversidade a qualquer conversão.

Somos criaturas psicológicas, e precisamos de cacau como combustível para disfarçar as iniquidades que o amor provoca.

Tu que te recatas nos elogios pintados de seres um pretexto, deixa-te embalar na beleza estranha que a todos ameaça.

A mão injuriosa do tempo esmaga e remexe não só as evidências mas até as intimidades mais ignoradas pelos seus sujeitos – há permanentemente uma inclemente desapropriação.

Sítios do Autor

http://www.sandraysonia.blogspot.com/ 
http://juliorato.blogspot.com/ 
http://www.pierredelalande.blogspot.com/
http://www.tantricgangster.blogspot.com/
http://www.budonga.blogspot.com/
http://www.renatoornato.blogspot.com/
PEDRO PROENÇA. Nascido por Angola (Lubango) pouco depois de rebentar a guerra (1962), veio para Lisboa em meados do ano seguinte, isso não impedindo porém que posteriormente jornalistas lhe tenham descoberto «nostalgias» de Áfricas. Fez-se rapaz e homem por Lisboa, meteu-se nas artes e tem andado em galantes exposições um pouco por todo o mundo, com incidência particular no que lhe é mais próximo. O verdadeiro curriculum oficial mostra muita coisa acumulada com alguma glória e devota palha. Tem ilustrado livros para criancinhas e não só, não porque lhe tenha dado ganas para isso, mas porque amigos editores lhe imploraram. Também publicou uma estória entre as muitas de sua lavra (THE GREAT TANTRIC GANGSTER, Fenda, em edição que, por estranhos motivos, foi retirada de circulação), um livro muito experimental de ensaios (A ARTE AO MICROSCÓPIO, também da Fenda) e um grosso livro de poemas comentados com imagens (O HOMEM BATATA, editado pelo Parque das Nações). Compõe, mediocramente, musica no seu computador, e é um yogui quase consumado.
 

Pedro Proença. Born Lubango, Angola, 1962. With an exhibition in the Roma e Pavia Gallery in Oporto, at the end of the 80's he begins, a cycle of installations which have continued until today, and make up a work in progress. These works, which use such poor materials as indian ink drawings on paper, are structured according to previous architectures or constructions which emphasise the multiplication of the dynamic planes of framing. In this decade he has exhibited paintings which complement these installations, aiming at serialising the "plurality of the subject", and permanently responding to questions in the artistic field (current ones or uncurrent ones), to which he cannot remain passive. As it is known that he is also engaged in a literary activity which is beginning to be published, his works should be seen as a coming-and-going within this controversial space which confronts images with words, either as "allegorical appearances" or as "narrative possibilities".