Procurar imagens
     
Procurar textos
 

 

 

 

 


 

 

JOSÉ AFONSO
ZECA AFONSO

JOSÉ AFONSO
Antologia Mínima, por Rui Mendes
In Cantares
Por aquele caminho

Por aquele caminho

De alegria escrava

Vai um caminheiro

Com sol nas espáduas

 

Ganha o seu sustento

De plantar milho

Aquece-o a chama

Dum poder antigo

 

Leva o solitário

Sob os pés marcado

Um rasto de sangue

De sangue lavado

 

Levanta-se o vento

Levanta-se a mágoa

Soltam-se as esporas

Duma antiga chaga

 

Mas tudo no rosto

De negro nascido

Indica que o negro

É um espectro vivo

 

Quem lhe dá guarida

Mostra-lhe a pintura

Duma cor que valha

Para a sepultura

 

Não de mão beijada

Para que não viva

Nele toda a raiva

Dessa dor antiga

 

Falta ao caminheiro

Dentro da algibeira

Um grão de semente

D’outra sementeira

 

O sol vem primeiro

Grande como um sino

Pensa o caminheiro

Que já foi menino